29 dezembro, 2009

A Virada

Topei com meu dedo mindinho do pé na quina da parede da loja que trabalho. Quebrei o dedo, que na hora ficou praticamente pendurado pro lado, uma imagem bem grotesca e que eu num ímpeto quase animal voltei pro lugar, no calor da dor e do susto. Mas está quebrado, não tem jeito. Agora é deixar imobilizado por 2 semanas e tomar cuidado.

Como foi o pé esquerdo agora sei que entro definitivamente em 2010 com o PÉ DIREITO. To até desconfiando que foi por isso que aconteceu. Além de ser um grito do meu corpo pedindo um pouco de pausa.

Então que venha a renovação do ano, do ciclo, da vida! Que é bom demais marcar data pra recomeçar e reciclar os pensamentos e a energia.

27 dezembro, 2009

Flutuando

Tenho preguiça do tédio da vida. Ela,sempre se apresentando como uma montanha russsa. Dizemos temer a descida rápida e vertical, ou o minuto anterior a ela, mas a verdade é que quando o carro toca numa direção sempre plana isso aborrece de tal forma a não sentirmos nada a não ser tédio. Uma amiga me disse que o único momento em que ela sente a solidão de fato é quando está vazia de objetivos. Isso me fez pensar na tal linha plana do carrinho da montanha russa, no fim da vida, na velhice e na solidão. A vida é estranha, isso sabemos, porque somos muito estranhos. Adoro o tal segundo antes da descida mas também detesto porque as vezes acho que não cabe mais em mim tanta emoção, e quando penso em ter filhos...ah que medo que dá. Medo do demasiado humano que desejo para ele. E que sei que será.

13 dezembro, 2009

o sol

Tive um sonho lindo.E nele estava minha vó Julieta. Eu balançava os braços como um pássaro subindo em direção aos céus e dizia a mim mesma e ao vento sobre as coisas em que acreditava e logo depois estávamos eu e ela frente a frente e ela me dizia que sabia que eu acreditava na comunhão da natureza e do homem e que ela muito se orgulhava de mim e que nunca iria se esquecer que eu a pedi, um dia, que me explicasse o azul. Depois a via de costas indo embora.
Foi mais ou menos assim porque isso já tem alguns dias. Mas foi bom.
Acordei em um céu azul nessa cidade bonita, e fui trabalhar rodeada de borboletas amarelas que voavam na minha rua.
Alegre. E certa de que ela está bem. E de que a vida é, também, um mistério doce e profundamente belo.

08 dezembro, 2009

Carta aos céus

Como queria que esse blog alcançasse aquela medida do universo infinita aonde vão os que morrem. Como queria acreditar no Paraíso com anjos com cornetas e borboletas coloridas, mas só consigo crer na energia e no pensamento e no amor e na memória.
Vó querida como queria crer em espiritos como fazem os espiritas ou em vida eterna como fazem os católicos. A mim só cabe meu amor por ti. E uma gratidão tão enorme, tão enorme que se é real qualquer uma dessas crenças você já ouviu o meu muito obrigada hoje.
Obrigada por ser minha avó e me proporcionar abraço de vó, doce de vó, casa de vó, presença de vó, quando minhas duas avós de sangue já haviam partido. Obrigada por ser mãe da minha mãe e irmã do meu avô. Ele está um pouco zonzo com sua partida vó. Mas vai ficar bem.
Obrigada pelo nome herdado, pelos brinquedos sonhados, pelos segredos partilhados, por agarrar meu braço quando eu entrava na igreja no dia do meu casamento e dizer emocionada o quanto me amava.
Saiba que sempre te amei e amarei e meus filhos saberão de você e suas belezas fazendo te eterna.
Você não morrerá nunca vó.
E quanto a essa matemática louca de partir no mesmo dia de sua grande amiga, minha vó Amanda, quem é que explica? Mas se alguns desses homens de cá estão certos eu cá estou certa de que escolheram essa data em segredo para se abraçarem novamente. Avós de mesmos netos escolheram o mesmo dia de partida.
Com diferença de 25 anos entre elas, para que não ficássemos tão desolados.
Descanse minha avó, descanse. Que aqui, hoje, o céu e eu choramos de saudade.

23 novembro, 2009

duas questões. ou uma.

O que nos faz é a nossa memória? Ou, o que nos faz vivos é a memória?

17 novembro, 2009

tropeços

É engraçado demais a palavra e o que há por detrás dela. Assim como brinco de falar só e me surpreendo com as declarações simples e profundas que saem da minha boca num improviso engraçado e sincero, também me divirto com seus sentidos duplos e sua teatralidade e verdade, mais verdadeira que nunca porque não é premeditada, planejada sequer sentida na razão.
Hoje tive um dia de expectativas, e na verdade foi último dia de "folga", comi até dizer chega no almoço e ao fim olhei para o Leo e disse:

Dentro de mim não cabe nem mais um suspiro.

E suspirei.

Involuntariamente.

Talvez;
Adoro quando a gente se revela sem pensar.
Amanhã começa uma nova rotina.

11 novembro, 2009

preciosidades sobre o silêncio

“ A minha vida deveria ser como a minha sinfonia, uma nota contínua, livre do início ao fim, ligada eternamente ao próprio tempo porque este não tem início nem fim…”

Ives Klein

08 novembro, 2009

volver a los 17

Minha vida tem trilha sonora. As vezes somente sons que crio na minha mente a partir da música que é a vida em si, as vezes com músicas que fizeram parte forte de determinados momentos. Meu primeiro ano em Londres foi essa música. Ouvia muito, insistentemente. Ela se tornou aquele primeiro ano, a música em si representa todos aqueles sentimentos, cheiros e descobertas, é incrível como se pode sintetizar toda uma experiência em um som. E ao ouvi-la hoje, quis rever as fotos, nostalgica que sou, e dói lá no fundo da alma. Dor de alegria. O lado alegre da saudade, da vida que se renova a cada minuto. E assim sigo.





moilondon

02 novembro, 2009

Feriado de sol!

Dia de céu azul profundo. Já no caminho para a praia 30 borboletas dançavam no ar. Pelo caminho a lagoa lotada, pessoas a patinar e andar de bicileta. Na praia aviões anunciavam peça de teatro, e o sol de tão quente não me deixou por lá tardar, só fiquei uma hora e pra casa vim. Preparei uma comida saudavel e deliciosa, guaca, feijão, tabule arroz integral e soja e agora...agora deitada com a janela escancarada, a olhar pra esse céu que nos faz sentir vivos.
Feliz. Profundamente feliz. Seria isso pleonasmo? Felicidade já deve ser em si o estado profundo da alegria.

31 outubro, 2009

leves divagações vãs...pra passar o tempo

Sempre falo só. Principalmente em inglês para não enferrujar; e me surpreendo falando sem pensar, como de improviso, agonias da minha alma. Nem tudo que estamos pensando no exato momento é o que de verdade estamos a pensar. Por isso as vezes solto palavras sem o intuito de provocá-las e espanto me! ok! Não estava a pensar isso, mas estou a sentir. Hoje soltei um: "And I am here waiting..."a vida é a arte do encontro mas também é a arte da espera.
Hoje coloquei biquíni e vestido pro sol e desci para ir ver o mar, mas quando fui fechar a janela para sair, o céu azul havia se encoberto, e já na minha rua choveu.

Depois o céu abriu de novo; mas já tinha tirado o biquíni. Pelo menos agora tenho o cheiro da chuva e por 2 metros ela me molhou.

28 outubro, 2009

quando o poeta fala de ti

Como me conter com Manoel de Barros?

"Nuvens me cruzam de arribação.
Tenho uma dor de concha extraviada.
Uma dor de pedaços que não voltam.
Eu sou muitas pessoas destroçadas...
.....
Diviso ao longe um ombro de barranco.
E encolhidos nas areias uns jaburus.
Chego mais perto e estremeço de espírito.
Enxergo a aldeia dos guanás.
Imbico numa lata enferrujada.
Um sabiá me aleluia"
Manoel de Barros. O livro das Ignorãças

O Lírio

Desde que nos mudamos havia na varanda um vaso com uma planta grande de folhas verdes. E assim ela estava desde sempre, até então. Quando numa noite Leo se deitou a rede para ler, e fui até ele. Quando lá cheguei um perfume havia invadido a varanda, nos viramos para o lado e um lindo, aliás muito mais que um, lindo lírio havia nascido. O descobrimos antes por seu cheiro que por sua forma e sentimos como um abraço de aconchego, amor e esperança. Essa casa agora exala flores.

25 outubro, 2009

Meu teatro

E eis que dei o primeiro passo nessa minha estrada de sol. Paula e eu eu e Paula fundamos agora a companhia. Organizamos nossas bases de pesquisas, que mistura nossas formações (dança e teatro) e decidimos pelo ponto de partida para o primeiro projeto e onde ele estreará. Pronto. Muita coisa e muita determinação e vontade. Temos agora o que é a proposta dessa cia, com o quê queremos trabalhar e pesquisar, pra que público e até de onde partirá o primeiro projeto. Foi linda nossa reunião. E no final celebramos com um poema que a Paula levou e que será nosso lema, e acredito que pode ser de muita gente. Eis a cia Teatro do Silêncio. Eis o lema poema:

Para pintar o retrato de um passáro
Primeiro pintar uma gaiola
Com a porta aberta
Pintar depois
Algo de lindo
Algo de Simples
Algo de Belo
Algo de útil
para o pássaro
Depois pendurar a tela numa árvore
Num jardim
Num bosque
ou numa floresta
esconder-se atrás da árvore
sem nada dizer
sem se mexer
Às vezes o pássaro chega logo
mas pode ser também que leve muitos anos
para se decidir
Não perder a esperança
esperar
esperar se preciso durante anos
a pressa ou a lentidão da chegada do pássaro
com o sucesso do quadro
quando o pássaro chegar
se chegar
guardar o mais profundo silêncio
esperar que o pássaro entre na gaiola
e quando já estiver lá dentro
fechar lentamente a porta com o pincel
depois
apagar uma a uma todas as grades
tendo o cuidado de não tocar numa única pena do pássaro
pintar também a folhagem verde e a frescura do vento
a poeira do sol
e o barulho dos insetos pelo capim no calor do verão
e depois esperar que o pássaro queira cantar
se o pássaro não cantar
mau sinal
sinal de que o quadro é ruim
mas se cantar é bom sinal
sinal de que pode assiná-lo
Então você arranca delicadamente uma das penas do pássaro
e escreve seu nome num canto do quadro.
Jacques Prévert

23 outubro, 2009

Manifesto desesperado de uma atriz em pânico

Por favor não me venham mais vender pacote de vídeo book e foto, não me venham dizer que só fazendo fotos na sua agência é que farei comerciais, não me mostrem mais esses panfletos rídiculos de : seja um ator de verdade venha estudar com a gente! Espalhados aos montes e em pilhas pela cidade. Pelo Amor de Deus não venha me dizer que é uma produtora que torce pelos atores, que quando olha pro currículo e vê que o ator precisa de dinheiro fica torcendo para que grave um bom teste. Se ele for bom vai ser bom o teste. Pelo amor de Deus não quero mais essas caras posadas esses dentes brancos, esse rastejar de joelhos atrás dos produtores de elenco, essa relação de submissão e superioridade entre essas emissoras e os atores e esse desespero de uma nação desesperada por qualquer coisa.
Agora grito aqui, e mesmo estando em silêncio ao redigir tais linhas sinto minha garganta arder porque grito e urro com toda a minha alma:
SOU ATRIZ POR AMOR E POR VOCAÇÃO E POR DESEJO E NÃO O FAÇO POR DINHEIRO MAS PORQUE SE EU NÃO O FIZER NÃO TENHO SALVAÇÃO. NÃO QUERO MAIS VER ESSES PSEUDO ATORES, E NUNCA PENSEI QUE CHEGARIA A TANTO PRECONCEITO. O Rio de Janeiro é uma máquina de fazer da arte um maçaroca capitalista superficial, nojenta e saturada. E tenho dito.
Se você mora no Rio e quer se transformar pelo Teatro, por favor me procure, estou sedenta por isso. E sem dentes brancos e photoshop.

21 outubro, 2009

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Conversa com as estrelas

Pensando seriamente em começar o processo de me eternizar. Quem sabe ano que vem? Será que já tem que começar agora ou dá pra esperar mais um seis meses? O que sei é que ontem sentei-me de frente pro mar e conversando com o céu e sua infinitude que se confunde com a imensidão das águas decidi que está chegando o momento das estrelas se multiplicarem, mas não no céu. Aqui na terra mesmo. Vontade de começar a ser eterna. De alguma forma. E de amar de uma forma diferente. Sim agora a vontade passa a ser madura e não só instinto. É vontade sentida, mas também é vontade pensada.

17 outubro, 2009

Lar

Um cheiro de chuva e frescor invade a minha sala neste momento. Olho pela janela do meu apartamento e avisto essa vista prazeirosa, esses telhados antigos "parisienses" da década de quarenta sob o frame da minha janela de madeira verde. Se perguntassem à minha alma que casa teria minha cara, essa, sem dúvida, seria uma das respostas.

Com a vinda da minha sogra surgiu um novo jeito de prender as cortinas. Não sei se foi ela ou meu sogro, sei que agora elas só ficam assim, amarradas uma em cada lado, como numa casa de bonecas, e eu simplesmente me pego a olha-las por algum tempo, em diferentes momentos do dia, adimirando-as. Um simples par de cortinas, mas que aguça meu amor por minha casa. E tão simples coisa me tirou da depressão.Como adoro, amo, tais cortinas brancas, a vista dos telhados e o barulho da chuva. Enfim, me sinto em casa. Novamente.Graças.

07 outubro, 2009

Missing

Ai me desculpe Rio e suas belezas. Me desculpe Laranjeiras e seu conforto. Me desculpe o Brasil e o calor e o português. Me desculpe meus pais e toda minha familia e meus amigos queridos. Me desculpe principalmente o tempo, esse que, somado a tudo mais que cito acima, me trouxe de volta pra cá e que como numa matemática faz com que essas sejam as razões por estar feliz aqui. Desculpem-me mas sinto uma saudade doida de Londres. Sinto mesmo. E de Istanbul e de Veneza, e de Amsterdã e de Paris e de tudo, tudo, tudo que é e foi Londres pra mim. Tem sido uma digestão difícil essa do tempo. Mesmo com tantas chuvas e sóis. Meu avô tem 94 anos de uma vida saudável e sã e ele me confessou outro dia não ser saudosista. Será esse seu segredo de jovialidade e saúde? Não sei. Só sei que desse mal padeço terrivelmente desde já. Ai, saudade.

30 setembro, 2009

Na voz de Raduan Nassar

"e, circunstancialmente, entre posturas mais urgentes, cada um deve sentar-se num banco,plantar bem um dos pés no chão,curvar a espinha,fincar o cotovelo do braço no joelho, e, depois, apoiar a cabeça no dorso da mão, e com os olhos amenos assistir ao movimento do sol e das chuvas e dos ventos, e com os mesmos olhos amenos assistir à manipulação misteriosa de outras ferramentas que o tempo habilmente emprega em suas transformações, não questionando jamais sobre seus desígnos insondáveis, sinuosos, como não se questionam nos puros planos das planícies as trilhas tortuosas,debaixo dos cascos, traçadas nos pastos pelo rebanho: o gado sempre vai ao poço"


Lavoura Arcaica, capítulo final.

25 setembro, 2009

A pimenta e o sal

Ontem sentada num casarão da Lapa ouvi a leitura de Grotowisk feita por uma mulher que é grande entedora do assunto, cercada de pupilos muito jovens, apenas começando coisas que já passei e me deu um aperto no peito. Uma vontade de achar meu lugar aqui, de estar criando, trocando, mas no lugar que me pertence e que já não era mais ali.
Sonho com Londres, e muitas imagens passam pela mente, num processo de digestão de tanta intensidade que ainda não desceu e se espalhou pelo meu corpo, está aqui ainda se esforçando para escorregar pela garganta.
Conversando com Joana minha amiga, que ainda está em Londres, ouvindo Bach e toda sua melancolia as lágrimas não resistiram e caíram, e as mãos levemente sujas de pimenta, porque acabara de cozinhar, esfregaram meus olhos que arderam numa sintonia poética, sentida e...e...
Sei lá.

23 setembro, 2009

volta

Após jejum de quase 20 dias voltei a ter internet em casa. E graças a isso estou de volta a esse meu recanto, essa janela pro mundo.
De casa nova já posso dizer que ela tem a minha assinatura e do Leo, borboletas na varanda, violeta na sacada e uma porção de detalhes que pularam para o espaço cheios de graça e personalidade quando abrimos hoje as caixas do casamento, neles impresso nosso jeito e o carinho de tantos queridos. A casa está colorida e e cheia de vida.
Estou no caminho do entendimento do tempo e eu dentro dele. Não sei se descubro todos seus mistérios no tempo que terá minha vida, mas estou tentando, entender o tempo tem a ver com nos entender e nos entendendo encontramos deus. Assim penso eu. Raduan Nassar tem me ajudado nesse processo, já que palavras e pensamentos nos dão o suporte. Em breve divido aqui algumas de suas belas e profundas palavras. Por ora so consigo contemplar as chuvas que vem e passam e esse coro enorme de cigarras que todas as noites invade minha casa na cidade maravilhosa, nesse país tropical.

28 agosto, 2009

Há um vilarejo ali

Encontramos um canto em Laranjeiras. Na rua que sobe e não tem saída, com pracinha no começo e um punhado de prédio igual e tombado pois são bem velhinhos. E por essa razão o apartamento tem o pé direito alto, as janelas largas e os quartos amplos. Tem área de serviço que termina em um punhado de árvores e onde se pendura rede. O canto das cigarras é alto e as janelas se abrem com as duas mãos e com o corpo todo, como as janelas de desenho, antigas. O lugar é de um casal de amigos e logo de cara se vê que foi cuidado e preparado com muito amor. Assim que entramos vi eu e Leo ali ainda que não tenhamos planejado tudo aquilo e muito menos estar ali.
São os caminhos da vida e sua simplicidade e grandeza. Esse lugar combina comigo por isso, é simples, bem simples, mas cheio de janelas para entrar a luz do sol, com ar fresco e novo.O pouso pro repouso do recomeçar.
Quero isso da vida: frutas doces que caem do pé de surpresa na nossa mão, caminhar por caminhos impulsionados pela minha alma, respirando o bom vento e olhando a frente de tudo e todas as convenções, cabendo nelas sempre, e sempre com a minha reserva de esperança de que o céu sempre será mais poderoso que meus pés.

22 agosto, 2009

Infancia

Achei no meio dos meus papéis um diário que minha mãe escreveu quando eu era criança, desde que nasci até os 8 anos de idade. E muito dele me ficou, os cheiros as imagens e as descobertas e um detalhe que para sempre está a martelar na minha imaginação. Ela descreve lá a minha primeira festa junina. Que ao entrar na festa meu corpo inteiro se sacudiu com a música e que eu não sabia se andava ou dançava, fazendo os dois ao mesmo tempo. Ao me deparar com a pista de dança corri frenética para o pé da caixa de som e dançei a noite inteira sem parar, com as mãos na beira da saia a sacudi-la e por muitos momentos a lenvantá-la inteira até a cabeça, numa felicidade e liberdade extrema.
Isso me faz entender tanta coisa.

18 agosto, 2009

Regressar

E então migramos para o sol. Aqui o céu continua azul como sempre. Quente (mesmo no inverno) como sempre. Bagunçado como sempre. E alegre como sempre.

Na chegada champagne, amor, amigas, mãe, pai, família e um bebe lindo que sorri com rosto inteiro e esfrega a cabeça na minha barriga às gargalhadas, é Gabriel meu sobrinho. É bom regressar e é bom saber que meu canto é sob o sol e o amor. Obrigada queridos.

14 agosto, 2009

Sem Nome

E então fui embora de Londres. Carrego tanta coisa. E tanta gente. Não dá pra falar.

03 agosto, 2009

A mudança


Na música de um post abaixo diz: Sabe espantar o tédio, cortar cabelo e nadar no mar...
Não cortei cabelo (esse quero deixar bem grande no momento) mas furei o nariz! Após pesquisar e confirmar de que o buraco fica absolutamente discreto, que após um tempo (até cicatrizar)posso usar o piercing como um brinco que tiro e coloco quando quero e que se eu tirar ele antes desse tempo ele fecha em uma hora, fui lá e pum!
Queria deixar algo marcado em mim do meu lado de fora ao deixar Londres e não faria outra tatuagem, o brinco poderei tirar e por quando eu quiser, assim como voltarei aqui sempre que der.
Foi um choque no princípio, a cara muda um bucado, e é forte, até porque meu nariz é a coisa mais forte no meu rosto mesmo sem brinco.
Como não poderia deixar de ser furei segurando a mão do Leo. Como em tudo aqui, juntos. E pronto! Chego em Minas não só  com uma alma modificada mas também com a aparência e confesso que, passado o choque, estou achando lindo, um acessório e tanto, cheio de personalidade e estilo, e tudo a ver comigo!
É bom mudar.

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01 agosto, 2009

Sutil

Um homem que começa a trabalhar embalsamando cadáveres e a partir dali passa a ver a vida sob uma diferente perspectiva. Da ponte observa salmões que lutam por sobreviver à correnteza e se indaga: para quê trabalhar tão árduo se no fim irá morrer mesmo?

...

O reencontro com o pai, o reconhecimento da face, quando ele está morto. O obrigado que os japoneses muitas vezes dizem em silêncio, o sutil ritual de passar objetos e curvar-se em respeito uns aos outros

E a descoberta: A morte é apenas um portão, ele, o personagem principal, prepara as pessoas para o seu novo nascimento.

Outra descoberta: Quando não se sabia escrever as pessoas entregavam uma pedra para os que amavam, e esse observando o tamanho, a textura e o peso, entendia qual era o sentimento.
Garcia Marquez já havia me contato que as coisas eram apontadas com o dedo quando ainda não tinham nome e agora descubro que uma pedra pode ser muito mais que uma forma.
Essa manhã assistimos "A Partida", filme japônes, ganhador do oscar esse ano.
Pura delicadeza.

27 julho, 2009

Lispa


Fazemos teatro, então gostamos do ritual. E como não poderia deixar de ser a despedida da minha turma, no dia em que recebemos o diploma, foi feita com um belíssimo ritual, que os meninos da turma que sucede a nossa preparou. Além de massagens, frutas, de me jogar de uma altura de costas para ser carregada por eles, fiquei com meus colegas de turma, amigos, na beira do canal que tem na escola. Ali começou a chover, chover muito, e a chuva caiu quando os meninos do primeiro ano cantavam "aproveite a chuva", em mais uma dessas sincronias loucas da gente com a natureza. A chuva caia, caia, estávamos com venda nos olhos. Quando recebi uma flor, tirei a venda, e vi todos aqueles que nos ofertavam o ritual a fazer um dos 20 movimentos que aprendemos na escola, o mais bonito deles, o de remar. Joguei a flor no canal, jogamos. A chuva se confundia com as lágrimas, já não as distinguia mais. A paz era profunda. Nessa escola entrei dentro de mim, e me vi. Hoje tenho os mesmos fantasmas, mas dialogo com eles, a gente conversa. Na busca da artista que sou me vi ali, a mulher que sou, ou tenho sido, o que carrego comigo e o que levarei de agora.
Repito palavras de colegas "a mais intensa experiência da minha vida", e arrisco dizer a mais bela.

Por Marisa

Meu marido me mostrou essa música outro dia, "Amor já ouviu essa música...em alguns momentos me lembro de você".

26 julho, 2009

O gesto e a delicadeza

Uma delícia ter uma linda colega francesa chamada Marie. Delicia ainda maior é vê-la em cena com seus grandes olhos e aquele idioma tão charmoso, oh deus como acho lindo o francês. Mas ainda mais saboroso foi vê-la em seu projeto final na escola, ela e Elayce, inglesa, em uma frase de movimento toda centrada na sutileza, doçura e especificidade do gesto. Foi lindo e delicioso de se ver, assim que tiver fotos as coloco aqui. A música logo abaixo, com seu cantor, se quiser feche os olhos e imagine o que pode ter sido que essa linda dupla de atrizes levou para o palco. Ah! Como é linda a poesia! Quem é que disse que precisamos de questões super elaboradas, precisamos é fazer poesia e levar a platéia conosco nesse voo de beleza e sutileza. Merci Marie!!!

Rosa

Meu lado cor de rosa é bem forte. Não só pela capa do meu celular, pelas tiaras de laço de fita que tenho no armário e as outras coisinhas pequeninas espalhadas pela minha casa, que mesmo não rosa se encaixam perfeitamente nesse universo cor de rosa. Então as vezes fico horas navegando por blogs cor de rosa e me delicio, exercendo um lado fútil, pessoal, cor de rosa e todo meu. Hoje descobri esse blog e deixo aqui para dividir com colegas que adoram um rosa e um lilás de vez em quando. Acho que se não fosse atriz poderia trabalhar com moda ou design, pois adoro esses blogs!!! Principalmente os do mundo rosa (risos).

Fantasmas

Tenho visto fantasmas. Nos meus sonhos fantasmas que eu poderia conhecer me visitam, entre o sono e o abrir dos olhos vejo silhuetas desenhadas no espaço e é sempre com a sensação de paz que as vejo. Não sei se são fantasmas do além, não sei nem se eles existem, mas eles acompanham essa transição louca que acontece dentro de mim.
De repente esses fantasmas são fantasmas de mim, vestidos de outras pessoas. Tenho sonhado muito com crianças também, eu, segurando um bebê pesado. Essa noite sonhei com uma criança que só conheço por fotos, e era ela mesma, esperta, inteligente e alegre. Como não a conheço pessoalmente não sei se essa é sua verdadeira personalidade, talvez seja mais uma vez um lado meu ou que queria ser sendo fantasma. Sonhei também que arrancava cacos de vidro do meu pé, e era só eu quem poderia fazer, repleta de aflição os arrancava da carne aberta, em diferentes pontos do meu pé, doía e em segundos todos os buracos estavam fechados, com pequenas marcas que por certo em breve desapareceriam, a dor também sumiu.
E acordo sempre com essa sensação de uma tristeza alegre. Talvez frutos de quem anda vendo fantasmas ou de quem em breve vai encher as malas, rumo à sua casa, ao lugar que nasceu e em que primeiro sentiu cheiros e viu cores, para começar do zero.
Talvez aí os fantasmas e as crianças ganhem novas formas, mas eles estão aqui, nos meus sonhos, e sabe se deus se de fato me visitam. De toda forma são bons fantasmas. Sempre alguém querido, ou que ama meu marido de forma profunda, ou simplesmente uma criança de cachos dourados alegre e falante que alegra meu sonho sempre cheio de escadas e mar. Mais uma vez me pergunto, serão eles desculpas e farsas de mim, ou serão eles realmente fantasmas? E onde será que tudo isso se encontra.

24 julho, 2009

O deus

Há algum tempo li O Evangelho Segundo Jesus Cristo, do Saramago e ele está sem dúvida entre meus livros favoritos, ainda me lembro dos arrepios e dos olhos ardidos de emoção ao ler tanta poesia sobre a vida e nós, seres humanos, através de um olhar específico sobre a vida de Jesus. Me digo sem religião. Me digo Cristã, porque creio em Cristo. Mas se perguntar me em quê de verdade acredito, entre divagações sobre o universo, nossa conexão com a natureza e um deus indizível que faz parte de nós e da imensidão do céu e das águas, vou dizer-te que acredito nisso. Acredito nas palavras de Saramago, no amor, e na potencialidade da poesia e do modo de olhar vida, para que a pedra nunca seja vista como somente uma pedra, bem diria Adélia Prado. Obrigada Saramago, mais uma vez. Deliciem-se com suas palavras e com nosso deus infinito de amor, que está dentro de nós e é o que nos faz atingir o céu, sendo como parte dele, sem pecados, sem cruz, apenas por essa vida repleta de erros, acertos, dor e amor.Nos condicionamos a sermos pecadores, e ao senso de que na vida é preciso o sofrimento para se afortunar, a jogar pedras aos outros e a nós mesmo e temer terrivelmente o fim, a morte, Deus e o julgamento.Esse culto, daquele ser de luz na cruz, despedaçado e ensanguentado, sempre foi para mim curioso e dolorido por demais. Cultivo sua imagem de amor, do pão repartido, do sorriso e da doação. Do amor e do perdão. Das feridas que curou, e assim cultivo minhas feridas não como penitência, mas apenas como calos do caminho. A vida é maior que tudo e pecar sem sofrer é fundamental, desde que haja amor sobre todas as coisas.

21 julho, 2009

O sapato e o tempo

Hoje me perdi pelas ruas e me sentei em um brechó na parte de sapatos. Cercada de sapatos cheirando a mofo vi as pessoas estilosas do leste de Londres a passar. A chuva que caia e as poças que se acumulavam. Acho que sentei para sentir o tempo que passou, antes mesmo dele passar.
Hoje sentei em meio a sapatos velhos. E a vontade era de chorar.

20 julho, 2009

...

No Brasil faz agora um inverno de 30 graus e por aqui um verão chuvoso de 20. Conversando com uma amiga que mora no Mato Grosso temporariamente descobri que lá, neste inverno tropical, fez 35 graus! E ela me disse "você deve ter conhecido aí o inverno de desenho animado". Sim. Conheci. Enfiei o pé na neve e vi o céu branco e silencioso. E estou me despedindo de tantas coisas e pessoas. E ainda não consigo falar sobre isso. Estou com dor.E com um diploma no armário. E com uma alma reluzente. Quando a dor passar conto aqui como tem sido tudo isso.

10 julho, 2009

O redondo

Há três anos atrás eu escrevia sobre uma cidade redonda e criava três personagens.
Há dois anos (quase) vim para Londres. Na mesma época em que criei essa cidade redonda recebi também o convite de vir estudar teatro aqui. A cidade nascia no momento em que a minha própria vida girava, girava ruma ao desconhecido e esse desconhecido foi um mar profundo em que mergulhei até o último fio de cabelo. Moro em Londres mas morei mesmo foi na Lispa, minha escola, pela qual tive que dedicar todos os dias da semana, muitas horas por dia, sendo parte enorme da minha vida.
Foi então que adentrei "florestas, subi montanhas, atravessei rios, vi o por do sol no desertos". Ainda me lembro de um exercício em que a única imagem em que tinha a minha frente era uma enorme árvore da qual fazia parte, e que eu a subia num folêgo só querendo devorá-la pela raiz.
Sim essa sou. Uma devoradora de tudo, sagaz pelas alturas, ansiosa, agitada, mas sobretudo querendo atravessar a terra para comer pela raiz. E esses dois anos de Londres, e, mais que tudo, de Lispa me mostraram isso.
Ontem foi o dia de eu concluir parte importante dessa jornada e foi aí que voltei à cidade. A cidade redonda, aquela que nascia junto com o início dessa viagem. E dei lhe vida, e dei vida aos personagens, apresentando a como meu projeto final na escola. Enchi o palco de simbolismos para cada casa de cada habitante, e narrei os momentos em que ainda a palavra se faz importante.
Foi lindo.
As pessoas adoraram, me abraçaram, se emocionaram. E recebi o último retorno dos professores que elogiaram muitíssimo o texto, as metáforas e muito a minha presença em cena, com ressalvas para o meio da cena, das quais eu tinha plena consciência, afinal, esse é um projeto para ser desenvolvido.
Os três personagens ganharam vida pelas mãos de atores que possuíam grande parte da metáfora que encenavam, como se eu houvesse escrito para eles. E quem sabe não foi...
Acho que não entendemos tanto o quanto giramos e aonde paramos, mas sei que sim, sempre voltamos para começar de novo.
Então, foi lá que comecei algo, na cidade redonda que escrevia e fecho a ponta do círculo a vendo viva e linda no palco, acolhida com amor pela platéia. E agora...
Por ora estou deixando que ela gire assim, em sua velocidade calma, sei que é hora de recomeçar de novo.

30 junho, 2009

Luto

Pina Bausch morreu. Acabo de ler a notícia e me engasguei.Descobriu um cancêr há cinco dias e não permitiu que ele a matasse aos poucos, em toda sua intensidade de vida assim o fez, assim se foi, de repente. Ainda estou engasgada. Seu corpo se vai mas sua alma cá está perpetuada. De luto estou.

Delícia

Certas coisas me encantam (várias coisas me encantam!) Ah! Londres é verão, faz céu azul, o sol queima, 30 graus! E descobrimos uma floresta perto de casa, com lago e pessoas de biquini tomando sol, hoje foi dia livre e fomos lá, tomamos cerveja em casa, fizemos almoço. Isso também me encanta demais! Estou queimada de sol!!!!!
Enjoy it!

28 junho, 2009

Mulheres e a chuva

Ontem aqui caiu uma chuva tropical. Dessas com trovões e quedas de água intensa! Estávamos no meio do ensaio quando ouvimos o barulho dela, forte e musical, e esse som delicioso foi ecoado pelos gritos da minha colega húngara, "ahhh vamos correr na chuva" e foi quando essas 10 mulheres saíram desembestadas na chuva, no pátio interno da escola.
Ríamos não se sabe se de correr, não se sabe se do calor, ou se dos nossos cabelos escorridos na cara e o pés ensopados pelas poças que písavamos euforicamente, correndo e rindo, no calor de 25 graus em Londres tiramos a blusa ficando com o top ou sutiã que usávamos por baixo, dançando, rindo. Lembrei me do ensaio sobre a cegueira do Saramago, o momento em que as mulheres se banham na chuva. Acho que com nossa alegria conseguimos ontem chegar bem perto de sua poesia. Sem dúvida carregarei essa imagem comigo, a do sorriso delas, das gargalhadas, de nós ensopadas. Somente nós no pátio da escola. Nós e a chuva.

17 junho, 2009

O Porquê

  Sempre estou me questionando pra quem, pra que e por que eu faço teatro, no sentido de qual é a real medida e razão de colocar tudo aquilo no palco, toda aquela emoção ou toda aquela brincadeira. Fizemos uma apresentação aqui em Londres, minha escola abriu as portas e apresentamos alguns dos trabalhos desenvolvidos durante o ano, em diferentes territórios como o melodrama, o clown, o grotesco, o cabaré e a tragédia. E para mim sempre fica a questão rondando a mente, do tipo, e aí? Aquela inexatidão sobre o que chega pra platéia e em que medida isso é importante pra eles, porque pra mim já sei demais o quanto é importante. E então ontem o Thomas, diretor da escola, veio dividir conosco algo muito especial. E divido aqui. Quando acontecem essas respostas é como um suspiro aliviado para mim. Faço teatro pra mim, mas não pode acabar aqui, no meu umbigo, porque aí deixa de ser teatro.
"No sabado um casal de amigos meus vieram da Alemanha com suas duas filhas ver nossa apresentação, uma delas é médica e após a apresentação ela parecia triste e calada, logo pensei, ai meu deus, será que a apresentação foi assim tão ruim. Chegando em casa notei que ela foi conversar com a mãe por uns minutos e aí comecei a ficar ainda mais ansioso com essa situação. Até que na mesa do jantar ela decidiu falar comigo, e começou 'Thomas, estou bem pensativa e um pouco triste, e é por causa de hoje a noite', aí gelei, ai meu deus! Foi então que ela continuou 'na minha profissão acho que as vezes as coisas ficam tão secas e frias e hoje me emocionou profundamente ver pessoas tão vivas, a partir de agora percebo que se eu conseguir levar metade dessa vivacidade para meu ofício de médica já estou feliz.' Então divido isso com vocês, porque talvez vocês não saibam a dimensão do que afetam na vida das pessoas, não importa sobre o quê estejam falando ali, mas principalmente pela forma que o fazem".

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14 junho, 2009

Armas de Jorge

Não tenho inimigos porque não os crio para mim. Sempre descendo a correnteza no fluxo da vida e deixando que o vento carregue as mazelas, tentando trazer comigo o amor, apagar aos poucos a dor, e cobrir cicatrizes com esperança.
E nesse seguir da vida só peço que as energias se renovem, e que os inimigos que não tenho não se criem por si só, de forma independente, e que não existam inimigos que residem em nós, nossos medos, nossa insegurança, nossa incerteza, e que eles não tenham força jamais. Que a energia da generosidade sempre prevaleça sobre a do individualismo e que nossa força prevaleça sobre nosso pânico. E salve Jorge!
Hoje meu coração vai ao Brasil e apresentamos uma cena linda que trabalhamos com muito amor, não sei se é a melhor que já fiz, mas sem dúvida a melhor que deu pra fazer.
E Salve Jorge!!!!

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.

São Jorge Rogai por nós.

03 junho, 2009

Para meu avô Napoleão

Querido avô paterno da minha infância ao seu lado lembro me do cheiro de um pé de caju, de alguns quadros em um corredor de sua casa no recreio e de cachorros grandes. Lembro de papai noel em dia de natal, barba grande, dirigindo. Sempre lembro me de você a tirar fotos e a tocar gaita.
Então tivemos um hiato no tempo. Cresci sem você. Seu amor por uma outra pessoa não foi compátivel com a harmonia e o amor de sua família, são as escolhas da vida.
Passei 8 anos sem lhe ver. Quando nos encontramos no meu aniversário de 18 anos fomos juntos almoçar, e jamais me esquecerei do seu olhar ao dizer me espantado, "18 anos?!! Meu Deus! E eu não lhe vir crescer...você era tão apegada a mim quando criança!" Isso seguido de um silêncio.
Sim vô, isso doeu, mas confortou pois ali estávamos novamente.
A semente da discórdia se afastou depois de um tempo. Mas não sem antes deixar seu rastro. Muitas cartas foram divulgadas, a intimidade de tias lindas e amadas escancaradas, atos cruéis foram feitos de forma inexplicável, mas seus três filhos permaneceram unidos, por amor e por amizade, e aos poucos se uniram ainda mais a você. Recuperando o folêgo de longos anos de uma discórdia semeada por alguém de fora, um alienigena, a quem o senhor chamou companheira.
Então o vento sacudiu a poeira, e de repente a relação da discórdia desaparecia aos poucos, ainda que em vultos as vezes aparecendo por sua casa e em sua conta bancária.
Mas então pude assistir a Kieslowski com você e ver te emocionar com a trilha do filme tantas vezes já ouvida. Te apresentei o amor da minha vida, Leo. Te vi na primeira fila do teatro na minha noite de estréia e ouvi da sua sábia boca, que havia encontrado meu caminho.
Vi um pai carinhoso com o filho, chamando-lhe de filhinho e a bater palmas de excitação ao ver-me.
Sei dos seus filmes catalogados, da sua organização extrema, do seu mundo, do seu canto e da sua solidão.
Então o vento da discórdia soprou mais uma vez. Sorrateiro como só ele pode ser. O "Deus" da manipulação e da cegueira. Onde tudo ganha carga dramática pesada. E você está aí, fora da sua casa. Seus filmes raros e catalogados ainda lá estão no seu canto, no canto que recentemente você disse que só sairia de lá morto.

Vivo está, mas sem dúvida com uma velhice que será acelerada depois disso. Sei dos que estão colocando amor em tudo isso, e é nisso que aposto Vô.
Em breve morarei no Rio e espero ver todas suas coisas no canto que será escolhido para você.
E lá sentaremos todos juntos, nós, seus netos, seus bisnetos e seus três filhos. Fazendo firme barreira para o vento da discórdia que em dramáticas palavras egoístas, cartas, emails e maldades se faz sentir. A ele não sinto nem estremeço. E assim sigamos todos nós, esses que, sim, são parte de ti.
Espero que tenha tido tempo de pôr sua gaita na bolsa.
Te amo meu avô e em breve estou aí.

01 junho, 2009

A volta que o tempo me deu

Depois de uma linda viagem para a Turquia, que comento depois aqui, retornei a Londres e me deparei com um turbilhão de coisas. A escola a todo vapor, encerrando-se, muitas cenas para ensaiar e apresentar engrenando de imediato nos projetos individuais (frio na barriga!) e aí, pronto. Acabou. Estava com passagens compradas pra Ibiza e com muita dor tive que perder. Estou sem tempo, o tempo deu a volta em mim. Londres está velozmente chegando ao fim, toda essa intensidade desses dois anos decidiu acelerar-se e me encontro em um ritmo frenético, finalizando coisas, com a cabeça no presente e a alma um passo no futuro, no calor sufocante e no ceu azul intenso do Brasil.
Minha sogra deixou aqui em casa uma mala para que eu colocasse coisas que ela já pudesse levar pra lá, e ao tirar os livros das estantes e os casacos do armário uma sensação de certeza do tempo se fez muito forte em meu coração. Olhar pro Grande Sertão Veredas que estava lendo lentamente e pensar, não terei tempo de ler isso aqui, terá que ser no Brasil, foi bem forte.
Pouco mais de um mês. De um mês bem intenso de trabalho. E então regressamos. Sinto aperto, porque esse rito de passagem que é a vida precisa nos apertar o peito, mas sinto sim uma alegria enorme de voltar para casa.

10 maio, 2009

Sabedoria do poeta

Sigamos porque a vida é curta.

"...Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se
permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos..."
(Pablo Neruda)

SunDay

Hoje deitei-me descalça na beira do rio do Hyde Park em um lindo dia de céu azul e sol. A paisagem era de pessoas a andar de patins, na água as pequenas canoas e pedalinhos. Entre uma leitura e outra os olhos ardiam pedindo um cochilo e então, deitada sob a canga de "copacabana", deixei o sol queimar a cara. Após tanto tempo.

09 maio, 2009

Culpa

Papai chegou aqui em Londres. Encerraram-se as aulas na escola. Após 15 dias tossindo sem parar parei com tudo e assisti da platéia a cena do meu grupo, que trabalhei todo o termo. Não sem sofrimento. Foi uma angústia de dúvidas e decisões indecisas. Me perdi nelas, nas dúvidas, na tosse e no cansaço e me senti culpada e frustrada. Mas em uma situação que me sentiria assim por qualquer que fossem as circunstâncias e as escolhas.
Hoje meu pai viajaria para Roma. É meia noite, o voo é às 6 da manhã. Ele quer desistir, perder a passagem e a diária de hotel já paga. Mas também não sabe. Qualquer que seja a escolha não será sem remorso. Mas será a escolha.
A pílula azul ou a vermelha? Saiba das consequências de cada uma delas.
Pais e filhos. Seres humanos.
Sabemos tanto de nós e ainda assim nos perdemos em nossos enganos, nos perdamos nesse jogo rídiculo que são as tão simples e patéticas escolhas da vida. Tudo simples, porque tudo começa e se encerra na nossa mente. Só lá. Só cá.

29 abril, 2009

Ah Gabriel! Você mata a tia!



Clique na foto pra ampliar essa delícia

25 abril, 2009

O Clown

Em sua última aula do Clown, Steph minha professora, leu um texto de seu mestre de Clown. Tomei a liberdade de traduzi-lo e colocá-lo aqui, para que chegue a outras partes do mundo. É um pouco grande, mas dê a você esse prazer.
"Como parte da humanidade todos nós temos um grande problema em comum: nós vamos morrer, um dia, mais cedo ou mais tarde. Temos também uma capacidade que pode se tornar um grande problema: somos conscientes de nós mesmos o que significa que podemos pensar de forma abstrata e saber como as coisas poderiam ser. Então temos o conceito de perfeição, ordem e sucesso. Nós também sabemos que a maioria dessas coisas nunca vão acontecer, então estamos restringidos pelas limitações da vida. Portanto a perfeição é mais um mito, um ponto de referência. Nós podemos tanto tomar isso negativamente e nos revoltarmos e brigarmos contra os deuses, no Teatro chamamos isso Tragédia. Ou podemos cair e rir disso. A sabedoria do clown é saber cair e aceitar. É uma resposta profunda para o maior problema da morte em todos os seus sentidos. É por isso que o Clown existe. Trata-se de alguém que assume suas próprias limitações, suas tragédias, suas contradições, estupidez,inocência, vulnerabilidade, a dor e suas feridas. E conscientemente brinca com elas. Logo o uso do Clown é para processar com humor a tragédia da vida.
Para mim é essa a essência porque no final nós temos que morrer. Nós teremos problemas, nós teremos dificuldades, é norma, trata-se da vida. A vida é conflito e enganos e algumas feridas são irreversíveis. Nós todos viemos de famílias bem disfuncionais- a maioria das pessoas, e quando percebemos isso você pode dizer 'Oh merda e se eu tivesse um pai melhor, uma mãe melhor!'. Esse é o herói trágico, o ' Oh meu Deus minha vida é uma desgraça porque não aproveitei o suficiente dela!'. Então você pode ser miserável pelo resto da sua vida, e morrer triste e sentido. Ou, e isso é o que o Clown faz, dizer 'Okay, bom, isso é o que aconteceu' e assumi-lo completamente e eventualmente rir disso, e de repente você pode estar vivendo mais feliz com suas feridas que se tornarão cicatrizes e que você pode então pintá-las. Elas nunca vão embora mas transformaram-se em algo maior.
Existe uma profunda verdade nisso: em um nível psicológico as feridas nunca desaparecerão, o que poderia ser nunca será, as cicatrizes permanecem. O herói trágico se mata por essa dor, o Clown dança com ela. E para mim essa é a maior lição do Clown, curar não é tirar a ferida, mas transformá-la, não se trata de remover a cicatriz mas sim de pintá-la. O Clown dança com a ferida. Você não pode mudar sua história, mas pode transforma-la e aproveitá-la. Eu acho que devemos ir ainda além da esperança: o Clown manifesta sua beleza no momento presente. Vida é além esperança. Sim é. Este é o caminho do Clown: fé e comprometimento, fé e comprometimento, e falha, e falha, e deixar que se vá, com prazer, e isso traz mais fé e cometimento, mais e mais numa necessidade profunda".
Giovanni Fusseti

23 abril, 2009

A última classe com Thomas

Essa é nossa última semana de aula com os professores. Última mesmo. No próximo bimestre, e último, seremos nós por nós, ensaiando nossos projetos, sem a presença dos mestres. Segunda foi a última aula com o Thomas, ele, que sempre nos coloca a pergunta sobre nós, que um dia, no Brasil, me cutucou e disse: ei, você, venha para essa viagem comigo.
E tem sido uma viagem profunda e bela, e sentida, assim como fechar seu ciclo. A primeira ponta já se soltou para ser amarrada logo ali, bem perto, e para ficar assim amarrada, fechada, guardada, como ele mesmo disse em sua última aula pelos próximos 30, 60 ou quiçá 100 anos. Referia-se nesse momento ao clown, ao nariz vermelho. Não tivemos até então clown com ele, só com outros dois professores. Mas ele quis encerrar com uma aula de clown. E nos disse no começo:
"Comecei com o nascimento da máscara neutra, e terminarei com a morte do clown."
Sim. Ninguém morreu. Todos sempre nascendo e morrendo. Nos esbofetiamos na cara sem sentir dor (morrendo de rir na verdade) e no final nos atiramos na parede, e morremos. Mas como clown morremos tentando fazer daquele momento o mais alegre, engraçado e delicioso possível para os que ali nos viam falecer.
É a resignação de nós pelo que está ali na frente de nós. É além de nós. Ele nos disse:
Na sua vida daqui pra diante sempre se questione. Quando ali estiver, no palco, fazendo aquilo pra pessoas que você sequer conhece. Porque? Por mim? Por eles? Por nós? Por dinheiro, claro. Mas o que mais?
Ao ver o vídeo sobre a escola no novo site eu lhe escrevi algumas palavras. E acho que elas cabem aqui, eu lhe disse entre outras coisas:
"Agora creio em tantas coisas que fica dificil por em palavras. Não se trata apenas de um senso mais apurado de teatro, de ser agora uma atriz mais instrumentalizada, se isso fosse apenas, seria mais do que suficiente. Mas é muito além, é além de mim mesma. Hoje olho para o céu e sei que faço parte dele. "
Obrigada.

21 abril, 2009

A idéia de mim

Com o nariz vermelho hoje tive que escolher a mim mesma um novo nome, num impulso. Deve ter sido esse um impulso intelectual e que ninguém acreditou quando disse um nome de uma colega, amiga, mas que saltou pela minha boca como verdade: Joana. Acho, honestamente, que é porque é muito próximo do meu. Hoje estava por demais fugindo na idéia de mim mesma, e aí a frustração toma conta.
O Thomas me chamou de volta à cena, disse que meu nome não é Joana. Sim, pois era quase como se eu dissesse Julieta, sons tão parecidos, pessoas me chamam assim na escola porque nos confundem. Forçou me a achar outro, achei e não me convenci.
Ai como me sinto estagnada em minhas travas, eu, que tanto amo jogar me, travei me.
Presa em mim. Somente na idéia.

12 abril, 2009

Renovação

Foi com cupcakes confeitados de cor de rosa e bolo de banana viga delicioso, levados por duas queridas colegas ao nosso ensaio de manhã, que comecei meu dia; o parabéns foi em todas as línguas, alemão, hebraico, espanhol, inglês e português; com muitos, muitos, abraços sinceros e apertados.
Uma das primeiras coisas que vi foi um enorme cartão na mesa do café da manhã, com uma linda declaração de amor do meu marido, que me presenteou durante todo o dia, surpreendendo com alguns em cima da cama, outros embaixo e fazendo do dia mais que especial e divertido.
Meus irmãos e meus pais mais uma vez manifestaram seu amor e quantas palavras belas de tantos amigos.Uma delas mesmo me encontrando de manhã e a noite, enviou me diferentes mensagens declarando seu carinho e os votos de um dia bonito para mim.
A noite muita dança aqui em Londres, e caipirinha e pão de queijo, com alguns colegas de sala.
Um anjo de porcelana de uma amiga especial, e uma carta belíssima de um amigo do coração.
Foi um dia chuvoso, calmo, sereno, e muito, muito alegre. Repleto de amor. Sinto me renovada. Mais velha sim, renovada pela idade. Aliviada pelo ciclo que se fecha, feliz e radiante pelas cores que me cercam.

08 abril, 2009

A resposta. Em lágrimas.

Eu sou o que sou por causa dos meus pais. Ok, você deve estar pensando aí que é a mesma coisa pra você. Mas serei mais específica. Sou atriz porque sou filha do Haroldo e da Izabel. Então sou o que sou, não só o muito que sou em muitas coisas, mas sou o que sou em minha vocação por causa dos pais que tenho. Tenho que confessar, que se tenho um pequeno orgulho do que sou é porque tenho um enorme e escancarado orgulho dos meus pais. E ele é tão imenso. Eles representam para mim muito do que estou sempre buscando e admirando em outras pessoas.
Sou o que sou por causa deles, e basta ler o comentário no post Nariz Vermelho e ver que é de uma mãe falando pra uma filha. E mais do que isso, uma mãe que entende perfeitamente a profissão e a busca dessa filha, respeita, adimira, incentiva e sabe do que está falando. Porque eu só sou o que sou por conta do que eles são, então estamos em casa.
Obrigada Haroldo e Izabel, por me fazer assim lágrimas, riso e palco. E, principalmente, por eu saber hoje que vocês sabem exatamente quem eu sou ( e me respeitam lindamente), sou o resultado de vocês.

05 abril, 2009

O Homem

Nunca é tarde. Descobri o cinema de Domingos de Oliveira, e talvez pudesse dizer que o fiz "tarde demais" mas nunca é tarde demais e estou adorando, de verdade! Ontem vi Separações e no final ele lê um texto, e é tão bonito e especial e em concordância com tantas coisas que penso que quis colocar aqui.


O Homem Lúcido

"O Homem Lúcido sabe
que a vida é uma carga tamanha de acontecimentos e emoções que ele nunca se entusiasma com ela
Assim como ele nunca tem memórias
O Homem Lúcido sabe
que o viver e o morrer são o mesmo em matéria de valor
posto que a vida contém tantos sofrimentos que a sua cessação não pode ser considerada um Mal
O Homem Lúcido sabe
que ele é o equilibrista na corda bamba da existência
Ele sabe que por opção ou por acidente é possível cair no abismo a qualquer momento interrompendo a sessão do circo
Pode também o Homem Lúcido optar pela vida
Aí então ...
Ele esgotará todas as suas possibilidadades
Ele passeará pelo seu campo aberto pelas suas vielas floridas
Ele saberá ver a beleza em tudo!
Ele terá amantes, amigos, ideais
urdirá planos e os realizará
Resistirá aos infortúnios e até mesmo às doenças
E se atingido por um desses emissários
saberá suportá-lo com coragem e com mansidão
E morrerá, o Homem Lúcido, de causas naturaise em idade avançada
cercado pelos seus filhos e pelos seus netos que seguirão a sua magnífica aventura.
Pairará então sobre a memória do Homem Lúcido uma aura de bondade
Dir-se a:-Aquele amou muito. Aquele fez muito bem as pessoas!
A Justa Lei Máxima da Natureza obriga que a quantidade de acontecimentos maus na vida de um homem se iguale sempre à quantidade de acontecimentos favoráveis
O Homem Lúcido porém
esse que optou pela vida com o consentimento dos deuses
tem o poder magno de alterar essa lei
Na sua vida, os acontecimentos favoráveis serão sempre maioria...
Porque essa é uma cortesia que a Natureza faz com Os Homens Lúcidos"

04 abril, 2009

O Nariz vermelho

Todos aqueles olhos a me olhar. Essa exposição sempre me agradou. Mas não necessariamente nessa manhã, quando vestia um vestido de uma criança de seis anos de idade com meias cor de rosa e um belo e grande nariz vermelho na cara. Para tanto não precisava que fossem apenas olhos, como de costume, mas olhos generosos e talvez por isso tenha sido um pouco assustador no começo.
Já na cochia decidi brincar com meu desespero, deixando vir todo o medo, todo o tremor, todos os gritos. Pela primeira vez na vida dei sinal positivo para todas essas coisas, achei que esse seria o caminho.
Se quisesse poderia me colocar ali, aparentemente calma, pés enraizados, coluna ereta olhos serenos. Mas se era pra ser ridículo decidi arriscar o não censurar meu corpo e aquela ansiedade. A primeira reação foi pisar pra trás. Foi curvar o corpo, foi soltar grunidos, foi querer chorar. Até a professora dizer: Aceite.
Foi então que olhei pra aqueles olhos sérios a me olhar em tão ridícula roupa, olhei bem fundo e fiquei ali.
Ela disse, converse conosco em sua lingua, fale em francês.
E foi aí que por uns dez minutos falei e cantei em francês, em uma fluência inacreditavel e non sense, dando conta de amolecer alguns olhos duros, forjar alguns sorrisos, até então inexistentes, e em alguns momentos até algumas gargalhadas, o francês saiu fluente e sem sentido, e me diverti. Me diverti muito, comigo mesma, numa estupidez sem fim. Foi sem pensar. E só senti quando finalmente saí de cena, mas como se tivesse havido um hiato no tempo, uma suspensão em que simplesmente falei todas as bobas palavras em francês que conheço sem saber nem quê nem porquê e sem precisar de tais elementos.
Mas não sei se quero ser palhaço.

empty

Porque tem sempre que ter um momento em que há um vazio? Vazio sem nome, e sem lógica, vazio da imensidão de ser, vazio repleto de coisas, e talvez por tão abundante ser torna-se vazio porque perde seu nome, queria eu poder nomear todas as coisas mas não posso, o vazio sempre me visita e o chamo vazio simplesmente por saber que vazio não é e nome não tem,

02 abril, 2009

A ligação


Minha irmã Branca deu seu celular a meu sobrinho de 7 meses. Isso porque ele adora brincar com seu telefone. De repente ele foi até a agenda, selecionou um nome e ligou. Quando Branca viu que o celular realmente ligava para alguém tirou o aparelho das mãos do meu sobrinho. E olhou para o nome que piscava na tela a chamar: Julieta.
Resolveu falar com a tia que mora longe e que ele só viu poucas vezes, quando seus olhos ainda não separavam sombras de luzes. Mas tenho certeza que ele se lembra do dia em que estávamos a sós no quarto e que eu lhe disse um punhado de coisas, como se ele pudesse entender cada palavra de amor. Fiz isso como uma adulta louca, que acredita que em algum lugar daquela mente tão limpa iria chegar a minha mensagem.
Eis o resultado. Assim que teve em suas mãos um telefone decidiu me ligar pra dizer Oi!
Branca devia ter deixado completar a ligação.
Ela mesma disse: De todas as pessoas da minha agenda, ele escolheu você!
Claro! A vida é assim, podia dizer que foi só coincidencia o meu nome ter estado lá e para por aí. Mas o que é bom é que as coincidências da vida tem uma explicação profunda e pessoal. Encontre a sua.
Eu respondo de cá:
Te amooooo Biel! Muito. E, Alô!

01 abril, 2009

Na hora de dormir

A menina agarrava se ao polegar na hora de dormir, seu corpo dissolvia se e entregava se ao colchão em uma comunhão sincera do corpo que se desfaz, e assim, em silêncio e sem saber, agradecia e fazia sua prece de fé. Superticiosos ou não lá estava seu dedo em figa, sem que nota se ser essa sua intenção.
Distraída agregava ainda mais sorte para sua noite, e para o dia que nascia e a abençoava.

28 março, 2009

A chuva

O som da chuva no telhado. Sinfonia continua que se combina com o estalar suave dos vidros. Seu som não contínuo e seu cheiro fresco no vento, na grama e no asfalto, trazem o silêncio. Mas só a combinação de seus barulhos e odores é capaz disso. Do seu silêncio único. Já experimentou?

27 março, 2009

O sonho da cachoeira

Essa noite sonhei que corria em um campo de terra batida, cercado de verde por todos os lados. Ao meu lado uma amiga, a Alice, ela estava em um cavalo, conversávamos que a idade esta a passar e que estavámos com medo de não termos tempo de conhecermos alguém para termos um filho. Após a caminhada cheguei só a uma cachoeira, repleta de sapos estranhos e pequenos besouros que mergulhavam na água, eu estava só. Havia um tal homem de nome Rodrigo, sabe se lá porque se chamava Rodrigo, porque nem Rodrigo nenhum conheço e Rodrigo nenhum namorei. Sei que falava pra minha mãe que surgiu, como bom sonho, de repente: Olha só! Sempre a mesma coisa, não é com ele que quero ter um filho.
Até que vi um pequeno menino de cabelos castanhos. Uma criança linda. Não consigo agora me lembrar do seu rosto. Ele subia nas pedras e mergulhava nas águas.
Quando um sentimento tão forte, tão forte, me veio de súbito. Era o Leonardo que estava logo a frente do menino que se deliciava nas águas da cachoeira.
E eu disse para minha mãe: Achei! Achei o homem com quem eu quero ter um filho. Falei isso com coração e alma, em um sentimento que ainda agora sinto.
Não sei porque sonhei isso. Nem quero saber. Mas acordei com o seu despertador Leo. Você acordando ao meu lado para ir trabalhar. Que bom que te encontrei.

24 março, 2009

As vezes me sinto assim

"Saudoso ja deste verão que vejo, lágrimas para as flores dele emprego na lembrança invertida de quando hei de perdê-las"

Ricardo Reis ( Fernando Pessoa)

22 março, 2009

Nascer

Entendi a beleza do inverno quando conheci de perto a primavera.

18 março, 2009

Margaridas

Quem explica que assim, de repente, enormes margaridas amarelas apareceram no jardim em frente minha casa. O gramado tão somente verde desde que me mudei está salpicado de flores amarelas, que já nasceram grandes e abertas, ninguém plantou, ninguém regou, e assim, de um dia pro outro ao abrir a janela lá estavam elas!
Quem é que explica a Primavera? E quem ainda duvida da força da natureza? E quem ainda se pergunta qual a medida que fazemos parte dela? As margaridas amarelas que simples e naturalmente se "esticam" ao sol respondem e é uma resposta cheia de mistérios gostosos, porque ainda que a ciência me explique o fênomeno de seu brotar jamais tocará no que significa o ato de abrir a janela e lá estão elas. A ciência traz as lógicas mas nunca os porquês, ainda bem. Nada melhor que sentir e ser surpreendidos por flores amarelas num dia de sol.

16 março, 2009

Domingo de sol

O domingo amanheceu com céu azul, sol alegre. Nem almoço me ocupei de fazer, já logo pela manhã agarrei meu casaco, porque diferente do Brasil aqui muitos dias de sol são frios, e fui para a Columbia Road, para o mercado das flores.
Ao chegar o que me provou que eu estava no endereço certo foi a multidão de pessoas a se espalhar pela avenida central, pelas ruelas, por todos os cantos, todos sem excessão a carregar flores.
A rua foi tomada pelo som da sanfona tocada pelo homem de chapéu furado e pequeno cachorro ao lado. Para banhar se ao sol as pessoas se espalharam pelas calçadas e pelas ruas.
E pelos caminhos e pelos parques o que mais se via, além do sol e do céu e das flores, era gente. Crianças soltas a correr, engatinhando na grama, circo e alegria.
Essa é grande graça do inverno longo e deve ser por isso e pra isso que a natureza o inventou por essas bandas, para que possamos sentir a primavera chegar. A alegria dos contrastes vem sempre com grandes cores, e esse equilíbrio louco é que nos faz sempre repletos de esperança.
Comprei tulipas e um pequeno pé de tomate.

10 março, 2009

Colheita

Nesse desabafo de sentir o tempo confessei a uma amiga que estou iniciando uma leve despedida de Londres, uma vez que esta foi praticamente minha última férias aqui. Confessei a pontadinha no coração que dá, natural quando começa se a descer a ladeira de uma determinada estrada rumo a outro caminho. E ela me respondeu: Que isso Ju, o que te espera é tão bonito. Vai começar a viver!
E nunca tais palavras fizeram tamanho sentido. Não que não viva agora, porque deus meu como vivo. Mas está se encerrando o período de semear certas coisas, um marco no tempo da minha estrada, aquele que anuncia não tão longe a farta colheita.
Obrigada Alice.

O tempo

Estou sentindo o passar do tempo. Eu que sempre tentei entendê-lo e que, mesmo nostalgica, sempre fui fluindo com ele. Eu, que nem 30 anos tenho ainda. Mas sim, tenho sentido o passar do tempo. E isso é uma sensação curiosa, doída, que enche os olhos de lágrimas sem saber exato de que emoção, apenas emoção. O tempo que passa, senti-lo passar nos coloca em lugar diferente que somente vê-lo. Senti-lo é estar no rio que nos leva carregando o peso da água, bebendo-a, não apenas observando ela correr mas sendo ela como um todo, logo não poderia ser sem olhos rasos.

09 março, 2009

8 de Março

Outro dia a Rosâni, minha sogra, pediu me que escrevesse uma frase para o dia internacional das mulheres para ela presentear as colegas da associação que preside com uma flor e com uma palavra. Me senti muito satisfeita com o pedido mas não consegui escrever uma frase, fiz mesmo uma página de texto. Falando dessa nossa sutileza e força e dessa enorme e natural capacidade para o amor. Hoje me emocionei ao ler palavras do mestre Saramago em seu blog, texto esse que ele finaliza bem próximo ao meu.
Feliz 8 de Março a nós todas, ainda que hoje seja já o 9, porque na verdade o dia é só o simbolo de algo muito maior. Leiam o Saramago que fortemente recomendo.

07 março, 2009

Música

A Leca querida indicou e eu adorei! E o vocalista é a cara do Xande Ciolette

6 meses

No dia 6 de Dezembro de 2003 o mundo parou por um segundo para nós. Suspenso em um ar preso por dois lábios que se encostavam, quando, se fadas existem, todas elas de uma só vez rodavam no ar. Momento que o amor se dá. No dia 7 de Setembro de 2008, meus pés vestiram se de salto alto, meu corpo de branco, com direito a véu, a flores. Um dia de céu azul profundo, com um Cristo de braços abertos a nos abençoar. Você estava lindo, com roupa feita sob encomenda. Seu sorriso tímido parecia ainda mais brilhante, nossos olhos se cruzavam a todo instante. Não me lembro de quase nada a não ser cores. Foi numa manhã ensolarada de domingo e por isso as mulheres se vestiram de vestido de flores coloridas, e a igreja foi tomada por muitas cores. Lembro me da escada do lado de fora, das pétalas brancas e das folhas verdes a enfeitar o chão, da carta de São Paulo aos Coríntios, "Pois sem o amor eu nada seria", e das poesias como lembrança, escolhidas uma por uma por nós. Lembro-me do acordeon, do violino, dos simpáticos senhores que andavam pelo salão a tocar. Do choro e da graça da daminha, da simpatia sem igual dos nossos pajens, da Ave Maria lindíssima da sua avó, dos aplausos, do beijo, da chuva surpresa de flores no final, e mais que tudo nesse mundo dos seus olhos quando saímos da igreja. Lembro-me que estavas sem ar, assim como eu também estava. Seguraste o lenço por sobre a boca, por sobre o nariz buscando o oxigênio que naquela profunda emoção nos sumiu. E sem dúvida as fadas dançaram mais uma vez ao redor. Hoje são 6 meses da celebração do matrimônio, quase seis anos daquele beijo na escada do TU e as fadas cá estão sutilmente a bailar.

04 março, 2009

Confissão

Já escrevi aqui que quando criança olhava os grãos de poeira refletidos no sol e acreditava serem fadas. Ainda hoje me divirto com a idéia, e quando a censura de adulto me vem repito para mim: ok, vamos brincar que são fadas, vá! Faça um pedido. E nunca peço nada.
Ainda lembro de mim sentada em frente ao altar em uma igreja em Belo Horizonte, tantas imagens a me olharem e eu nada conseguia pedir. Isso foi no tempo em que ia semanalmente à igreja. Mas só quando ela estava completamente vazia. Escolhia os dias e horários sem missa, em que a igreja estava trancada, janelas cerradas. Pela sacristia eu pedia a chave e eles me davam. No silêncio daquele templo meditava e agradecia. Tinha meus 19. E a igreja era daquelas enormes, com muitos bancos e vitrais. Ainda me lembro que minhas orações eram voltadas muitas vezes para as imagens das janelas,por onde entrava o sol.
No dia em que decidi não fazer primeira comunhão desci para o jardim dessa igreja, o sino tocava e me lembro como se fosse hoje, apesar de ter apenas 10 anos de idade, lembro-me de que conversei com Deus, "Me perdoa, quero conversar com você do meu jeito".
E assim foi.E assim tem sido.
Hoje eu e Leo tivemos um dia lindo. Andamos por Londres, passeamos. Uma neve caiu do céu em uma tarde de sol. Sim tudo isso ao mesmo tempo. O sol e a neve. Descobri que já reconheço a textura da neve quando cai em meus ombros. Até outro dia só conhecia a textura da chuva e o calor do sol.
Agora também conheço a neve. E as vezes consigo vê-la como simples e sutis toques de fada a me acariciar, a molhar os olhos. Em sua brancura fria vejo também um pouco de Deus, e agradeço.

01 março, 2009

Paz Vermelha

Como é bom ter o calor novamente. Calor que esquenta a alma, no roçar delicado das pernas por sob a coberta. No não fazer nada de um sábado a tarde, somente estar em paz. Havia me esquecido da paz do calor. No começo da nossa relação era sempre assim, calor e paz, fícavamos horas na cama aos sábados somente a nos abraçar. E agora repetimos a dose.
A imensidão da vida esta ali, aqui, no calor dos corpos silenciosos que se enconstam. E a energia que os circunda é tão grande que a paz é pintada em cores quentes e vibrantes, não mais somente no branco da tranquilidade. Nesse calor a paz é ainda maior e por isso consegue ser uma paz vibrante, paz absoluta, aquela paz que só o amor é capaz de dar.
Tivesse todo o mundo esse calor. Ninguém teria a disposição de mudar de habitat que não a cama em que os corpos se encostam, e ao invés de violentá-los seria sempre o sutil tocar. Esse tocar que você me traz e que vem com a certeza de que nada vida é tão necessário quanto isso.

22 fevereiro, 2009

O Amarelo

Queria saber o que é o amarelo. Amarelo cor das flores que enfeitei a casa no mesmo dia em que recebi uma série de revistas Bravo com título amarelo e um casaco de borboletas mil bem amarelas. Queria saber o que são todas essas cores que combinam a sutil decoração da minha casa sem que eu tivesse preparado, elas estão aqui, todas elas se combinando sem o auxílio de um planejamento. Minha casa é colorida e se combina sem que eu tivesse pensado em combinar.
O amarelo foi tão presente naquele dia, que desde então faz sol nessa cidade em que outro dia mesmo o branco imperou. Faz sol e está quente, como talvez peça o amarelo. Soubesse eu o que realmente representa tantas combinancias do universo, encontradas em uma simples rotina doméstica, soubesse eu o que é o amarelo! Se o soubesse não o conseguiria escrever.

18 fevereiro, 2009

Flores

Hoje saí da escola e comprei lindas flores amarelas. As coloquei num vaso quase que no centro da sala. Lá estão, abertas e cheirosas, para que quando entre de volta em nossa casa as veja e as ouça dizer sussurrando lentamente para ti: "Seja bem vindo de volta...como é alegre ter te aqui".
Flores felizes acompanhadas de bilhete enfeitado de amor. Sem meu abraço físico pois estarei ensaiando, mas se observares bem verás a garrafa de vinho escondida por entre os potes em cima da geladeira já preparada para o jantar a dois.
A alegria é assim, sua ausência aguça sua presença, e nada melhor do que esse fluir louco da vida que mata os medos, que enfrenta a solidão, que atravessa o oceano para peitar as oportunidades e que traz como resultado sempre e tão somente Flores, e dessa vez elas vieram amarelas da cor do sol.

15 fevereiro, 2009

Inútil Ansiedade do Pensar

"Eu atravesso as coisas- e no meio da travessia não vejo!- só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa;mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais em baixo bem diverso do que em primeiro se pensou. Viver não é muito perigoso?"

Guimarães Rosa, "Grande Sertão Veredas"
É... não perguntemos tanto o que será.
Eu não faço idéia, só sei que será bom e na exata dimensão do meu (nosso, porque ando acompanhada) Desejo.

Fútil necessário

Ai que fiquei enlouquecida com esse site! Eu estou entre as milhares (ou milhões?) de pessoas que sentem que algum pedaço de si está lá...em Paris. Esse site é uma delícia sem fim para meninas como eu que adoram coisas assim, bem meninas, cor de rosa e de laço de fita. Me delicio!! E claro, fico querendo comprar sapatos, acessórios e lindos artigos retrô pra minha casa.

E quanto a Paris...voltarei em breve!!!

13 fevereiro, 2009

Comendo outros animais

Sou vegetariana. Nada de viga, como produtos de origem animal, mas faz um tempo que parei completamente de comer o bicho. E me sinto ótima. E não tenho vontade nenhuma de voltar atrás, por mais que ao ir ao Brasil eu tenha sempre que explicar para olhos e bocas escancarados o porquê da minha escolha. Nossa cultura culinária é bem baseada na carne, embora seja hoje bem grande o número de vegetarianos, é sempre um espanto uma dieta sem um animal bem ou mal passado, principalmente em Minas Gerais... Hoje ao ler o blog do Saramago me senti bem por minha escolha. E seria legal dividir com quem quer saber o que ele diz sobre o que fazem com animais pelo mundo...

Haja visto o que se faz com outros seres humanos nesse mundo imenso e muitas vezes cruel, não seria de espantar torturas e outras mazelas a animais.
Pra finalizar só quero enfatizar que não tenho ABSOLUTAMENTE nada contra quem come carne, de forma alguma, nem quero aqui levantar bandeira "paremos de comer os bichos", nada disso. Cada qual com sua escolha. Não gosto de levantar bandeiras, gosto de propor pensamentos...
Vai lá no Saramago...
http://caderno.josesaramago.org/

10 fevereiro, 2009

Cresce cresce e crescendo

Um pedido de desculpas que eu deveria retribuir com um muito obrigada. Solidão é entender que não há pra onde correr, é olhar pra frente e vê estrada grande, olhar pra dentro e enxergar infinito. Aprender a falar sozinha e dialogar com seus inúmeros pensamentos, te perceber inúmera e variada e respeitar todo seu modo de falhar e viver.

Meditar, respirar, tomar o tempo que tem para fazer o que àquele tempo cabe. Perceber os silêncios quase inexistentes em uma alma barulhenta que diz ininterruptamente aos que queiram escutar.

Estar só para mim foi engrandecedor, foi dor. Estar só foi aprender a apostar todas as fichas em mim mesma, e assegurar que os resultados positivos ou não serão sempre os meus resultados. A continuar a crer na vida, em mim e no meu amor. Aprendi sobre o amor, reafirmei o meu pelo Leo, e vi sua imensa vastidão. Descobri que ele é maior que o mundo e caminha junto com o amor que carrego comigo por mim mesma. Agora sim, vejo me mulher, mulher do mundo, de mim mesma e daquele a quem dedico meu amor e amizade.

Meu magrelo cheiroso, não há desculpas nem perdas, só recompensas. Prepare-se para esticar mais os braços na hora de me abraçar, estou bem maior.

08 fevereiro, 2009

Detalhes de nós dois

Estou com saudade do seu cheiro Leonardo. Hoje vesti um suéter seu. Um azul marinho guardado no seu armário. Tenho também usado suas meias.Fiz isso sem pensar, simplesmente abri seu armário ao invés do meu e passei a usar no dia a dia pequenos detalhes de ti.

01 fevereiro, 2009

A Neve!!!!

Hoje ao sair para o ensaio vi uma Londres de céu lilás e fresca. Com flocos brancos flutuando pelo ar, sutil e levemente. A lua já no céu ainda claro enfeitava o cenário de tons sutis e imenso em beleza e paz como só a natureza pode ser em sua imensidão;

Ao sair do ensaio Deus decorou a invernal London com uma neve branca,de uma forma que eu nunca tinha visto. Andava deixando minhas pegadas e tentando não deslizar no gelo que derretia no asfalto. Os sutis flocos brancos multiplicaram-se em incontáveis, inumeráveis. Realmente nevava.

E foi lindo. Tudo branco. Tudo branco. Uma imensidão branca em contraste com o verde, o cinza e todas as cores. Hoje predominou o branco, e como foi bonito...

29 janeiro, 2009

Para multidões

Para hoje preciso levar um discurso para a aula. Levarei esse.

28 janeiro, 2009

Grito!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Amor eu to morrendo de saudade!!!!
Do seu pijama, do seu cheiro, do seu calor, do seu café da manhã, do seus olhos pequenos olhando ao infinito piscando sem parar.

Sinto falta de você a organizar suas coisas, de observa-lo em silêncio. De me ajudar nos nós dos meus processos criativos, de me dar seu peito que tão perfeitamente encaixa minha cabeça.

Amor, eu to morrendo de saudade! E a minha vontade era gritar todos os palavrões do mundo na tentativa de descrêve-la. Mas nem assim seria suficiente.

Amor, estou morrendo de saudade!!! Morrendo.

27 janeiro, 2009

Nascer

Ouvi uma vez que o lugar em que nascemos é aquele em que passamos a nos ver de uma forma inteligente.

Isso muito me tocou. Primeiro porque tenho incrível resistência em dizer que nasci em Londres. Talvez prefira dizer que a Inglaterra me fez mais brasileira e assim sendo renasci no calor do Rio de Janeiro, como história repetida contada sobre um diferente ângulo, eu mesma da mesma linda mistura, na mesma cidade maravilhosa, mas sob vista diferente. Eu mesma do mesmo porto, vista pelo avesso.

Ou dizer que não somente nasci em Londres porque ele me fez maior, mas também no Lispa. Mais uma vez no palco. Lá. Aqui. Sim.

O nascer e renascer em mim mesma, naquele lugar. Que sempre será o Rio de Janeiro, que sempre será o palco e o colo dos meus pais, com o calor dos meus amigos e irmãos e o aconchego do Leo. Essa sou eu. A brasileira que se fez mais do que isso em uma terra distante, terra essa que por não dizer tanto de mim, mostrou-me tudo que era preciso para entender-me, por ora. Isso é sempre finito porque o não entender-se será sempre infinito. Guimarães Rosa muito tem me alertado sobre isso, mudamos a todo tempo!
Mas o que carregamos, carregamos.

25 janeiro, 2009

Peça

Estou escrevendo minha primeira peça (que ousadia). Ela não fala de borboletas nem de grãos de poeira que são fadas. Mas fala de mim. E se fala de mim falaria deles(as)? Acho que sim.

Consigo por no papel todas as idéias, e é bonito. As palavras são bonitas. O desafio é dramaturgico mesmo. Mas se lá falo do cá, se lá falo da nossa pressa, é hora de entender que nem tudo gira como a cidade que descrevo, muitas vezes as coisas vão em linha reta para depois se curvar. Preciso olhar para a parte de mim que, parada, pensa.E joga flores no caminho.

Em breve, divido a peça. E aí entenderão essas palavras. Fica por ora o gostinho da curiosidade. Aqui divido segredos, e as vezes eles precisam vir segredados. Quer coisa melhor que você entender por si próprio, por sua própria adivinhação?

23 janeiro, 2009

!!!!!



Fala a verdade, tenho ou não que ser uma tia super coruja?? Olha a testa franzida! Ai Biel, sua tia te ama. E te amo também Ju.

22 janeiro, 2009

Hoje eu acordei

"Chuta que é macumba!" E bora lá cantar pra poeira subir. Porque hoje acordei assim. Se você não, escute para contaminar-se.

Solitude

Um simples e inofensivo inseto. Chamaria barata ou grilo, mas não sei qual seu nome ou classificação.

Um simples e inofensivo inseto fez ecoar minha solidão enquanto cozinhava meu jantar.

Um simples e inofensivo inseto pousou ao meu lado no fogão e não poderíamos continuar lado a lado, mas tão menos poderia eu matá-lo, encostá-lo.

Olhei para os lados não havia ninguém. E esse não é o problema. Não havia ninguém e principalmente não haveria ninguém pelas próximas infinitas e longas 100 horas.

Um simples inseto e o fato de eu não querer que convivessemos trouxe a tona a força do estar sozinho.

Deixe-o estar lá. Na cozinha. Posso me virar, mas ser só é ser você, e no quesitos insetos e animais terei que me debater no conflito de que não posso matá-los nem quero tocá-los.

Estou só e já não me importo de sentar a mesa somente comigo e meus inúmeros pensamentos, mas queria alguém para matar insetos. Para estar ali, pelo menos, para me passar o chinelo.

18 janeiro, 2009

Sobre o amor

Tem perigos demais nessa vida, já dizia Guimarães. Tenho aprendido a lidar com esses perigos e como tenho aprendido sobre o amor.
No dia em você foi embora Leo, a casa se tomou de um vazio imenso.A nossa despedida na plataforma do metrô foi uma despedida calma e cheia de esperança, mas foi só virar minhas costas e entrar na plataforma oposta para o retorno pra casa que um vento enorme, vindo do túnel do trem, invadiu o enorme corredor, vazio, num ritmo absoluto de vazio e solidão, ecoado por folhas de papel de um jornal tablóide que voavam entre os bancos.
Então eu senti. Senti quando abri a porta de casa, e tudo era enorme, e tão silencioso. Aquele silêncio que nos confronta com a dor. Chorei. Muito. E como não guardo soluços, gritei.
O dia, que havia amanhecido chuvoso tomou-se por um enorme fog, cinza, totalmente tapado por uma enorme neblina.
Na escola o professor dizia: "No melodrama tudo contribui para o drama do protagonista, a música, o cenário", e lá estava eu em um dia absolutamente cinza, em uma atmosfera de filme de terror, protagonizando minha primeria solidão. E lá estava a natureza, mais uma vez unida a mim, criando o perfeito cenário para o meu drama. Faltou a trilha.
Mas aí você chegou no Rio de Janeiro, na casa do meu avô, que com 93 anos mora sozinho. Não está temporariamente sozinho como eu, ele mora mesmo só.
Meu avô remoçou vinte anos durante os poucos dias da visita, que fez com que ele buscasse livros pela casa, contasse casos, reanimasse seus dizeres biblícos. Nesses dias ele atendia o telefone com certo entusiasmo que me comovia e fazia feliz.
Sim, aí a ficha começou a cair.
Você foi para Belo Horizonte, reviu sua família, e eles puderam te rever. Faz sol aí no Brasil e é calor. Você por ora parece entediado, mas está feliz.
Sim meu amor. Aprendi sobre o amor. Meu avô foi feliz por você estar lá, e outros aí estão feliz em lhe ter. E fico feliz. E sigo tranquila.
Hoje aqui, faz sol.

16 janeiro, 2009

ventilador

Tudo vai e volta nessa vida, e não foi a toa que escrevi sobre uma cidade redonda...
A história de uma mulher forte, que marcou um momento da minha vida, no encontro de um personagem, de uma vida real, de um filme cujo processo foi tão bonito e me trouxe tantas, tantas belas pessoas, que só tinha mesmo que voltar.

Dessa vez é a homenagem à Gilse Consenza. Vamos contar sua história na escola. Uma inglesa, duas norte americanas, uma chinesa, uma argentina, uma polonesa e eu e Di, brasileirissímos.
Sim, a história de uma forte mulher brasileira, nossa história sendo contada e sabida por pessoas de tantos cantos do mundo. Uma delícia.

As pessoas nos ensinam muito, e a vida ainda mais. Que bom que essa história voltou para mim, um dia a conto aqui.

Também, na minha solidão, aprendi mais sobre o amor. Mas isso é assunto para outro post.
Sei que esse está um pouco vago, mas no fundo, em seu recheio, tá a mensagem e a reflexão do quanto tudo volta, vai e volta, por isso é bom jogar beleza no ar, porque o vento sempre nos traz de volta.

12 janeiro, 2009

Ensaio sobre a cegueira

Hoje vi pela segunda vez o filme Blindness, uma amiga querida fez o convite e não recusei, tarde de sol em Londres, cinema em Leicester Square (gosto muito!),fui!

E que bom que fui. Comprovei novamente que gosto muito, me toca muito, me diz demais...
Algumas falas ficaram ecoando na minha cabeça...Registro aqui o que tá na memória, traduzido...

O Médico diz para sua mulher: Você está com medo de fechar os olhos? E ela responde: Não, estou com medo de abri-los.


"Eles então choraram não se sabe se de alegria ou se de tristeza, a verdade é que não se distingue uma coisa da outra, elas, como branco e preto, coexistem".


E o homem da venda preta diz: A mim não me interessa como é sua aparência. Nosso nome não é importante, o que importa é o que somos.

O primeiro cego diz à sua esposa:Lembra-se do primeiro ano novo que passamos juntos, estava um frio enorme, e quando chegamos perto dos fogos de artifício somente metade do nosso corpo se aqueceu?
E ela, após alguns dias, responde: Me lembro daquele dia, e de que o frio nada me incomodou.

O médico fica infectado da cegueira e sua esposa, que enxergava, beija seus olhos.


E mais uma vez obrigada Uakti.

08 janeiro, 2009

Começamos a trabalhar a tragédia e o épico dramático. Como início de qualquer coisa nos foi proposto uma gigantesca roda, em nosso novo gigante espaço de ensaio, onde cada um ia ao centro e confessava a todos, em alto e bom tom, em quê ele acredita.

Foi um dia lindo, ouvir tantas coisas belas, ouvir pessoas dizendo que acreditam num pôr do sol, no ser humano, na mudança, em fantasmas, e em tantas coisas que...não se sabe por onde começar.

É incrível como nós seres humanos somos capazes de coisas tão belas e crueldades tão amargas. Nessa tarde de confissão do crer, só saíram belezas dos corações do que ali estavam. Um colega, o último, desabafou: Eu creio, eu quero crer que tamanha beleza vista hoje aqui seja posta em ação e que tantos desejos belos sejam da mais profunda e sincera verdade. E é por aí.

Eu disse que creio na força do pensamento e no amor, deixei guardado o segredo das fadas.
E você, em quê acredita?

07 janeiro, 2009

Mais carta a Leo

É já com certa nostalgia que me lembro daquela noite em Belo Horizonte quando entrei em seu carro, e assim que bati a porta lhe disse em um estado eufórico e confuso: Amor, fui convidada para estudar em Londres, o diretor da escola me deu o curso de teatro de graça!
E que você me respondeu sem pensar e com naturalidade: Então vamos para Londres.
Encontramos um Mestrado que unia sua formação com seu gosto e a partir dali você se especializaria, em Londres, em uma area com muitas possibilidades no nosso país. Se especializaria em algo que gerencia cultura, que beneficia a nós feitores diretos de arte e aos outros que devem consumi-la.

Viemos juntos. Minha bolsa foi o que determinou Londres como o destino de um desejo que há muito vinhamos cultivando, pensávamos que seria Paris, mas foi em terras inglesas que desembarcamos. Vivemos a princípio em 20 metros quadrados, e tanto aperto só nos fez ainda mais quentes, mais amorosos. Hoje podemos dizer que vivemos bem, temos uma charmosa casinha, acolhedora como a outra e ainda com a vantagem de acolher amigos, como já o fizemos algumas vezes.

Mas os ciclos aos poucos vão se fechando. E hoje entregaste sua dissertação de Mestrado, fomos juntos levá-la a faculdade, e no canto da página lá estava a dedicatória.

Eu já sabia disso meu amor, e por isso só posso lhe dizer que também vou contigo aonde quer que você vá, esse sempre foi nosso "hino" e essa é só uma das belezas do nosso amor.

05 janeiro, 2009

2009

Ano novo. Novo espaço da escola. Um enorme estúdio de cinema, desses que vemos na tv, tipo de holywood. Um enorme espaço cheio de imensos galpões, precisa de crachá pra entrar, e agora temos cantina e internet!

No caminho do novo espaço, do novo começo, chuva de neve. O vento trazia os flocos brancos ao encontro da face, sequer molhava, sequer senti o frio que tantos ao meu redor diziam sentir. Senti o vento, os passos, os flocos de neve que entravam nos meus olhos e forjavam lágrimas geladas, renovavam o ar, refrescavam o pescoço, aliviavam a alma.

Recomeçamos, pois, do zero mais uma vez. Graças.

01 janeiro, 2009

Parte de mim


Quando voltamos de Londres para o Brasil ano passado, sentados cada um em sua poltrona, suspendíamos o dedo no ar para apertar play no filme que passava na televisão individual à nossa frente. Segurávamos o dedo no ar e como crianças em um "já!" apertávamos o play juntos, para que o mesmo filme se iniciasse e para que estivessemos juntos assistindo à mesma coisa, como se fosse na mesma televisão.

Assim fazemos com tudo, não como uma obsessão, não como uma paixão doentia, mas como um amor gostoso que faz questão de que estejamos juntos nas pequenas coisas da vida também. De manhã você faz o café, a tarde faço o almoço e nos sentamos juntos para comer, paramos nossas leituras para vermos a série de tv, deixamos pra depois o filme que queríamos ver se um dos dois, naquele momento, não poderá. E é natural, é natural um sempre esperar pelo outro, os dois fazerem o esforço pra ser os dois. Desde o nosso primeiro beijo descobrimos que era muito mais divertido assim, então nos encontrávamos todos os dias, e aos poucos nos misturamos em nossos universos, não sem perder nossa individualidade, mas esforçando-nos, sem esforço, para que fossemos realmente parte um do outro.

Passei a saber mais de quadrinhos e cinema, fui ver filmes de super heróis mesmo sem gostar muito. Mas o programa é sempre divertido. A trilogia do Poderoso Chefão , Kieslowisk e tantos outros foi você quem fez a gentileza de me apresentar, e vemos e revemos, você me ajudou a descobrir qual era o meu gosto pelo cinema, pela literatura, hoje tenho meus diretores e escritores favoritos, que juntos dividimos e que você trouxe até mim.

No restaurante a sobremesa dividida e as vezes até a taça de vinho, não por economia mas porque contém a medida certa do nosso gosto.

Nossos passos andam juntos, escolhemos isso, e é uma das coisas mais alegres da minha vida. Tenho certeza que durante esses três meses de você lá e eu cá, não vai ser você lá e eu cá, seremos sempre nós dois.

Já estou pronta para o momento Lost assistido ao mesmo tempo em dois pontos diferentes do Globo.

Já te disse e repito, você é uma das minhas melhores e mais lindas partes.