25 julho, 2008

O Buraco

Quando cheguei à casa da minha mãe com malas na mão e respiração ofegante, não pude conter o olhar de impulso para o canto da sala de jantar, ao lado do armário de madeira. Olhei e virei a face num ímpeto de quase dor, ou dor acostumada e disse bem rápido: saudade da Ciça.
Minha cachorrinha morreu um mês antes de me mudar para a Inglaterra, após viver por 13 anos ao meu lado. Para mim era difícil imaginar a minha vida sem ela, pois ela fazia parte de exata metade da minha história.
A Ciça era uma shnauzer cheia de personalidade, doce, linda e cinzinha. Morreu velhinha...
Fechou um ciclo na minha vida e doeu muito. No dia seguinte à sua morte eu caminhei (por coincidência) pela rua em que moramos durante 10 anos de nossas vidas e os 10 primeiros anos da vida dela. O prédio em que morávamos sofria uma reforma nesse dia em que passei, exalando uma enorme fumaça de poeira marrom. Ainda lembro dos meus pés bambeando, de me sentar à porta do prédio vizinho, fechar os olhos e ser tomada pela poeira.
Poeira da vida e dos ciclos que se fecham. Alguns ficam mais no âmbito físico que emocional, pois não pude me acostumar a ausência da Ciça, porque depois de sua morte toda a rotina mudou e tudo era sem ela, sem todo mundo e sem o Brasil.
Agora, a todo momento, a vejo passar, como que em milésimos de segundos. A vejo tomar sol na area de serviço, me receber quando chego da rua e a espreguiçar-se na cama.
Tem certas coisas que a poeira não carrega, talvez só levante e renove, mas não carrega. Fica pra gente, para sempre.

Nenhum comentário: