21 janeiro, 2014

Napoleão se foi. Mas fica em nós.

Vô querido. "Napo com Leão". De você ficam muitas coisas. Suas sandálias de couro, as visitas ao mercado Central de BH, as ruas de Petrópolis e o momento de nos reunirmos ao fim de um encontro para um retrato. Sempre vou me lembrar de você com sua barba enorme, sua distração maluca e do som de uma gaita que ecoava por um extenso salão de um antigo casino em Petrópolis.
Lembrarei-me de sua fissura por doces, de seus gorros e adereços trazidos das viagens pelo mundo, da sua cabeça aberta e o papo tranquilo para falar das bagunças da vida, de drogas e de ideais comunistas. Da sua bolsa de lado, dos seus relógios antigos, a coleção de filmes raros, os retratos de Che e Fidel e do cuco que saía para fora da casinha e tanto me encantava quando criança.
O senhor não foi um avô comum, foi um avô a frente de tudo. Não ia à missa aos domingos, mas escrevia livros sobre política, carregava ideais de uma revolução. Foi à Cuba e ao mundo todo, desaparecia e depois ressurgia cheio de saudades. Se parecia com meu pai, com meu irmão, gostava de piadas e assobiava baixinho ao fazer palavras cruzadas.
Você não foi um avô comum. E foi meu último avô a deixar esse plano. Como lhe disse no hospital, repito aqui:
Obrigada.
Por fazer parte de algo que sou, do que meus filhos serão. Por me fazer pensar além do ordinário, gostar também de filmes raros e de um bom retrato. Fará falta, claro. Mas que seja azul e lindo onde estás, repleto de amor, memórias, fotografias e uma bela gaita dourada.
Descanse Vô, nós continuamos pelo senhor.