29 dezembro, 2008

Novo ano

Nós precisamos fechar ciclos. Precisamos dos calendários, das celebrações. Precisamos enumerar o tempo, contar os passos, marcar um marco pra renovar o espaço. Precisamos de Deus, de fé, as vezes de religião. Precisamos de amigo, cafuné, calor, frio e amor, muito amor. Precisamos crer. Quando não cremos nos perdemos.

Precisamos crer para que vençamos o medo enorme que carregamos desde que nascemos.Medo de tantas coisas, medo de não darmos conta do recado, e ainda temos um enorme medo da morte, seja ele manifesto em qualquer sentido, seja consciente ou disfarçado, e por isso precisamos crer na vida, pra que o fim seja justificado.
Precisamos marcar o inicio e o fim de algo, a morte e o renascimento, de pequenas coisas, para que nos reciclemos e para que possamos nos encher de vontade de começar pequenas vidas dentro de uma outra enorme e finita, nascendo e morrendo em nossos medos e esperanças.

Em 27 anos minhas mortes e nascimentos me ensinaram a ser uma pessoa otimista, que tem que tomar cuidado para crer e não criar demais.

Que tenhamos sempre mortes e nascimentos que resistam à perda da esperança e do otimismo, para que sigamos sempre com alegria no nosso coração.

Um 2009 de otimismo, alegria, gentileza, amor e saúde, para TODO O MUNDO.

27 dezembro, 2008

...

“Deus é o silêncio do universo, e o homem o grito que dá sentido a esse silêncio”.
Palavra do Saramago.

23 dezembro, 2008

Sonhos acordados, imagens

Tenho um desejo secreto de escalar árvores. Como se fosse um impulso que me levasse às alturas, gastando toda minha ansiedade, dando me sensação de poder e liberdade. Subir, subir e subir.

Uma vez tive a imagem muito concreta em minha mente de subir uma árvore muito verde e enraizada ao chão com sua copa aberta ao céu. Enquanto subia, sentia me devorando- a ao mesmo tempo. Acho que sou muito faminta com a vida, mas isso é análise rasa de quem ainda vai se redescobrir muitas vezes.

Há algum tempo atrás todas as vezes que me lembrava de algo em que me senti ridícula fechava os olhos e via eu mesma voando em um trapézio, mais especificamente rodando em torno da barra que seguramos para voar.

De um tempo pra cá passei a ver, involuntariamente, minha face com um nariz vermelho de palhaço. Que coisa não...o palhaço, a revelação do nosso ridículo, sem medo de o ser. E olha que ainda não coloquei essa máscara no palco. Em breve minha escola me dará mais esse presente. Por ora deixa o impulso da minha imaginação satisfazer meus desejos, nem tão simbólicos quanto suas imagens.

19 dezembro, 2008

Alegria Alergia

E só pra complementar o post abaixo, toda vez que leio Alegria vejo Alergia e vice e versa. Que coisa não...a Alergia andava tomando conta de mim , mas aí a Alegria veio e fez parceria, melhor assim.(risos bestas de uma pessoa, hoje, alegre)

Alegria

ALEGRIA. Só a palavra por si só já é alegre, faz mexer todos os músculos da cara, e nos força um sorriso discreto ao dizer.

Alegria é diferente de felicidade, mas é ainda melhor porque alegria é palpável, sentido, falado, visto. Felicidade é conceito distante, complexo e tem mania de exigir muito da gente. Alegria dá de vez em quando e passa, mas quando dá alivia a alma. Alegria é simples e pede pouco, pode ser em dia cinza ou em dia de sol, pode ser por um doce ou por uma grande conquista.

Para a alegria não é preciso muito esforço, ela vem, assim, numa manhã em que abrimos os olhos e sentimos que algo reluzente dentro de nós, hoje, se agita.

Hoje acordei alegre, e como alegria é simples e se multiplica fiz do meu dia um dia super alegre e junto ao meu marido fizemos a alegria de pequenos momentos, de um passeio, uma taça de vinho, loja de coisas miúdas que amo, presentes para quem amamos.

Alegria é bom. Talvez seja até melhor que essa felicidade aí ó que todo mundo fica dizendo estar procurando.Algo com um conceito que tenta se enraizar numa constante, quando a vida é uma inconstante de instantes.

A vida é o instante e a Alegria é um sentimento que vem sem muita razão e não pede pra ficar, nem nós exigimos isso dela. Faz cócegas na alma, acalma o coração da gente e ainda propicia risadas!
Salve salve a alegria.

18 dezembro, 2008

Pra dividir

Viciada nessa música...
ps: Já prestou atenção na letra? (rs)

17 dezembro, 2008

Ufa

Só para dar uma refrescada após esse post "Raiva" tão estressado, eu, depois de escrevê-lo, tomei um banho de banheira com os sais que ganhei de amigo oculto, relaxei e preparei um belo jantar.
Estou muito bem, apenas pensando que se eu tiver que mudar daqui vai ser uma pena muito grande, e que, com tantos casos respiratórios e alérgicos na família sei que não será isso que me fará bater as botas. Sigamos com coragem, prometo fiscalizar manchas pretas, tomar muita água e mel (como recomendou mamãe).
E como diz a Leca, amiga de Bh, super alérgica e também super saudável, sem que isso seja uma contradição me disse que dá e passa, aqui suas palavras: "é... alergia é uma reação momentânea: sai o agente causador, sai o sintoma." Bora matar todos os mofos!
E torcer para que o aparelhinho de redução da umidade seja tão eficiente quanto o de ratos, que nunca deram as caras por aqui, já que temos um ligado em cada tomada. Tenho ficado fã desses aparelhinhos! Obrigado tecnologia!

Raiva!!!!!

A primeira coisa que quero fazer com esse post é dar um grito! aaaaaaaaa!!!Pronto. ok.
A nossa casa é um basement flat, linda, porém, porão. E por isso é o lugar mais úmido que eu já vi na vida. Tão úmido que a caixa de sabão em pó que fica no armário da cozinha derreteu de tão molhada e tivemos que adotar uma sacola de plástico para protegê-la, tão úmida que a parede detrás da nossa cama, dias atrás apareceu preta, sim preta, de mofo. A janela é molhada, de umidade. Algo tão absurdo que chega a parecer exagero, mas se vissem de perto entenderiam a dimensão do que estou dizendo.

Fato é que já há algum tempo venho sentindo dores nas costas, na parte de cima das costas, bem de leve, nada para se preocupar. Até domingo, quando uma dor horrorosa me atacou e bem na altura dos pulmões. Estava pronta pra sair, de rímel e cachecol, para ter um bolo e vinho na casa de uma amiga, quando desisti de tudo.
Os sintomas foram seguidos de uma ardência muito forte entre a minha garganta e o meu nariz. Foi aí que olhei pra parede preta. Leo foi lá e tirou tudo, todo o mofo. Coincidência ou não, comecei a melhorar, estou melhor agora. No dia que o Leo limpou o mofo tirou um papel, um texto que estava lendo, e que estava atrás da minha cama, totalmente molhado de umidade. Pronto, diagnosticamos. Mas precisávamos de um médico para confirmar, afinal ele estudou anos para isso.
Fomos ao médico. O primeiro era consulta marcada, onde fui atendida por uma enfermeira que disse que eles estavam agendando primeiro com ela para depois passar para um médico, se fosse o caso. Sim, era meu caso segundo ela, e agendou a consulta para a semana que vem, pois dois médicos estão de férias. Foi aí que eu e Leo tivemos a idéia de ir ao pronto atendimento, pra ver se resolvia mais rápido, só pra reforçar mesmo o que em prática já havíamos deduzido.
Esperei duas horas porque segundo o médico, Natal, busy time...O cara disse que com certeza o que tenho é dor muscular, mesmo ele apertando todos os meus músculos das costas e eu nada sentindo, mesmo eu dizendo a ele que ja havia sentido a dor em menores proporções desde que me mudei para a casa, e que no domingo eu quase morri de dor e que ela começou assim que saí do banho. Mesmo dizendo a ele que não carreguei peso, que estou de férias da escola, que no domingo, quando tive a crise de dor, passei o dia descansando, que tenho uma família com histórico de asma, alergias e problemas respiratórios, que minha casa é mofada, úmida, e que eu melhorei bastante depois que tirei o excesso de mofo da parede. Que tive enjoo, ardência no canal entre garganta e nariz... Afeeee. Ele foi lá dentro e voltou com um painkiller, remédio pra dor, e me disse, você tem que se mudar de casa, uma casa assim faz muito mal a saúde. E me dispensou.
Olha. Não consigo nem comentar isso. Me desculpem os médicos dedicados, e até mesmo os cansados que ainda cansados tentam fazer o seu melhor, mas o que rolou foi que ele não faz idéia do que eu tenho e nem quer saber, é muito mais simples ser uma dor muscular, muito mais, mesmo eu afirmando que a única coisa que tenho certeza é que não é muscular! Eu já tive dor muscular, faço teatro físico, e o que mais tenho são dores musculares, e nunca havia sentido uma dor como a de domingo.
Enfim. Estou bem agora. Compramos um desumidifcador de ambiente aqui pra casa e vamos cuidar para que não acumule mofo novamente, e eu só volto em um médico nessa cidade se eu estiver morrendo e dentro de uma ambulancia. Só.
E isso não vai acontecer. Não me diga pra procurar médico! Não vou!!!!!!!!!!! (um pouco de risos agora)

16 dezembro, 2008

Sapato

E por falar em Direitos Humanos façamos uma homenagem à aquele que têm sido mestre em renegar todo os direitos daquela constituição, e que revelou, junto à sua corja, como devemos ser se não quisermos cultivar o amor ao próximo, investindo em poderio bélico, em guerras absurdas e virando as costas para todas as misérias da humanidade e graves problemas ecólogicos que nosso planeta está sofrendo.

Nunca usei as camisas em que ele veste um nariz de palhaço, até porque como atriz vejo palhaços por um ângulo bem distante ao que esse cara pertence. Nem nunca quis gritar contra ele, mesmo sendo contra ele,mas depois dessa cena, depois disso, ah...tenho que dizer que a única coisa que me resta ao ver esse vídeo é uma pergunta: Porque não acertou no nariz? Que não é de palhaço e sim de um...

Humanos direitos

Lendo o blog do meu marido descubro a comemoração dos 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos. Desculpem a minha ignorância e desculpem ainda mais o nada que faço para cobrar das entidades responsáveis que cumpram com o que rege tal declaração. Sim, acredito no amor, prego a gentileza, mas acho que pensando nos 60 anos da criação da Declaração quase nada mudou, e eu em 27 de existência, quase nada fiz.
Criamos algo belíssimo que não tentamos alcançar, presos a egoísmos e desejos imediatos. Já diria o filósofo que todo amor é amor próprio, então como fazermos do nosso próprio amor algo coletivo? Sei que é vergonhoso o quão nada fiz, o quão nada fazem, e estimulante a idéia de pequenos grãos de amor, esse próprio ou não, distribuídos pelo mundo. Tentemos. O discurso é sempre caminho fácil e ao mesmo tempo falsa consolação.

Por ora deixa Elis falar, mais uma vez, por todos nós.

14 dezembro, 2008

vida e seus milagres

Minha tia tita, Ana Cristina, descobriu certo tempo atrás um tumor no fígado. Cancêr? Palavra doída de dizer, ninguém nunca me disse que ela tinha cancêr; mas um tumor não benigno no fígado. Impossível de ser removido, seu fígado era frágil para tal cirurgia, e para isso começou com um tratamento paliativo, que não sei o nome, não sei exatamente pra quê.

Minha tia tita nos deixou preocupados, ela estava. Mas algo dizia que a história a ser contada não seria uma tragédia em que nada se salva, até porque essa é uma forma difícil de se ver a vida que tem infinitas possibilidades, sempre.

Minha tia não tem mais o tumor. Nenhum médico tirou. Ninguém abriu seu corpo. Seu tumor não existe mais.

O que sabemos?

Nada talvez seja resposta pequena, ou quase exata demais.

Talvez saibamos muito, demais, mas nos esquecemos do saber, passamos ao nada para que os milagres façam-se as maravilhas da vida.

Agora ela tem que ir a Paris, porque da última vez que estive no Brasil e a encontrei triste lhe disse: Você vai ficar boa e vai celebrar em Paris.

Te amo Tita. E que linda é a vida

13 dezembro, 2008

O Natal

É gozado mas Natal para mim é sempre lembrar de alguns cheiros e imagens específicas. Eles já passaram há muito, mas ficaram para sempre como referência de Natal, mesmo após tantos diferentes natais. A impressão que me dá é de que eles resistirão para sempre ao tempo e a todos os outros que ainda virão. Então Natal para mim é, a coleção do Mickey da Pakalolo escondida no armário do quartinho de empregada, o vídeo game do perna longa criança, chuva, sono. Descer correndo a rua detrás da Mantena, a Ciça, escorrregando nas quatro patas, pequenina, e se aquecendo sob as luzes da árvore. Natal é especiais de natal na televisão, o desenho da rena de nariz vermelho e papai cortando com a cerra elétrica o peru para a ceia. É mesa com ameixa e bombons nestlé, é silêncio. Papai destribuíndo presentes, e fazendo comentários divertidos sobre cada um deles.

Natal é tentar ver o invisível, Natal é sensibilizar-se, mas mais que tudo, Natal sempre será infância. Sempre.

Hoje acordei aqui em Londres com o barulho da chuva que caía em pingos isolados e com intervalos na janela. Lembrei me da chuva do Natal, essa, uma chuva de verão do Brasil tropical.
Ontem tivemos o Natal da minha escola, cada grupo de cada país cantou uma música, demos a volta ao mundo em alguns minutos,e como sempre, foi muito emocionante especial. Comida a vontade e presentes, amigo oculto. Foi lindo.

Então acordei hoje lembrando me do meu Natal, esse forte Natal de sempre, colagem de imagens, o meu eterno Natal. E aí dá saudade do quê... até nem sei.

09 dezembro, 2008

When you get the chance

Não vá me dizer que isso não é ótimo. E o poder que não dá?!

"You can dance, you can jive having the time of your life...and when you get the chance..!!!"
(Arrebenta Leo. Te amo)

Divagando

O que é a solidão. Questão difícil. Fato do qual fugimos toda a vida. Saramago acaba de me dizer, talvez pelas palavras de Pessoa, que solidão não é a ausência de alguém que lhe faça companhia mas sim não dar conta de fazer companhia a alguém ou algo que está dentro de si.

Alguns símbolos sempre voltam para mim e estão embutidos no meu processo criativo, do meu projeto final, que pretendo levar até o Brasil. Um deles é a árvore e Saramago diz que solidão é como a folha que não procura a raiz. Tenho procurado tanto a raiz de tanta coisa e tomara que seja essa uma boa solução para a solidão dos próximos dias sem o Leo nessa terra gelada, de belezas invernais e pessoas que se atiram sob os trens.

Mas Londres é especial, nos ensina sobre solidão e raízes, mais do que tudo. É bonita e é cheia de informação.
Bendito seja meu tempo aqui, que meu tempo seja meu e o que queres fazer de mim enquanto passa, assim por ele vou passando sem ser o simples passar, tão bom enxergar raízes para poder voar...

07 dezembro, 2008

vida loca vida

Ontem a noite, sentada no metrô voltando do trabalho ouço uma voz familiar, olho ao redor e vejo ao fundo do corredor dois senhores conversando, um deles era o que trazia a familiar voz, sua voz era muito parecida com a do meu professor de Space Lab. Resolvido de onde vinha tal voz voltei a olhar para frente e começei a pensar no meu professor ( o que tinha a voz parecida com a do senhor a falar), no meu projeto de Space Lab, que é de construir um palco, e sem mais nem menos quando viro minha cabeça para o lado...

O professor está sentado justamente do meu lado. Justamente. De cabeça baixo, profundamente calado.

Não me contive, dei um grito : Oh My God!!!!!!

Primeiro tinha ouvido a voz dele, que vinha de uma outra pessoa, depois pensei muito nele e no segundo após ele surge ao meu lado!

Olha não quero tentar encontrar respostas, explicações e menos ainda resumir como uma simples coincidência. Deixa estar. Mas achei bem maluco isso, e é possível que você que está lendo também me ache maluca, mas acho que esses detalhes da vida não podem passar simplesmente como : ah...acontece. Tenho pensado muito nessa coisa de conexão com o universo e relação espaço e tempo...por mais complicado que seja no minímo é bom sempre confiarmos na nossa intuição.

Foi bom que conversamos sobre meu projeto que é um pouco ambicioso e ele me esclareceu que acha possível, antes de vê-lo estava pensando justamente que ele não acreditava na minha idéia. Foi bom esclarecer.

Adoro essa vida e seus caminhos, e seus encontros e seus sinais. Há que se atentar para eles, acontecem a toda hora.

06 dezembro, 2008

Leo

Agora é Bach e sua sinfonia que nos acorda. Ainda com os olhos pregados de sono nos abraçamos. E é tão forte. Sabemos que essas manhãs terão uma pausa. Então a melancolia de Bach se soma ao nosso amor e à antecipação de nossa saudade. E como ela já é grande antes mesmo de acontecer, meu amor.

O consolo é que talvez a vida para nós ainda seja muito longa e que estamos apenas à ensaiar esse tal "bom dia".

Pisando para fora

Dias de sol em Londres. O frio continua agudo, mas a diferença é que o frescor de um dia de céu azul se faz presente. Há que se apressar se deseja sentir o gélido sol em céu azul, que tem específica e boa energia, porque após as 4 da tarde o astro rei mesmo que gelado, já nos deixou.

Mas o vento varreu o sentimento de tristeza que rondava meu coração. Projetos para um futuro bem próximo me tiram noites de sono a escrever, e na escola consigo ver um amadurecimento muito grande, um olhar de fora, observar os processos além de somente vivê-los. Acho que além de viver é preciso dar um passo para trás e observar, e criar seus próprios códigos, e ver seres humanos próximos de ti e suas fraquezas, assim quando se pisa para dentro sabe-se ser mais.

Os outros nos mostram e por isso observar deve ser também parte do exercício. Só fazer e fazer talvez nos cegue.

Agora tento fazer isso, o fazer e o parar para olhar.

03 dezembro, 2008

Sonhos

Durante a aula de Company Development foi nos dada missão de escrever, para nós mesmos, a vida perfeita,e depois pensar em 5 obstáculos para se chegar a ela.

E me assustei com o quanto meus sonhos são próximos de mim, por mais sonhos que sejam.

E não consegui encontrar sequer um só obstaculo. Não achei nada que os impeça. Coisas precisam ser feitas e acontecer para que eles se materializem, mas não achei nada que deveria vencer, derrotar ou matar para tê-los. Descobri que meus desejos são parte forte de mim e só haverão obstáculos se eu os for.

Dentre tantos, como uma cia teatral com verba e público, como nunca perder minha inspiração, filhos saudaveis, meus pais sempre perto ainda que longe e fazer muito cinema, um desejo, quase sem razão, tem sido o mais forte: O Rio de Janeiro numa manhã de sol e uma bicicleta.

30 novembro, 2008

Aniversário

Hoje é aniversário do José Edmar.
E para celebrar tenho certeza que se fartou de uma boa e saborosa comida com sua família linda e de alegria. Ele sempre me pareceu um homem que sabe encontrá-la quando a precisa, a alegria. Tem a voz firme e uma simpatia sem igual. Vejo pequenos detalhes cotidianos dele no Leo, o jeito de misturar a comida no prato e alguns trejeitos na fala. Mas mais do que isso vejo muitos valores belos que sei que saíram de lá.

Que hoje seja um dia da alegria que ele sabe sempre fazer e encontrar e que eu possa abraçar-lo de verdade, em breve.

Saúde, paz...muita, muita coisa boa!!

A Alegria

Sexta a noite. Voltava da escola no metrô que atravessa a cidade, como sempre pessoas cansadas e empacotadas em casacos à minha frente e a voz do motorista do trem se fez ouvir "senhoras e senhores, tem um homem embaixo do trem em Liverpool St, então este é o último trem que vai para o East hoje".

As pessoas aqui se atiram debaixo dos trens.

E é um país sem miseráveis, sem enorme buraco social, sem fome. Mas é uma cidade que as pessoas se atiram debaixo do trem, se esbarram na estação, correm o tempo todo, o tempo todo, sem razão. Acho que correm demais. Saem do metrô e precisam subir correndo as escadas para sair da estação.
Se alguém as informasse que um minuto a mais para subir lhe oferece mais ar e calma talvez elas percebessem que essa sim é uma diferença do TEMPO nessa vida que vale tanto e passa tão depressa.

Quero para o meu futuro o sol do Brasil. Quero a música que vêm dos morros, quero a nossa tragédia e nossa beleza, mas acima de tudo a nossa alegria. Quero passar a passos calmos pelas pessoas, as olhando como pessoas a passar pela vida, ou pelo menos fazer o exercício de tentar. As notando e fazendo assim me notar.

29 novembro, 2008

Casa de amor

Casa cheia. Duas amigas queridas encheram de cores nossa casinha. Tenho agora flores coloridas no cabelo, mesa do café da manhã lotada e muita risada.

Deborah passou por aqui e deixou velas laranjas, papos sobre nossa mente, aromas para a casa e muita alegria.

Dudinha e Nana estão enchendo a casa de risos, sacolas e calor.

Uma delícia.

Como é bom tanto amor tão pertinho.

26 novembro, 2008

Um segundo

Enquanto as pessoas se ocupavam em falar sobre si mesmas, tentando responder à pergunta da professora: "você tem alguma experiência com administração de uma companhia teatral?" E se embrenhavam em um ninho do ego, em que falavam, falavam e não diziam nada, palavras vieram à minha cabeça.

Imagens e sensações. Palavras se desenharam no papel e descreveram a minha vontade de engolir o céu, desenhei poesias por letras que diziam sobre o vento que resseca a garganta quando escancaramos nossa boca apontada ao infinito e matamos a sede de imensidão azul. As escrevi no caderno.

Fui interrompida em meio ao engolir o céu por metáfora por uma colega que dizia, e suas palavras ocuparam, na minha cabeça, o lugar que antes estava o céu a ser engolido: "Na verdade não tenho muita experiência administrativa, mas..."

E o ego voltou a rodar.

Por um segundo fui ao ar, mas rapidamente voltei à Terra.

23 novembro, 2008

Brasileira

Dizem que o que se vê de dentro é sempre muito diferente daquilo que se vê de fora. Sair do Brasil foi uma coisa maravilhosa na minha vida. Não porque eu detesto meu país ou porque queira bancar um discurso de que lá é muito violento e tem pouca possibilidade porque não penso nada disso. Dou graças a deus de ter saído porque isso me fez ter a certeza do regresso.

Estar de fora, e, principalmente, conhecer tantas pessoas de tantos outros lugares do mundo me fez enxergar o quanto somos coloridos, festivos, alegres e quentes. Como nossa expressão cultural é forte, viva e sincera. Fez me dissecar cada trecho do nosso hino e interpretá-lo como palavras de esperança, luta e paz. Somos um país que tem muito de paz e poesia.

Admiro nossa música que é em toda esquina e no nosso corpo, e sim, acredito na mudança de nossas tragédias.

18 novembro, 2008

Gostosura para dividir com o mundo

Gabriel, de novo. O olhar já nos avisa o que nos aguarda.

15 novembro, 2008

Benção

Ela sempre falou muito para mim. De arrepiar me os cabelos do braços, quando aos 16 anos ouvi ao longe, vindo de uma igreja numa cidade do interior em uma Sexta feira da paixão. Em meio à farra adolescente da viagem entre amigas, a música me conectou com algo profundo sobre mim mesma. E assim o é até hoje.

Talvez porque, segundo relatos, minha avó materna a cantava lindamente e sempre, o que faz com que minhas tias e mãe chorem toda vez que ouvem, tamanha é a lembrança. O escolar quando criança a tocava no rádio, todos os dias quando voltava para casa, mas já ali existia algo entre mim e o som. No meu casamento foi cantada linda e emocionadamente pela avó do Leo e fez com que a igreja desabasse em lágrimas e aplausos. E com certeza, e daqui para sempre, porque meu avô materno a coloca bem alta todos os dias as 18h. Ele sempre estará lá, como eu já estou.

Nossa Senhora sempre foi muito presente em meus pensamentos e ainda o é. A figura feminina e sua imensa generosidade é algo que acesso em muitos momentos alegres e medrosos ou doloridos da vida.

Não entro tanto no quesito religião. Mas um dia ainda lerei a bíblia com meu filho, para juntos aprendermos mais sobre as palavras de amor, que Jesus disse e mostrou. Tentando sempre ler as entrelinhas, porque lá reside o sentido, é duro, porque como humanos nos acostumamos ao simples repetir e repetir palavras, que com a repetição se tornam vazias, se perde a entrelinha não existe a ação.

Estou sempre em busca das entrelinhas que me trazem a verdade.

E como todos nós, cristãos, judeus, muçulmanos e ateus estou sempre buscando o amor.

E que Nossa Senhora nos abençoe sempre.

A revelação

O Gabriel saiu há pouco mais de dois meses de uma caixinha quente ( mas essa sim de puro amor). E olha só o que nos revela do sair para fora dela. Nos revela tanto, que só me resta ficar do lado de fora, que seja só para me afogar pelo amor enorme que sinto ao vê-lo sorrir. Obrigado Biel por revelar-me tantas coisas por uma só.


13 novembro, 2008

O abrir

Com tanto amor a caixa fica quente e pede que se saia para os ventos suaves e frescos que lá fora estão a soprar.

Obrigado Mãe, Pai, Pedro, Leo e Rosâni.

O que mais vale da vida é o amor. Ele aquece e redimensiona as dores. É esperança, é carinho, é fortaleza.

É o que faz de uma caixa uma cama quente, um colo macio. É o que faz da vida, vida.

12 novembro, 2008

A caixa

As vezes gostaria de ter uma caixa pequenina que me coubesse dobrada, cabeça entre as pernas, joelho na testa.

Que essa caixa fosse quente e silenciosa e que confortasse os tantos medos da vida. Encolhida no próprio corpo sentiria mais os músculos e ao sair e esticá-los voltaria novamente o frescor de viver.

11 novembro, 2008

Justiça

A minha escola, a partir de Janeiro será no 3mills Studios, mas até lá estamos divididos entre dois espaços. O grupo que ano passado era de manhã (agora todos os do Advanced Course são a tarde) está na sede de Latmer Road, e o meu está em Hackney. Visto que o 3 mills é bem mais próximo de Hackney todos os dois grupos estão morando pra esta banda de cá, e no primeiro dia de aula, o grupo que está em Latmer Road sugeriu que ficassemos metade de um termo em Hackney e depois trocassemos com eles.


Então trocamos. A partir de semana que vem passo a gastar 40 minutos de tube, pouco mais de uma hora de viagem todos os dias.

Meu lado "Polyana" me diz "Ok, você vai ter um bom tempo para ler muito no trem".

09 novembro, 2008

Combinança

Quando olho pessoas na rua vestidas de maneira sóbria eu admiro. As admiro e penso,"tá tentarei ser assim." Mas o que acontece comigo é que não consigo deixar minha galocha de estrelas coloridas sem minha bolsa preta de bolas brancas. E tudo que sempre faço, quase que intuitivamente, é descombinar para combinar. Arriscando sempre com o que provavelmente não daria certo, cores,estampas e sobreposições.

O que eu projeto para mim é a simples distração do que admiro e o que sou de fato é o que me diverte de verdade.

Talvez o que só admiramos mereça status de paisagem.

O elefante

Minha amiga Flávia Fernandes mora em São Paulo. E em São Paulo ela faz suas unhas, uma manicure as faz. Essa manicure, entre uma cuticula e um esmalte, lhe propôs, de forma cotidiana, "você quer comprar um elefante? Estou precisando muito vendê-lo".

Por isso o Teatro tem que se superar sempre porque a vida por si só já é incrível demais.

Voa

Ontem tarde da noite voltava do trabalho. O trem ao chegar em Waterloo mostrava por sua janela os ícones Londrinos, a London Eye, o Big Ben. Por um segundo minha alma voltou em Agosto de 2007, quando eu e Leo descobríamos esse cenário pelo Google Earth, sentados na casa da mãe dele, no Brasil.

Com muita intensidade veio a minha mente a voz do meu pai "é Julietinha isso é Londres" e um misto de dor e prazer se fez em mim. Uma mistura de presente, passado e futuro, uma suspensão entre o tempo e o espaço.

Depois a imagem do antigo apartamento e o primeiro dia nessa cidade. Uma nostalgia da expectativa que já virou passado. A vida passa rápido.

Duas lágrimas caíram e em sincronia cinematográfica com um único e solitário pingo de chuva que desceu o vidro, a minha imagem refletida com lágrimas a descerem pelas bochechas o fizeram três e não somente um.

A vida passa rápido.

07 novembro, 2008

Lado obscuro

Começamos com o trabalho de máscaras. Commedia Del Arte! Ai que delícia. Nosso dark side, desejos obscuros. Um corpo que grita desejos obscuros, carnais e condenados pela igreja...rs...

Uma delícia nos explorarmos assim, em um jogo em que voz e corpo se unem para criar música, contar de forma acentuada sobre nós e ainda ser engraçado.

Amo tudo isso. Bora mergulhar dentro de nós e se divertir com isso.

05 novembro, 2008

Para dividir

Meu tio Duda estava lá e registrou. Um registro informal e resumido, mas lindo e cheio de amor, de um dia muito feliz.

Para dividir é só clicar aqui, e depois "Casamento, 7 de setembro de 2008".

Toda vez que vejo me fortalece. Me traz a beleza.

Criadores

Os nosso ouvidos ouvem o que a nossa mente maluca cria.
Isso é maluco e um estimulo a criar coisas boas.
Porque o que ouvimos se torna o que vemos, e o que vemos passa a ser o que é.

Somos criadores mágicos da nossa própria realidade, e equívocos de toda natureza sempre acontecem. Incrível como tudo se torna real.

04 novembro, 2008

O inferno são os outros

Eu sempre tento o olhar por dentro. E sempre dói, mas para mim sempre é melhor. Tempos dificeis de se criar com pessoas diferentes, que as vezes não se olham tanto. Sua cegueira é benéfica para que eu procure acabar com a minha, sempre presente, à espreita.

Hoje eu só propus uma idéia, pisei fora e vi, como poucas vezes durante o processo criativo o faço. Sempre inerte na criação de Atriz quis ousar ver de fora, me excitei, quis dividir, não era isso.

Rostos fechados em um dia em que eu já havia acordado cinza. Sempre achei que um pouco de azul suaviza o negro, mas o que fazer quando a sua chuva só atrai mais tempestade?

Dormir. Tentar seu próprio azul.

01 novembro, 2008

Surpresa

Hoje pela manhã meu querido amigo Diego enviou me uma agradável surpresa pelo celular. Surpresa que Clarice nos oferece sempre.

"Eu sei criar o silêncio.Ligo o rádio bem alto e de súbito desligo. Silêncio estrelar de lua muda. No silêncio é que ouve-se ruídos. Entre marteladas ouvia-se o silêncio."

E ele me disse ontem durante a aula: "Silêncio é vírgula"

Jamais me esquecerei de Paris



Paris, Maio 2008

31 outubro, 2008

O gesto e o silêncio

Falando tanto em silêncio e a coincidência mais uma vez me sacode. Estamos explorando a poesia do gesto na escola. A linguagem gestual. Qual seria a falação do gesto, que diz tanto.

Hoje fiz um improviso em cima da frase gestual de Pierrot e Colombina (que é linda!!) E senti como se não fizesse barulho, e ao mesmo tempo como se não estivesse a dizer claramente.

Perdi a dimensão do quanto estava me comunicando, ou se o estava. Perdi a palavra, emaranhada no silêncio barulhento do gesto e confundi os passos.

Mas uma coisa pode-se afirmar: o gesto é sempre lindo no Teatro e não resta dúvidas de que ele pode transcender o verbo, porque o verbo em si estará na ação (na sua função?). E a poesia, a poesia da palavra transfigurada para a metáfora do que não se deixou simplificar por meios tão literais.

Adoro isso. O gesto.

29 outubro, 2008

O gelo

Ontem a noite ao sair da escola, caia a chuva. A temperatura deveria estar muito baixa pois o frio aumentou consideravelmente. Ao chegar na Avenida próxima a minha casa decidi parar e esperar a chuva diminuir. Foi quando os pingos de água transformaram-se em finos flocos de gelo, e começou a nevar.

Foi mágico. Os flocos brancos refletidos nas luzes dos postes, caindo cada vez mais. Dançando ao vendo, molhando minha cara.

Fui para casa olhando para cima, observando e sentindo a velocidade com que se derretiam e viravam água ao cair sobre o meu casaco preto.

Molhando a minha cara desses sutis dançarinos de gelo, que flutuavam pela noite e me provocaram um sorriso interminável.

Lembrei me de Gabriel Garcia Marquez.

Foi a primeira vez que vi o gelo. E foi mágico, silencioso e feliz.

28 outubro, 2008

Declaração

Amo loucamente esse seu jeito manso, que chega sem fazer barulho, essa aura de sensibilidade e poesia que cria em torno de si todo um ar de bondade e inocência. Amo loucamente seu jeito de me olhar nos olhos e dizer calmamente o porquê da louça não lavada ou da cama mal feita.
Amo loucamente seu silêncio pelas manhãs enquanto prepara, diariamente, nosso café.

Amo loucamente sua timidez, as palavras que saem por lábios quase fechados e preguiçosos em formar o desenho do som da letra.

Amo loucamente quando me dá todas as direções e tempo de viagem em Londres, quando me responde a toda e qualquer questão de conhecimentos gerais e as vezes bem específicos. Amo que seja tão inteligente, sabido e minha "enciclopédia".

Amo quando estamos dentro do metrô e toda e qualquer criança pára e fica por horas a te olhar. Elas devem também perceber sua aura de bondade.

Amo doida e malucamente quando se entusiasma com um assunto e aumenta o tom de voz e acelera as palavras, quando me explica o francês, o inglês e o espanhol. Quando me mostra os filmes de arte e as populares séries de tv americana.

Amo seu cheiro pela manhã, seus pijamas e seu modo sitemático de catalogar suas revistinhas e os livros na estante. Sua sede de conhecimento, amo que você leia sobre tudo e qualquer coisa.

Amo contar-lhe todos os meus segredos, medos e descobertas. Acreditar de modo incontestável quando você diz que está tudo bem, aceitar todos os seus conselhos, receber das suas mãos o remédio para a dor de cabeça, o mel pra garganta e o chá para o frio.

Amo saber que um dia teremos um (ou mais) filho juntos.

Amo tanto, tanto, que tenho que parar com as palavras. Daqui vamos até o infinito.

27 outubro, 2008

E é por isso que amo Clarice

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas o que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma realidade inventada"

Água Viva

É por isso que amo Artaud

"As palavras pouco falam ao espírito; a extensão e os objetos falam;as imagens novas falam, mesmo que feitas com palavras.Mas o espaço atroador de imagens, repleto de sons, também fala, se soubermos de vez em quando arrumar extensões suficientes de espaço mobiliadas de silêncio e imobilidade."

O Teatro e seu Duplo

26 outubro, 2008

Nostalgia

Conforme estou envelhecendo estou me aproximando ainda mais da minha família. Morar nessa terra distante faz com que eu me emocione muito quando encontro fotografias dos meus amores, e mais ainda quando elas aparecem amassadas, desbotadas. Trazem o cheiro da infância, lembram-me do que as vezes me esqueço e até me surpreendo de como eu era em determinada época.

Se reconhecer em um retrato velho é sempre uma experiência única, que pode durar segundos ou ainda horas. 

E é bom bater o olho e pensar sobre o que pensávamos, onde estávamos e aonde viemos parar. Achei essa no orkut da minha prima amada Amanda, e a legenda que ela colocou confirma o que pensei.

A Branca, a mais baixa na foto, é minha irmã que se forma em ciência da computação, Popo minha prima é bailarina e eu sou atriz. 
Nossos sonhos, com certeza, continuam os mesmos. No fundo no fundo só pretendemos que os renovamos.




25 outubro, 2008

Ausência

Saramago em seu livro "O ano da morte de Ricardo Reis" diz que a cura da morte equivale à gestação da vida, que são necessários 9 meses para ambos, para nos formarmos dentro do útero e para a dor da perda se transformar em uma ausência não tão dolorida. Faz essa brincadeira com os números do tempo e com o que poderia ser a ausência e a presença.

Como se a morte fosse dada como um suposto fim somente após 9 meses quando as atividades diárias tomam sua velocidade normal e aquele que se foi fica como lembrança carinhosa de história já contada. 

A dimensão do tempo da dor é algo que me escapa. Assim como a dimensão da ausência.

Como defesa e  egoísmo, pois o somos e de modo nem sempre perjorativo, pisamos no acelerador da rotina e maquiamos a falta que não é ausência até que a dor desapareça e ela se faça de fato.

Eu ainda não tive uma perda muito grande na minha vida. Minhas avós se foram quando eu ainda não conseguia relacionar perda com morte e morte com vida ou o que seja, e me lembro muito pouco de uma delas porque a outra se foi quando eu ainda não existia. 

Mas leio muito o Para Francisco, quero comprar o livro. 

O mundo não pára um só segundo, e não temos a menor condição de pararmos e sentirmos cada perda alheia assim como cada nascimento. Paramos para as tragédias, e todos padecemos das perdas e renascimentos, todos muito próprios e nossos. Mas qual a medida da ausência, o que é senti-la? Quanto tempo será que leva para matarmos uma saudade, ou saudade foi criada para ser eterna?
Seria o silêncio uma saída para a dor ou seria ele uma maneira de senti-la?
Ando percebendo que importamos mais mesmo é para nós mesmos.

23 outubro, 2008

Vida curta

No meu primeiro ano de Londres e Lispa tive uma companheira nas longas viagens de ônibus após a escola. Morávamos no mesmo bairro, e estudávamos na mesma sala, por essa coincidência nos aproximamos. São as belezas das coincidências da vida, pois eu e ela provavelmente não teríamos tido tanta proximidade se não fosse esse o caso. Somos bem diferentes, nos vestimos diferente, temos uma história de vida absolutamente diferente, mas nos aproximamos, porque somos atrizes, humanas, colegas e morávamos praticamente na mesma rua.

Ela nasceu na Àfrica, mas seus pais são indianos, e ainda pequena veio para Oxford, na Inglaterra, onde cresceu e se naturalizou. Aos poucos fomos nos revelando uma a outra, durante a caminhada até o ponto de ônibus e durante a viagem. Mostrei a ela todos os meus medos, trocávamos idéias, sonhos. Eu ensinava a ela algumas palavras de português e ela, claro, me ensinava o inglês, que eu nada sabia. 

Achava gozado e admirava as surpresas que ela sempre me fazia, como descer do ônibus as pressas para ajudar uma senhora na cadeira de rodas a subir a rua íngrime, ou gritar dentro do trem para as pessoas se organizarem melhor no espaço e facilitarem a entra e saída dos outros.

Sempre ao se referir a uma pessoa ela terminava a sentença dizendo: "God bless her", o que significa Deus a abençoe, e quando comemos uma vez num restaurante chinês ela me revelou, "sempre que estou diante da minha comida penso no imenso número de pessoas que a fizeram, dos que plantaram aos que cozinharam, aos que venderam, e agradeço a todos." Confesso que achava gozado, curioso e bonito ao mesmo tempo. Por um bom tempo pude me aproximar dela e conhecer casos engraçados, tristes e belos.

Na última segunda feira recomeçaram as aulas no Lispa. O segundo ano. Agora moro do outro lado da cidade. Abracei muitos colegas, foi ótimo voltar. Mas um engasgo ficou e ainda está.

Nesse mesmo dia recebemos a notícia que a minha colega indiana-africana-inglesa não estará conosco nessa segunda parte da viagem. Sua caminhada tomou novos rumos.

Ela está com cancêr no cerébro, quatro tumores foram encontrados, e quando escrevo essa palavra e somente por escrevê-la vem o peso que lhe cabe e que me estremece.

Dizem que é terminal, coisa de um ano a mais de vida.

Ainda não falei com ela.

Não sei o que falar. Fica o silêncio.

As aulas continuam, as gargalhadas, as descobertas. O dia a dia continua. Talvez por defesa ninguém toca no assunto. Em algum lugar ela se faz presente naquela sala, ora some, ora aparece. Mas está ali. Um pouco dela fica comigo, não se perde. O Thomas nos deu a notícia e após um longo e dolorido suspiro desabafou, "É...a vida é um presente, há que desfrutar-se como se fosse o último segundo".

21 outubro, 2008

Celebrar ser!!!

O ser humano eh, sem duvida, algo fascinante. Ser humano, logicamente eh ainda mais. E conviver com pessoas extremamente humanas eh o que nos faz ainda mais humanos e apaixonados por ser e por esse ser que o eh, de corpo e alma. Que nao contem as lagrimas, que nao esconde a verdade. Que escolheu a transparencia para o seu ser humano. Que quis ser mae e eh desse modo inteira, imensa, totalmente entregue a essa arte que a consome e a faz e refaz.Porque decidiu ser humana, ser amor.

Hoje a mae do meu marido, minha sogra, celebra seu aniversario. Rosani eh uma pessoa que me ensina muito o que eh ser humano, o que eh ser humana, o que eh ser amor. Ainda bem. Me ensina por ela, me ensina pelo Leo, e aos poucos por seus outros filhos e pelo Edmar. Hoje celebra-se o nascimento de alguem que nao hesitou em optar por ser toda a verdade de ser.

Rosani (desculpe, o teclado nao tem acentos)
Felicidades, muita saude, e muitos, muitos, muitos anos de vida, que nos e os que ainda virao merecem estar perto de ti para receber e aprender com esse amor e essa sinceridade que carregas!
Com amor,

16 outubro, 2008

A Pergunta

Uma pergunta ecoa em minha mente, sem parar:

- E depois, em que porta bater?

Quando a resposta deve ser dada por outra pergunta:

- E depois, que porta abrir?

Eis o dilema da minha profissao.

13 outubro, 2008

Domingo

Ontem fez dia de verao. Clarice Lispector narrou com sua poesia do ser e sentir o cair das folhas amarelas de outono nessa cidade inglesa, com tanta gente colorida. Deitada no banco da pra;a vizinha a minha nova casa, me embebi da poesia de Clarice, do sol europeu. Me distrai e ri sozinha dos pequenos que corriam para o coreto segurando uma bola, e a unica diversao que lhes cabia era lan;a-la ao espa;o, o pai buscava, eles lan;avam novamente.

Veio o desejo do filho, e me peguei, nao sei porque, imaginando meu sogro a segurar a bola para o neto. Desejo guardado.

Em alguns anos, se realizara.

Por ora, so desejo.

Por ora, so a palavra. A minha e a de Clarice que junto com o sol salvou meu domingo, o fez sem tantos ecos e mais ressonancias de sonhos e amor,

11 outubro, 2008

Nova casa

Londres tem tido dias de sol forte e quente (!!!) e ceu azul, azul, azul. Uma delicia. Ainda estamos sem internet na nova casa, e por isso tenho que escrever em um teclado sem pontua;oes, pe;o lhes desculpas desde ja.

Nos mudamos para uma area um pouco mais afastada, mas com facil acesso para todos os lugares, com pra;a com chafariz, cozinha grande, quarto enorme, com direito a pequena salinha, banheiro grande tambem.

No dia em que arrumavamos nossas coisas na nova casa me bateu uma saudade muito grande dos meus pais, dos meus irmaos...de todos. Acho que foi a sensa;ao de se fechar um ciclo, de se come;ar algo em nova moradia. Quando isso acontece a casa da alma saculeja, e fa;o questao de que seja assim. Sentindo.
De toda forma eh bom ter mais espa;o...Ate para encontrar os silencios.

06 outubro, 2008

Espontâneo


Queria saber porque que quando o Biel boceja parece que vai engolir o mundo.

E porque, depois de velhos, censuramos nossos bocejos e nunca mais esticamos com tanta frequência e facilidade todos esses músculos da cara.

Censuramos nossa espontaneidade. Só espero que o apetite de mundo, no melhor sentido cristão, esteja, em todos, guardado em algum lugar.

05 outubro, 2008

sobre fadas e bruxas

Quando eu era criança tinha toda aquela fantasia com fadas, das triviais às originais- como a dos grãos de poeira refletindo na luz serem fadinhas. Adorava a fada dos dentes, que me deixava presentes embaixo do travesseiro, lembro que passei a questionar essa fada quando os presentes passaram a vir com muitos recados educativos do tipo "sempre saiba dividir suas coisas com seus irmãos". Humm, isso não era coisa de fada mas de mãe que adora que os filhos acreditem em fadas e não perde o gancho pedagógico.

Quando criança tinha medo das bruxas e adorava as fadas, acho que o fato delas vestirem azul ajudava bastante, pois até hoje adoro azul. Agora crescida entendo que bruxas são fadas e fadas são bruxas, e me auto denomino bruxa muitas vezes, que é o resumo que encontro para as bruxas e fadas que vivem em nós. Me chamo bruxa, ou bruxinha, porque adivinho muita coisa, sou adivinhona sem intenção e converso com a natureza, e acredito nela e em nós como parte dela, enfim. Talvez me qualifique bruxa e não fada porque quando algo inesperado acontece eu penso que foi minha bruxaria que atraiu a fada, e não a bruxaria que fez acontecer. Complexo e metafórico mas nem tanto...

Fato é que ontem eu Leo ganhamos um presente de fadas. Juro.

Há três dias procurávamos uma casa pra nós aqui em Londres. Primeiro cismamos com uma area pela qual nos apaixonamos e aí olhamos, olhamos, e nada; ontem um senhor de barba e cabelos brancos nos abre a porta de uma casinha...uma casinha...toda decorada, limpinha, cheirosa, com tudo novinho, com espaço, janela e cores.

Foi uma varinha de condão em algum lugar que fez tilintintin...e lá estava.

Ao voltar do trabalho para casa ontem a noite, chovia, olhei para o céu, deixei os pingos caírem e pensei: eu sempre acredito, e acredito até o fim, e sempre até o fim é tudo como tem que ser, muito obrigado por só me dar razões para continuar a acreditar.

Era meu lado bruxa agradecendo o lado fada.

30 setembro, 2008

30 dias de Biel


Bielzinho hoje se completam 30 dias que você saiu da barriga de sua mãe, em meio ao sangue e ao choro foi carregado pelos médicos e por seu pai. Pelo vidro do berçário  assistimos às suas primeiras horas de vida fora do útero, com os olhos grandes e abertos a segurar o dedo do seu pai e a olhar firmemente para seu rosto. Apresentavam-se ali.

Hoje se completam 30 dias que a Ju, sua mãe, sentiu as dores do parto e foi arrebatada pela grande comoção da sua vida.

O dia em que você fez com que Juliana e João renascessem e se descobrissem pais, e se vissem cobertos de um amor puro e sublime. 30 dias em que você mobilizou duas famílias, que se tornaram uma só, para serem a SUA família, e que ficaram bobos, babões, apaixonados, absolutamente dominados por seu olhar, pelo seu cheiro e pelo seu existir.

Somente 30 dias, que normalmente passam tão rápido. Você verá em breve o quanto a vida voa, e o quanto um mês é quase algo insignificante. Mas não esse um mês que se completa hoje, o primeiro mês seu definitivamente entre nós.

Você ainda não tem cognição, não define as cores nem sabe seus nomes, lhe farão um bolo para cantar parabéns, que você sequer sabe o que significa e sequer vai comer, pois se farta agora é do leite materno. Mas sabe porque vamos fazer festa hoje? Porque é também nosso aniversário. Celebramos hoje um mês com Biel e seus curiosos olhos entre nós. Celebramos o renascer dos seus pais e o nosso também. Celebramos nosso amor por você.

Nesta data querida!!!!

Te amo meu sobrinho, muita saúde, muita, muita felicidade e muitos mas muitos anos de vida!!

Deus te abençoe.

28 setembro, 2008

Pedaço de papel

Um dia, em sala de aula, aqui em Londres, o Thomas nos pediu que sentássemos frente a uma folha de papel presa à mesa. Com os olhos fechados, e um giz preto em cada mão, deveríamos simplesmente deixar as mãos irem, não estipulando um caminho para elas. De olhos fechados e com as duas mãos seguimos o caminho da intuição, que nos leva à lugares não pensados nem estipulados.

...

Eu consegui.

Um borrão imenso e intenso preto na folha de papel, mãos e rosto negros do giz, uma profunda vontade de chorar.

Ao olhar para a folha de papel devíamos nomeá-la. A chamei Silêncio.

Continuo a esperar mais poesias sobre o silêncio ( até agora só recebi coisa linda e de imenso valor). Vai lá no post e responda...

26 setembro, 2008

Imensidão Azul

Hoje em Londres o céu amanheceu de azul profundo. Fomos, eu e Leo, na Oxford Street resolver coisinhas, comprar coisinhas, comemos pizza de Pizza Hut e fomos para o Hyde Park.

Deitados na grama, estendidos sob a imensidão azul recortarda pela planíce verde do parque esticamos nossas mãos, nos agarramos pelo dedo. De óculos escuros pude observar o céu, onde subia ao longe um ponto branco (talvez um balão) e lembrei da minha fantasia infantil de que grãos de poeira sob a luz eram fadas.

Ficamos em silêncio.

E por falar nele, respondam à pergunta que fiz no post abaixo, é importante para mim.

25 setembro, 2008

Respondam para mim

O que é o silêncio? Essa palavra que diz sobre o inicio. Ela é o começo do existir ou fim da ausência? Ou é a ausência nela mesma e mais nada?

Silêncio.

Se algo começa precisava antes ser nulo ou nada? A música se faz através da anulação do silêncio ou o silêncio tá embrenhado na música?

Respondam o que acham. Me ajudem a entender o silêncio. Ou melhor, a pensá-lo.

A gente nunca entende nada nessa vida. A vida não é para entender. É para divagar sobre. 

Digam me sobre o seu silêncio.

Para mim só de começo...deve ser o dia em que fui em sonho ao fundo do mar e abri os olhos com medo.

23 setembro, 2008

Mais caminhos...

"Também no interior do corpo a treva é profunda, e contudo o sangue chega ao coração, o cérebro é cego e pode ver, é surdo e ouve, não tem mãos e alcança, o homem, claro está, é o labirinto de si mesmo."

José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis

ai ai...ficando bebeda dele.

Caminhos

"São assim os labirintos, têm ruas, travessas e becos sem saída, há quem diga que a mais segura maneira de sair deles é ir andando e virando sempre para o mesmo lado, mas isso, como temos obrigação de saber, é contrário à natureza humana".

José Saramago, O ano da Morte de Ricardo Reis

O silêncio

O mar é algo sempre presente nos meus sonhos. As ondas, a ansiedade que gera quando elas se aproximam e precisamos saber o exato momento de prender o ar e mergulhar, sem que ela nos vire ao avesso. Ou a urgência em sair antes que tal onda te alcance. Sempre sonho que tem uma dessas enormes vindo na minha direção. E sempre sonho com o medo que dá o desconhecido profundo universo do mar. Essa noite, no meu sonho, estávamos na praia eu e Leo. A onda vinha, o mergulho era no exato momento em que ela não nos vira. No fundo silencioso da água eu abria, ainda com medo, os meus olhos.

Quando saía para fora, ainda no meio da água que a onda formou a calmaria era total.

O Leo me olhava e dizia, antes aqui nunca vinha onda, agora que já veio vamos para o outro lado da praia. E me levava pela mão.

Havia paz;

There is no Place Like Home

Em verdade Dorothy sempre esteve certa. E é verdade também que casa é uma palavra múltipla em sentidos. Para mim, temos aquela que é dentro de nós, que é nós mesmos. Essa tem todas as cores que pintamos nas paredes, mas as vezes fica um pouco empoeirada, as vezes esfria e aí temos uma ótima outra casa: a do nosso amor. Fundamental para noites frias e sempre boa para pedir uma xícara de açúcar. Temos também o pequeno espaço físico que alugamos ou compramos, e que decoramos externa e fisicamente com as cores e detalhes que em outro plano já existem na que carregamos conosco. Essa também tem nossa cara, e no meu caso é uma junção das cores da minha parede com as do meu Leo. Tem a que é o lugar do mundo que escolhemos viver, ou que estamos a viver por um tempo. E tem o lugar em que nascemos, em que falam nossa língua, em que tudo sempre será casa porque sempre será familiar.

E falando sobre todas essas casas, Dorothy terá sempre razão. Cada qual em sua real medida do nosso coração. Nos ligando sempre ao que nos conecta mais bela e intensamente com a vista das janelas de nossa casinha, aquela que as vezes é empoeirada, de paredes coloridas por nós e que precisa do calor e da xícara de açúcar do vizinho.

Em verdade todos nós carregamos conosco nosso par de sapatinhos vermelhos.

Back in London

Pelas chuvosas e charmosas ruas do Soho, numa tarde de segunda feira, um senhor de idade sai cambaleando de um Pub de esquina, segura-se à porta, estende o braço direito e num folêgo profundo "Hello Guys!!!" pausa "humm Rock'n'Roll!!!!!!!!!!!!!". Ignorado por todos, menos por mim que caí na risada, ele desce a rua pouco se importando.

Estou de volta a Londres

22 setembro, 2008

Casamento: segundo texto sobre



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Essa noite sonhei que meu casamento durava três dias. Eu ia uma vez e no dia seguinte todo mundo se arrumava de novo, com as mesmas roupas, mudavam um pouco os convidados, outros se repetiam. A beleza era a mesma do dia único que foi na vida real. Acho que estou um pouco confusa com essa idéia de chegar em Londres e ser casa e ter meus amigos, e de chegar no Brasil e ser a mesma coisa ( só que melhor), então casava três vezes por ter talvez várias casas, sei lá, to bem longe de Freud, confesso.

E também porque no dia do casamento a gente fica tão nervosa, tão nervosa, e tão emocionada, tão emocionada que a curtição vêm mesmo depois. Hoje eu não me canso de ver as fotos e elas me trazem a lembrança e a certeza de que tudo foi lindo e perfeito (meu deus! E eu que dizia não crer na perfeição, digo que foi perfeito!).

O lugar, o dia, o céu, a simplicidade, os queridos, a decoração, as lembranças, o Leo, o Leo, o Leo. Adoro ver as fotos e mais ainda ler os comentários que as pessoas têm deixado no orkut. Deixa mesmo gente, que essa troca é boa demais! A cada palavra, a cada imagem, lembro das conversas minhas com o Leo, quando decídiamos como gostaríamos de celebrar nosso amor, e me dá até um frio na espinha de como fomos artistas em cumprir o que queríamos, tão bonito que tudo foi, como diz meu irmão João, "quem viu, viu". Os comentários são os que a gente dizia que gostaria de ouvir quando tudo terminasse. Que ali era um momento de celebração do amor...

Tudo na vida é questão de gosto e de escolha tem os que dão uma festa de casamento (e são super felizes), nós decidimos fazer um casamento, com um sutil agradecimento aos que lá foram, com comida, com doces e com música claro! Quando olho para a foto do quarteto que tocou no salão da igreja vejo o quanto tudo foi sim do nosso jeito!! E que delícia é saber que está sendo o que somos e nada mais...

O Lispa, minha escola, têm me ensinado muito isso "essa sou eu e isso é o que posso dar, nem mais nem menos, mas repleto de amor, sinceridade e generosidade".

Pra finalizar tudo isso que divido nesse momento coloco um comentário que minha tia Wilma fez em uma das fotos no orkut (um dos lindos, lindos, comentários que recebi). E digo que só foi assim porque foi nosso, do nosso amor, com nossos grandes amores.

"foi tudo como na música do Chico Buarque:... talvez num tempo da delicadeza. Onde não diremos nada, nada aconteceu. Apenas seguirei, como encantado, ao lado teu... Os poemas de lembrança eu achei de extrema delicadeza e sensibilidade...."

21 setembro, 2008

Limpeza

No avião da TAM rumo a Londres uma mensagem surge "Senhores passageiros, de acordo com normas britânicas devemos pulverizar a aeronave, o inseticida utilizado é autorizado pelo Ministério da Saúde".

Uma aeromoça em cada corredor, um spray de inseticida em cada mão (4 ao todo!!) passam aspergindo o líquido branco pelo corredor, em todo o avião. Entre as apertadas cadeiras de classe econômica eu e Leo nos abaixamos sem saber se ríamos ou chorávamos, mas rimos.

O avião em pleno ar.

Se rodassem essa cena em um filme o acusaria de preconceituoso com meu país.

Ainda bem que quando cheguei na minha casa em Londres os ratos, que de vez em quando nos visitam e que são presença maciça na cidade, haviam sumido. Quem sabe o inseticida brasileiro deu resultado pra sujeira inglesa...

18 setembro, 2008

Blindness

Há alguns anos li o Ensaio sobre a Cegueira, do José Saramago. Na época tive um breve encontro com ele, no lançamento de seu outro livro Intermitências da Morte, quando ele autografou o meu Ensaio, e quando lhe confessei "li o Evangelho Sobre Jesus Cristo e nunca mais fui a mesma, ele me transformou", ele, na sua simpatia, a me olhar com aqueles olhos que tanto amo, por ver palavras que tanto me transformam, me disse, "ah...então ainda estás a transformar-te", e assinou meu livro.
Sim. Um transformação atrás da outra. O Ensaio Sobre a Cegueira me transformou sim, e quem já leu sabe que é um primor, que sua genialidade de palavras e metáforas nos leva a uma reflexão sem igual sobre nossa condição.
Ontem fui assistir ao filme do Fernando Meirelles e claro que a expectativa era enorme, porque esse cara é outro com grandes olhos. E não me frustrei em absolutamente nada. O filme é de uma qualidade sem igual, com uma fotografia fenomenal, repleto de detalhes da leitura de Fernando sobre o livro que nos tiram o ar. Obrigado Fernando.
Como já havia lido o livro esperava ansiosa por três momentos: o momento final quando ela vê o céu branco e pensa, "fiquei cega", o momento em que as três mulheres se banham na chuva, e, claro, o momento do cão das lágrimas.
Quando vi o cão vindo em direção à mulher que chorava, já me arrepiei, meus olhos se encheram de água. Ai meu Deus, como é lindo esse Saramago, um cão que enxuga as lágrimas da mulher.
De todas as três só a do banho das mulheres não supriu totalmente minha expectativa, ficou para mim abaixo das palavras de José e da força da minha imaginação, mas mesmo assim a trilha do Uakti, perfeita em todo o filme, trouxe para mim sensações similares as que tive quando li a cena.
Palmas quentes e eufóricas para Julianne Moore e Gael Garcia Bernal. Ai é tão bom ver ator bom. Eles estão incríveis (e são ). Ressalvas para Alice Braga que nunca me desce e está sempre mediana em tudo que vejo, parece que não encontra aquela "portinha" em que a gente relaxa, se joga e goza e assim faz todo mundo gozar, como Gael faz lindamente.
O filme acabou e meu choro disparou. Ainda agora tenho vontade de chorar. Quanta beleza. Beleza que não se explica. Ficou no soluço, no engasgo, na nossa cegueira, na nossa dor, na nossa podridão e no nosso amor.

14 setembro, 2008

Casamento: o primeiro texto sobre

"Foi maravilhoso! estava conversando com o vô sobre o seu casamento hoje e ele disse que até o padre ficou maravilhado.Você e o Leo são o amor que existe e que é lindo." Paula Dobbin.

Na manhã do dia 7 de setembro amanheci com os pássaros. Dormi na mesma cama que minha mãe, na casa da Gigi, prima nossa, que nos acolheu com muito carinho.Amanheci com meu véu de noiva estendido à minha frente, e na cidade maravilhosa o céu era repleto de nuvens.

Logo cedo a maquiadora chegou, e começou a arrumar meu cabelo. Repleta de papelotes e grampos no cabelo cantarolei incessantemente, "Santa Clara clareou, clareou...vou pedir Santa Clara para clarear", só depois é que fui descobrir que o Leo cantava exatamente a mesma canção no hotel, conexões da vida que não tento explicar. Conforme cantava o sol ia invadindo a sala, as nuvens se dissipando, e o céu se cobrindo de um azul profundo e lindo.

Ao chegar a igreja estava tudo perfeito, o arco de flores verde e branco, as pétalas, flores e folhas verdes na escada.

Foi tudo mágico e rápido. Entrei na igreja sem conseguir ouvir a música, olhei para cada um dos que ali estavam, e quanta alegria ver tantos queridos naquela manhã de domingo. Jamais me esquecerei das lágrimas da Mariana e da Tiça,que choravam um choro lindo.

O que lembro da entrada da igreja são cores. O casamento foi de manhã, então as pessoas foram coloridas, com vestidos curtos, e coloriram a igreja.

Foi uma cerimônia linda, sincera, leve. Os pajens e a daminha estavam lindos.
Ao sairmos uma chuva de pétalas caiu de cima, e a única coisa de que posso me lembrar foi de uma alegria profunda, profunda.

A recepção não teve projeto decorativo, algumas flores nas mesas, o bolo que escolhi, com os noivinhos que quis. A música foi um quarteto de velhinhos, dois violinos, um violoncelo e um acordeon. Tinha doces, prosecco, e um coquetel com salgados e um buffet de massas.

Meu avô Dobbin, que invadiu o altar durante a cerimônia para dizer ao Leo "seja para ela tudo aquilo que você quer que ela seja para você", estava desnorteado de alegria, e me disse no dia seguinte, "foi o casamento mais alegre que já vi, sem ostentações, simples, agradável e com um encantamento".

Ao andar pelo salão, conhecia cada um dos rostos, senti cada um dos abraços. Todos ali foram ali para celebrar nossa união. Os que viajaram de outra cidade, e os que moravam no bairro ao lado. Consegui reunir todos os meus tios, meus primos. E conseguimos ter os primos do Leo, os tios do Leo e a avó Dalva,que foi na cadeira de rodas e fez com que o Leo num ímpeto de emoção descesse do altar no meio da cerimônia para abraçá-la.

Tinha a avó Maria do Leo, que cantou Ave Maria na benção das alianças, seguida por um sutil coro dos outros convidados e uma salva de palmas repleta de lágrimas e soluços.

Tivemos muitos aplausos, outros vários além do protocolar, e tivemos também meu avô Napoleão que ignorou o fotógrafo oficial e subiu ao altar para tirar a sua foto, da sua camêra.

O choro da Laurinha ao entrar na igreja e se deparar com mais de uma centena de olhos a olharem para ela.

Tive alegria, tive um casamento íntimo. Próximo. Quente.
Só posso dizer que foi único. E que foi nosso. E que foi lindo.
Dizeres da Flavinha, amiga querida.

E que não fomos e nem pretendemos ser nada além do que já somos.

"All you need is love", cantava minha tia Tata querida, enquanto tirávamos fotos.

Consegui a real medida da celebração do nosso amor, do jeito que vejo a vida, sem dar passos maiores que a perna, sem endividar meu pai, sem entrar na roda gigante da indústria do casamento. O meu casamento foi meu. E foi do Leo. E foi de cada um que foi até lá naquela manhã de domingo e levou para casa as poesias que eram as lembranças e, assim espero, um pouco mais de poesia para a vida.

07 setembro, 2008

Para a Pati

Aqui no Rio sao 22h. Amanha eh o casamento e escrevo em um computador sem pontua;ao.Estou na casa de uma prima, que arrumou uma mesa linda de frutas e frios com champagne. Acabo de ler o comentario da Pati no post abaixo e escrevo para te dizer Pati, que amanha entro na igreja com cada uma de voces no cora;ao. A vida segue seu rumo, e como sou aben;oada. Se a vida eh a arte do encontro, embora haja tanto desencontro, sou uma mestre do encontrar e assim vou me encontrando. Como carrego amor na minha alma, nao so o que sinto por tantos encontros mas, principalmente, o que recebo destes e que carregarei para sempre. Te amo Patricia. Te amo.

02 setembro, 2008

Amanhã, 2 de Setembro me caso no civil com o Leo. Amanhã registramos em papel e perante a lei esse amor e essa união. Arnaldo Antunes mais uma vez traduz o que as vezes...o que as vezes é bom ser musicado.

31 agosto, 2008

Chuva

Estamos em tempos secos em Belo Horizonte. Momento de lábio rachado, nariz sangrando, bacia de água no quarto. Céu azul e limpo, sol forte, e até confesso perdoar a secura pela beleza dos dias.
Ontem, pela primeira vez em 40 dias de Brasil, foi que vi pingos de água cairem do céu.
Eles vieram juntos com Gabriel, os primeiros caíram suaves e poucos na noite de ontem, quando a Ju entrava em trabalho de parto, e hoje desabou temporal, desses de descerem correntezas de águas pelas ruas, dos postes de luz se apagarem e de muitas das árvores trocarem suas folhas, as deixando ir pela força do vento, perdendo-se na correnteza.
Foi bonito o universo me mandar a exata metafora que percorreu meus olhos e alma quando o vi, de fato, pela primeira vez bem perto de mim, hoje de manhã. No meu colo pude sentir ele respirar com o corpo todo, abrir e fechar os olhos serenos, me embriagar de sua beleza, que é demais. A chuva veio lavar a secura dos tempos. O Gabriel encharcou nossa alma.

30 agosto, 2008

Gabriel!

Há um mês, durante um almoço no restaurante chinês, eu e Ju acertávamos as contas para o Gabriel nascer, as contas e o nosso desejo. E decidimos: ok, então nasce dia 30 de Agosto. E ainda brincamos, "ouviu Biel, dia 30 de agosto".
Ontem, 29, a Ju teve dores durante todo o dia, e as 19h a mãe dela me telefona, "a contração já está de 5 em 5 minutos, 21h vamos para o hospital".
Buscamos o João no trabalho, lanchamos e fomos para maternidade. O João entrou para a sala de parto com a Ju. Nós, todos os tios e os avós ficamos do lado de fora, como pais ansiosos, a andar de um lado para o outro. A espera foi colorida pelo berçário à nossa frente, com um monte de "trouxinhas", todas tão pequeninas, alguns cabeludos, e alguns chorões. Cherinho de bebê, de infância... Então é quando eu, Leo e papai ouvimos um choro diferente dos outros, eu grito "Nasceu!". E sim era ele. Do corredor ouvi. Confirmação foi que me irmão ligou na mesma hora para nos avisar. Nasceu e a plenos pulmões, e parecia que me avisava, "tá vendo tia, cumpri nosso pacto".
Ele é lindo, gordo, enorme!! A Ju teve um parto tranquilo, a enfermeira nos disse que ela estava maravilhosa.
O João nos apresentou ele pelo vidro do berçário. Ele na encubadora, para se acostumar a ausência do calor do útero, a segurar firme o dedo do João, reconhecendo seu pai, João se reconhecendo pai. Ambos se conhecendo e se reconhecendo. Durante todo o tempo em que o vimos ambos se seguravam pela mão.

29 agosto, 2008

O retrato

Meu avô me prometeu para a nova casa (quando a tiver em definitivo) um retrato meu. Estou pequena, aos 2 anos de idade. Com os olhos enormes e a boca pequenina, o cabelo cortado em cuia. Quando vier será um retrato meu, mas não serei eu lá, e sim a casa do meu avô, contendo ele e tudo mais. Um retrato meu que não sou, porque há 25 anos que conta outra história e é cenário de um outro canto especial.

O sapato

Um dia chuvoso. Minha avó não estava satisfeita por fazer o almoço. Saiu para a feira. Aflito com algo, sensação ou presságio, meu avô ainda correu à janela e a gritou pelo nome, e que belo nome, "Amanda! Amanda!". Ela de sombrinha aberta e carrinho de feira na outra mão, deu-se de costas para a janela, pois estava a conversar com uma vizinha. Não ouviu ao chamado do meu avô, ou fingiu que não ouviu, ou não era mesmo para ouvir e partiu. Desceu a rua.
Meu avô, sem ar, terminou de abotoar a camisa, andou pela casa, questionou a uma grande amiga da família ( e uma avó para mim) se não era aquele o dia delas irem juntas à feira e ela disse que não.
Desceu esbaforido pelas escadas, sem entender bem o porquê. Chegou a esquina e procurou ao redor, já sem resposta. Foi quando viu uma mulher a puxar o carrinho de feira com o par de sapatos de minha avó em seu interior.
Me contou tudo isso com as mãos delicadamente a mexer o café após o almoço. Me disse que ali tudo se acabou.
Algo definitivamente se rompeu nesse momento. A roda da vida, e das nossas vidas, mudou a direção.
Normal;
Cinza e doído. Mas ele me contou isso em um lugar em que ainda tem muitas cores e que são coloridas por ele todos os dias, dando um descanso recolhido em tempos invernais, tendo som de chamego e amor. E tenho certeza que ela se orgulha muito disso.
Ele coloriu minha infância sendo um avô e uma avó ao mesmo tempo, com histórias na beira da cama, lições de moral, de vida e de amor. Como estou feliz de vê-lo lá no dia 7, com sua gravata fina, representando tanto amor, e tantos dois para mim, em um corpo tão pequeno, para alma tão gigante.

27 agosto, 2008

Andarilho- Cao Guimarães


Muito me fascina quem se deixa fascinar por imagens, por sons. Que sob seu ponto de vista deixa uma imagem aberta para que coloquemos o nosso. Que no país em que as pessoas são criadas pela televisão em um didatismo extremo, que até nos faz parecer mais burros que somos, ele nos traz algo sem grandes respostas. Em um filme que, para mim, começa com uma pergunta "porque e para onde eles andam?", questão que nos leva a nos perguntarmos se então não estamos nós nos iludindo, achando que andamos em uma direção precisa e objetiva, quando, na verdade a trilha vai ser sempre desconhecida,e nossos objetivos, no fundo, no fundo, incertos.
Cao Guimarães chega com seus filmes aonde quero chegar com meu teatro. É poesia, silêncio inebriante, jogo de imagens, sons, pessoas, fatos não fechados, gente. Foi uma experiência linda ver a pré estréia de Andarilhos, no Usina. Assim como ver seu vídeo de formiguinhas após o carnaval na Tate Mordern em Londres. No dia em que eu e Leo vimos as formiguinhas não sabíamos que era brasileiro, e nos enchemos de orgulho ao sairmos da sala e lermos os créditos na porta.
Vá assistir Andarilhos. Não espere por tramas mirabolantes, por um documentário auto explicativo, deixe-se levar e carregue consigo a experiência.

26 agosto, 2008

Juju

Ela apareceu na minha vida muito de repente. Muito. E veio junto com uma notícia muito alegre e assustadora ao mesmo tempo. Ela veio carregando o amor dentro de si, amor dela e do meu irmão multiplicado e transformado em Gabriel.
Quando tive a notícia de ser titia ainda não conhecia a Juju. Estava longe, do outro lado do oceano. Mas no meu primeiro dia de Brasil tive o prazer de vê-la. Ela e seu barrigão de Gabriel. E me apaixonei. Foi arrebatador. Tanto amor carregado dentro de si, e tanta vida naqueles olhos lindos. Passei amá-la assim, sem nem pensar porquê.
E quando me questionei se meu amor era porque ela gerava um sobrinho, pensei que pode ser sim, mas só uma parte, ou só um facilitador para que eu veja a Ju e a receba no meu coração de um modo tão natural e forte que é melhor não pensar os porquês, essas coisas não tem tantos porquês.
Agora adoro quando a encontro aqui na casa da minha mãe, quando ela dorme no meu quarto eu acordo de manhã me deparando com ela ao lado, nesse estado de graça e com tanta beleza. Adoro quando, domingo passado, nos deitamos eu, ela e minha irmã no quarto da mamãe para ver televisão pela manhã, protelando a preguiça domingueira.
Adoro o bem que ela faz pro meu irmão. E o bem que os dois trouxeram para minha casa ao trazerem o Gabriel.
Ganhei uma irmã. E uma irmã que amo muito mesmo, como que se tivéssemos vivido a infância juntas, ainda que isso seja uma fantasia.
Bom isso, antes tinha uma, agora tenho duas!

Para sair dançando

Essa é para sair dançando. Fico doida para mostrar para os meus colegas europeus!

25 agosto, 2008

Estômago

Que delícia o filme Estômago ! Adoro essas idéias aparentemente simples que se desdobram e se revelam em um roteiro super interessante, comandados por um "puta" ator como o João Miguel. Desculpe a rudeza do palavrão, mas tem horas que só o palavrão para expressar um trabalho tão legal como o dele. Acho ótimo quando o cinema nacional sai das favelas e do sertão. Nada contra essas temáticas, aliás gosto de vários dos filmes rodados nesses cenários, mas é muito bom ver histórias que podem ser contadas em qualquer lugar do mundo, e por qualquer lugar do mundo, produzidas e criadas no Brasil

23 agosto, 2008

Aqueles Dois

Hoje vi um espetáculo que me disse sobre o encontro de duas almas especiais em um deserto de almas sem almas. Não vou me esquecer disso, nem do encontro que eles me proporcionaram, nem dos meus encontros que me fizeram lembrar. O Leo ao lado, amigos nus no palco. A nudez que se pede a um ator, que pode estar de calças ou sem elas.
Achei bonito demais.
Saí com as mãos quentes e os ossos formigando.
"Aqueles Dois", da Luna Lunera foram os condutores dessa experiência gostosa.
Deserto de almas sem almas...duas almas especiais...

22 agosto, 2008

Renovação

O Gabriel, meu sobrinho, está prestes a nascer. A Ju tá com um barrigão enorme, e ele está forte e grande. O médico disse que até semana que vem ela deve estar entrando em trabalho de parto.
O pai é o João.
Eu me lembro que sentia a mesma ansiedade antes do João nascer. Pedi para mamãe adiantar. E acabou que foi adiantado. Acho que o Gabriel também vai se acelerar.

O cheiro das roupinhas do Gabriel é o mesmo das que esperavam a chegada do João guardadas na cômoda, que enchiam minha boca d'água para brincar de bonecas. Hoje as roupinhas do Gabriel enchem minha boca d'água para ter o meu.

Quando o João nasceu matei aula escrevi uma redação. Quando Gabriel nascer vou estar de férias, vou chorar e tentar desabafar algumas palavras.

O laço roxo

Me lembro como se fosse hoje. Aquele laço rechonchudo,de colocar no cabelo. Estava posto sob a mesa da diretoria, as professoras separavam os pacotinhos de surpresinha para a festa junina da escola. Não sei ao certo a minha atitude, mas sei que espreitei em silêncio esse laço. Já era essa Julieta...querendo e mostrando querer coisas;
Sei que a festa junina aconteceu, e jamais esqueceria a alegria que me acometeu ao abrir o pacote de "surpresinha" com aquele enorme laço roxo!! Enorme. Por muitos anos acreditei que havia sido um golpe de sorte do destino, demorei a perceber que era simplesmente o efeito dos meus olhinhos persuasivos e "pidões".

Sempre gostei de laços grandes, usava por muito tempo e sempre, o laço de fita que vinha nas flores. Deitada da minha cama o observava na estante, com um enorme desejo de pendurá-lo no meu cabelo, essa imagem eu também guardo muito forte, a imagem e o sentimento do desejo, talvez começasse a chamá-lo assim por essa época. Ninguém me disse que gostar de laços era coisa de menina, eu simplesmente o era em exagero. Mamãe me chamava de viúva porsina e papai de penélope charmosa. Para mim, sempre uma dose a mais de cada coisa, parece que nasci querendo o a mais.

Estrelas no pé

Ontem ganhei uma linda galocha preta de estrelas coloridas. Presente da mamãe, que está super entusiasmada em me presentear. A galocha é linda, segundo ela para encher minha vida com mais "estrelas!". É ótima para as chuvas de Londres, para colorir a "produção", e controversa para o conservadorismo mineiro. "Gente do céu" tem conservadorismo aqui viu...

20 agosto, 2008

Eu ando pelo mundo

Ainda me lembro do corpo estirado no banco detrás do carro. Eu, aos 20 anos. O bairro Mangabeiras em Belo Horizonte, todo o corpo em ressaca, sabe-se lá se somente de alcool ou se também da busca por mim mesma. E essa música tocou no rádio. Ouvindo, pensei, meu deus! Sou eu! E me emocionei. Foi um encontro, e um primeiro entendimento da minha sensibilidade que desde criança me devora e me fez insana por alguns anos da minha vida.
Ainda sou a que a música canta. Ainda vejo tudo assim, em quadros, em filmes, em cores. Mas agora quando acordo tem alguém ao lado, alguém que vê tudo assim também e deixa tantas pinturas tão calmas.

Matéria

Eu achei que casar fosse também receber várias caixas embrulhadas em casa. Contidas de copos, taças, pratos e panelas. Não chegaram tantas até agora. Apenas algumas dignas de preencher um pequeno canto do armário. Antes de não as receber dizia não fazer questão. Continuo não fazendo. Mas algo fica oco, algo que faz com que eu me pergunte intimamente "em que medida isso é não ser querida?", acho que numa medida quase insignificante, de uma representação material. Mas a pergunta existe.

Doces...

Tenho comido muito mais doce que o normal. E é aquela sequência insuportável de comer e arrepender-se e comer novamente. Queria que minha auto estima superasse esse detalhe e soubesse: ok! Nunca fui gorda! Não vai ser agora.
Mas somos mais complicados que as soluções simples e as frases perfeitas.

cantando para os céus

Essa eu canto com as mãos para os céus. Adoro!

Dia

A melancolia sempre me acompanha. Desabafei para o Leo, "estou melancólica", e ele "porque melancólica?", só pude dizer..."acho que sou assim".
Acho que para a melancolia não tem resposta nem razão por isso é tão melancólica...

Hoje descobri que o céu de Belo Horizonte é sempre azul, desde que cheguei não foi cinza uma só vez. Azul de uma imensidão azulada dessas que dá vontade de beber ou mergulhar de cabeça. Que faz a gente começar a pensar sobre o infinito e o calor de Deus.

Fiz luzes no cabelo. Ninguém notou a diferença. Quis que ficasse discreto e ficou a discrição em si. Nada de diferente, a não ser a escova que alisou ainda mais os fios já finos e lisos. E pensar que isso custou dinheiro...

18 agosto, 2008

Brasil

Saindo de São Paulo fomos abordados por um homem que nos pediu dinheiro para comprar macarrão. Não sei se de fato ele queria comprar macarrão, mas sabemos que muitos pratos dessa especialidade ele não comeu, e que com certeza passa fome. Sua cara suja, os pés descalços e um ar intimidador de quem foi criado na rua. Nos dá medo. O coração aperta e bate forte, faz com que seguremos a alça da bolsa para que nosso míseros pertences não sejam furtados. Como somos pequenos. Assassinos e vítimas. E que país é esse, e que seres somos nós capazes de desumanizarmos outros, olhando como bichos, nos tornando escravos do medo. Nós e os que crescem nas ruas padecem do medo, são medos diferentes, mas somos iguais na constituição do corpo e no medo que temos, porque somos homens ainda que finjamos não ser, as vezes, ou que outros não o são.
Mas ainda assim o amor pelo Brasil é mais forte. Somos seres de esperança e poesia. E por isso que choro ao ver esse vídeo.

17 agosto, 2008

Antunes

Ontem fomos assistir ao espetáculo do Antunes Filho, aqui em São Paulo. Senhora dos Afogados, do meu tão admirado Nelson Rodrigues. Sempre gostei muito desse texto. Adoro as "mãos", e senti falta da atriz percebê-las mais na última cena, dada sua importância.
Adoro esse texto, mas não consegui entender porque os atores o dizem daquela forma, uma forma no seu sentido mais sentido de forma, nos fazem entender cada palavra, a projeção é ótima, mas não se comunica com o corpo e chego a percerber que pode ser isso mesmo, de propósito. Uma proposta de distanciamento que funciona em vários momentos, mas em outros nos distancia totalmente. Eu fiquei com muita aflição, muita mesmo, nossa.
Adoro os silêncios da peça. Adoro. Até porque estão embrenhados das palavras de Nelson. Aí começamos a perceber se há razão para aquela voz que não pertence aos atores e muitas vezes nem ao texto, nos faz não pertencer ao universo proposto e aos atores não pertencerem a si próprios.
As maravilhosas palavras de Nelson se fazem belas e intensas nas imagens, muitas muito boas, e no silêncio dos atores, quando eles falam para si em segredo e se olham em cena em suspensão e nos seguram ao palco por sua presença, no silêncio do encontro consigo, com o personagem e com a verdade disso tudo. O espetáculo se deu nesses momentos e se tivesse sido todo encenado por aí não seria nenhum desrespeito ao Nelson por não verbalizar suas palavras, pelo contrário, continuaria a prestar homenagem, assim como já o fez.

15 agosto, 2008

A beleza em meio ao cimento

Aqui em São Paulo a Flavinha e o Gabriel moram no 13 andar. São Paulo está nublado como sempre. E toda vez que estou aqui minha garganta e meu nariz sentem a poluição. Mas isso não diminui a enorme simpatia que tenho pela cidade, adoro São Paulo. E mais ainda a casinha dos dois em Vila Mariana.
Fato é que hoje ao fim do dia uma enorme borboleta veio voar por sobre a jardineira da janela da sala, deu rasantes, bateu as asas, posou nas florzinhas. Fez com que a Flávia se lembrasse que era dia de regá-las!
Tentou por diversas vezes entrar para a sala, batendo suas asas no vidro da janela. Abrimos uma fresta, mas ela nunca acertava. Voava na jardineira e se perdia por entre os prédios, mas sempre voltava e tentava mais uma vez, insistentemente. Até que por um segundo entrou na sala, nos assustando, entrou e satisfeita saiu muito rápido. Sumiu.
Sabe-se lá porque queria tanto entrar aqui. Mas foi bom vê-la em meio a tanto concreto e janela, e foi bom a Flávia lembrar-se de regar as flores.

12 agosto, 2008

Viver

Vida é ver os olhos do meu avô de 93 anos brilharem frente a tela do computador ao assistir ao concerto de 10 tenores.
Eu estirada na cama ao lado, Leo na poltrona.
Desde o dia em que chegamos no Rio ele havia nos pedido que colocássemos para tocar o dvd que meu tio Eduardo havia lhe dado. No último dia, a noite, colocamos.
Ele, sentado, vidrado, se emocionava, enxugava os olhos e dividia conosco sua enorme satisfação: "isso é lindo demais, não é não?".
Ouvir dizer que saber morrer é saber viver. Saber viver para mim é isso. Me emocionar pelos olhos, vitalidade e sensibilidade do meu avô. São as pequenas enormes coisas da vida.

10 agosto, 2008

O Rio de Janeiro continua lindo















Ir ao Rio é sempre muito especial. Ver aquela mata, aquele mar, sentir a maresia, o sshh dos cariocas, abraçar meu avô, rir da minha madrinha, sentir um clima quente de Brasil, que é belo, intenso, intensamente belo. E desigual.
O Rio é violento, mas o sensacionalismo dos jornais cria um pânico que faz com que alguns não apreciem tantas belezas. É bom ficar esperto, e melhor ainda é saber aproveitar essa cidade que, mesmo diante de tanta tragédia, não perde seu charme, de Ipanema a floresta da Tijuca, passando por Santa Tereza e Lapa.
Lindo de morrer! Talvez ainda queira viver por lá em meio a sua efervescência cultural, em alguns de seus recantos inúmeros - pequenas vilas, casebres ou prédios de poucos andares em ruas arborizadas e frescas.
Na casa do meu avô os miquinhos saltaram próximos à beira da janela, carregando filhotinho nas costas e fazendo barulhinhos gostosos. Foi muito bom rever os quadros do meu avô, tomar vinho com minha prima Paula e encher de beijos a Laurinha.
Sim, saibam os que não sabem, ainda não acabaram com os encantos únicos do Rio de Janeiro, ele continua lindo.

04 agosto, 2008

T.U.

Antes de vir para o Rio(onde agora estou) tive um momento delicioso no Pizza Sur, em BH. Regado a vinho, pizza, e T.U.!! Grazi, Simone, Maju, Saulo, Cássia, Joyce, Inês Linke, Linares, Flavinha Brettas...Delícia. Pessoas com gosto de começo, estrada, descoberta e delícias. Foi especial matar saudade, é especial tê-los como parte do meu caminho, ouvi-los ao lembrarem e comentarem sobre o primeiro beijo meu e do Leo, que eles viram, apoiaram e vibraram, do carinho, das desavenças, das loucuras. Foi noite de gargalhadas, abraços e comoções. Me esbaldei e saí com um anel de borboleta no dedo que a linda Grazi tirou da sua mão e me deu dizendo "isso é para que não se esqueça de mim", nunca Grazi!. Como tenho sorte...

31 julho, 2008

30 julho, 2008

Eu

Ando tão nostalgica que tenho quase cheiro de poeira. Fragmentos da minha vida, sem sequência cronologica me invadem subtamente trazendo cheiros, cores e sensações fortes. Muita coisa de muito tempo. Da adolescência, da infância. As cores, os batões de moranguinho, as casas, meus irmãos pequenos, os porres com as amigas, os falsos amores fracassados. Sempre essa sede de viver dez vidas em uma. O Leo saindo do mar em Cumuruxatiba, com uma semana de namoro, e o sentimento de amor intenso encontrado no toque de seus dentes separados, na pele branca e no corpo magro.
Envelhecer.
É...
Os cheiros me invadem. Meu todo. Que mais parece um milhão de partes, mas que se junta no agora.
No agora que vai se casar. Que encontrou sua casa quente.
As lembranças me invadem e me fazem chorar. Mas é por puro amor.

26 julho, 2008

Gentileza

O mundo é uma escola. A vida é um circo. Mas mais importante ainda é o amor e a gentileza. Nesse momento de celebração do meu amor por aquele que é meu companheiro e tanto me ensina sobre tais palavras, nada mais apropriado que essa música, que é bem apropriada para todos nós. No minímo para tentarmos nossos amores gentis todos os dias.

25 julho, 2008

O Buraco

Quando cheguei à casa da minha mãe com malas na mão e respiração ofegante, não pude conter o olhar de impulso para o canto da sala de jantar, ao lado do armário de madeira. Olhei e virei a face num ímpeto de quase dor, ou dor acostumada e disse bem rápido: saudade da Ciça.
Minha cachorrinha morreu um mês antes de me mudar para a Inglaterra, após viver por 13 anos ao meu lado. Para mim era difícil imaginar a minha vida sem ela, pois ela fazia parte de exata metade da minha história.
A Ciça era uma shnauzer cheia de personalidade, doce, linda e cinzinha. Morreu velhinha...
Fechou um ciclo na minha vida e doeu muito. No dia seguinte à sua morte eu caminhei (por coincidência) pela rua em que moramos durante 10 anos de nossas vidas e os 10 primeiros anos da vida dela. O prédio em que morávamos sofria uma reforma nesse dia em que passei, exalando uma enorme fumaça de poeira marrom. Ainda lembro dos meus pés bambeando, de me sentar à porta do prédio vizinho, fechar os olhos e ser tomada pela poeira.
Poeira da vida e dos ciclos que se fecham. Alguns ficam mais no âmbito físico que emocional, pois não pude me acostumar a ausência da Ciça, porque depois de sua morte toda a rotina mudou e tudo era sem ela, sem todo mundo e sem o Brasil.
Agora, a todo momento, a vejo passar, como que em milésimos de segundos. A vejo tomar sol na area de serviço, me receber quando chego da rua e a espreguiçar-se na cama.
Tem certas coisas que a poeira não carrega, talvez só levante e renove, mas não carrega. Fica pra gente, para sempre.

24 julho, 2008

No Brasil...em BH.

Hoje aqui é céu azul de sol morno de inverno brasileiro. Ontem assinei vários papéis como noiva, entramos com o processo civil e religioso. Na igreja juramos aceitar a união indissolúvel e confessamos educar nossos filhos dentro das idéias cristãs. Quando a moça da igreja me perguntou isso minha resposta foi: Claro!
Nada mais lindo que as idéias cristãs.
Meu casamento terá borboletas, será lindo, e me emocionei por assinar papéis. A burocracia conseguiu me tocar. Acho que por conta da beleza do amor entre mim e Leo.
A noite, bar da Dalva, Bossa Nova, vinho tinto e nossa amiga Marina. Como é bom rever amigos...

23 julho, 2008

Rotina

Tarde de domingo. Empacotamos coisas, arrumando cada cantinho especial na mala para cada presente especial. Fomos para porta de casa. A rua já nos é familiar, o cheiro, os sons e as cores da casa soam a nós como rotina. Chegou o taxi. Aeroporto. Zonzeira. O cansaço das últimas semanas e os resquícios da balada de despedida na noite anterior se fazem evidentes nos meus passos pelos tumultuados saguões do aeroporto. Avião. Filme. Viagem. Rio. Meu avô Dobbin, lindo. Belo Horizonte 0ntem. Recepção calorosa, choro e flores. Muitos presentes.

Estamos no Brasil. Ele é a mesma coisa. Não estranhei nada. Tudo igual. Hoje de manhã já me deliciei com a mesa de café da manhã a la hotel da casa da mamãe.
Aqui também tudo tem cheiro de uma certa rotina, ou pelo menos da rotina que um dia foi. O bom é que tem gosto de férias da rotina de lá.