23 fevereiro, 2012

Todo dia

Amanhece. Saudamos o sol e entre tropeços espremo as laranjas, coloco-lhe chapéu, calça e camiseta. No carrinho vamos quicando pelas calçadas emburacadas, desviando dos degraus, ouvindo bem-te-vis ao longe. Você pequenina segura com as duas mãos no carrinho e procura no chão cocô de cachorro, pegada de passarinho, água que desce pela rua. E para tudo quer mais. Chegamos ao parque e saudamos borboletas que, também vem nos saudar, voam perto do nosso rosto, e você pisca alegre, gargalha. Dizemos oi para as flores, você as quer cheirar, se coloca bem perto delas, e com uma caretinha deliciosa funga seu cheiro por muito tempo, o quanto eu ali lhe deixar. As acaricia. As respeita. Então lhe conto que uma abelha virá buscar o pozinho para fazer mel, aquele mesmo que as frutinhas não muito maduras para você irá adoçar. Então descemos para areia e suas mãos se abrem inteiras na umidez profunda das pedras e terra fina, junta montinhos, espalha outros tantos e pede que lhe tire os sapatos, esparrama seus pés, pronuncia o nome das coisas, pé, chão, bom. Vê uma formiga e se joga de cara no chão com milhões de beijinhos estalados e carinhosos. Aprendemos juntas a saudar o dia e celebrar com amor todas as coisas. Na volta passarinho voa pertinho, cachorro vem cheirar. Em casa o banho lava a terra, refresca a alma e no meu peito você descansa. Essas são nossas manhãs.