17 agosto, 2008

Antunes

Ontem fomos assistir ao espetáculo do Antunes Filho, aqui em São Paulo. Senhora dos Afogados, do meu tão admirado Nelson Rodrigues. Sempre gostei muito desse texto. Adoro as "mãos", e senti falta da atriz percebê-las mais na última cena, dada sua importância.
Adoro esse texto, mas não consegui entender porque os atores o dizem daquela forma, uma forma no seu sentido mais sentido de forma, nos fazem entender cada palavra, a projeção é ótima, mas não se comunica com o corpo e chego a percerber que pode ser isso mesmo, de propósito. Uma proposta de distanciamento que funciona em vários momentos, mas em outros nos distancia totalmente. Eu fiquei com muita aflição, muita mesmo, nossa.
Adoro os silêncios da peça. Adoro. Até porque estão embrenhados das palavras de Nelson. Aí começamos a perceber se há razão para aquela voz que não pertence aos atores e muitas vezes nem ao texto, nos faz não pertencer ao universo proposto e aos atores não pertencerem a si próprios.
As maravilhosas palavras de Nelson se fazem belas e intensas nas imagens, muitas muito boas, e no silêncio dos atores, quando eles falam para si em segredo e se olham em cena em suspensão e nos seguram ao palco por sua presença, no silêncio do encontro consigo, com o personagem e com a verdade disso tudo. O espetáculo se deu nesses momentos e se tivesse sido todo encenado por aí não seria nenhum desrespeito ao Nelson por não verbalizar suas palavras, pelo contrário, continuaria a prestar homenagem, assim como já o fez.

Nenhum comentário: