30 dezembro, 2010

2010

2010 foi o ano que fui ao centro da Terra e da terra. Ao mais profundo de mim mesma, que realizei o desejo, antes pensado na escola de teatro em Londres, de descer à raiz da árvore e subi-la devorando-a em sua escência. Foi o ano em que questionei Deus, busquei a mim, e não encontrei respostas, mas a certeza da busca constante por paz. Ano que se fez em mim a vida, que de mim brotou novo ser, Manuela. Ano em que me assumi como mulher e neguei analgésicos para a vida, para meu corpo, para meu parto e para o parto de Manuela. Me rasguei de dentro pra fora e não de fora pra dentro e me vi eterna em dois pequenos olhos rasgados e azuis. Azuis por mistério genético e da vida, brilhantes como sol e doces como a chuva que caiu no dia de seu nascimento.
Esse ano deixei pra trás sonhos individuais, planos profissionais, vi meus amigos colherem lindos frutos após os estudos em Londres e eu, como disse minha mãe, fiz a minha mais perfeita obra de arte.
Para 2011 desejo saltar do alto dessa árvore que subi e engoli ao mesmo tempo, deixar meu corpo no ar, sentir deus nas brisas suaves, no alento do meu marido e nos olhos da minha filha. Filha que me trouxe o budismo, a antroposofia, e eu mesma.
2010: O ano em que fui até a raiz de mim mesma e subi aos céus.
Obrigada Leo, mãe, pai, irmãos, amigos, Daphne, Mariana, sogros, cunhados, todos aqueles que me cercaram de amor, e...
minha linda luz Manuela.

01 dezembro, 2010

o avesso

Quando parimos um ser o nosso corpo vira do avesso, não só se abre mas se contorce e se dobra, mostramos nossas "feiuras", nosso sexo, nosso odor, gritamos muito, mas não de dor, e sim de paixão, porque algo lá embaixo, queima, arde, pulsa, e algo na boca do estômago congela. A barriga se aperta, e seu filho, esse ser que se formou e se fez ser humano dentro de você, te ajuda.Quando sai é um alívio, mas não porque sofria logo antes, mas sim porque algo se concretiza, uma missão se completa. É como passar sim por um portal, chegar à ponta do arco-íris, e lá estava aquele famoso pote de ouro. Esse pote de ouro tem olhos, olhos singulares, e olha tudo ao redor, é escorregadio, é pequeno mas tão humano que sua intensidade pulsa, vibra e enche o espaço, é único.
Minha Manuela olhou tudo ao redor em silêncio e seu olhar...seu olhar era ela. E ela é única. Ali, naquele instante que gritamos e nos apertamos juntas deixamos para sempre de sermos duas em um corpo e nos realizamos dois seres. E ela nasceu aquilo que será até seu último suspiro. O último... O primeiro suspiro, a primeira tragada de ar e o primeiro olhar foram ainda junto ao meu peito, deitada na minha barriga, agora vazia, o avesso novamente escondido, nunca mais esquecido. Ela era única e eu nunca mais a mesma.
O vazio não me torturou, não tive melancolia e confesso uma saudade deliciosa de quando a barriga era pesada, mas senti cada segundo de seu esvaziamento, senti cada pedrinha do caminho rumo ao outro lado do arco íris, fui mulher inteira, em dobro, dobrada, rasgada e aberta mas pura e simplesmente pela força natural do meu corpo.
Hoje a única Manuela se mostra, se revela, tem olhos dourados e abertos, ontem se virou pela primeira vez, não do avesso, ainda não, mas rolou na minha perna e eu aprecio cada momento. Agora que vi meu avesso e me multipliquei digo que posso voar, porque sou feia, inteira e bela. E, não posso deixar de dizer, eterna.

18 outubro, 2010

Menina ruiva

Ainda em Londres eu e Leo fizemos uma brincadeira de descobrir a cara do seu futuro bebê, através de um site da internet. O bebê saiu ruivo e morremos de rir, chamamos o site de picareta!!! Hoje com Manuela e seu cabelo cada vez mais cobre voltamos ao blog onde publicamos as imagens do nosso futuro filho, as fotos sumiram mas vale a pena relembrar pelos comentários. A vida é muito engraçada e geramos sim uma filhinha ruiva e ainda de olhos claros!
London Log: Protótipo

15 outubro, 2010

Números e sorrisos

Minha pequenina nasceu de 41 semanas e um dia. E desde já me ensinou que com ela (e com a vida) pressa e ansiedade não resolvem, nem funcionam. Com uma semana de vida seu umbigo caiu, rápido demais segundo "especialistas". E agora com um mês já acorda com um sorriso largo que parece devorar o mundo, um sorriso sincero e delicioso, olha nos olhos meus e do Leo e diz em alto e bom som: anguuuuuuuu! Seguido de vários outros sons.
Engordou 800 gramas em 20 dias e cresceu cinco centímetros em um mês. Mama muito. Alguns dias é o dia do soninho outros do peito. E assim eu paro o meu mundo e meu relógio para ela se deliciar, se acalmar, se deleitar. Mama um tanto, cochila e retoma,e eu aqui olhando seus olhos profundos. Me afogando no seu sorriso enorme e constante, feliz de vê-la com um olhar seguro e tranquilo, tudo que sempre quis nessa vida...
Ah minha Manuela quero afogar me todas as manhãs na sua gargalhada doce e mágica...

Budismo

Após longos anos de vida encontrei um religião que me cativa e que acredito, e que agora pratico.Fico feliz. Sentia essa necessidade pela minha filha e acho que chegarei a lugares mais belos encontrando comigo mesma, de forma mais profunda, através do Budismo e da meditação.
E coloco aqui esse artigo, pra dividir.

28 setembro, 2010

Descobrindo

Daqui do sofá vejo Manuela dormir no seu carrinho. Do meu angulo só vejo seus pequenos pés, um com meia e outro sem, se esticarem durante seu sonho.
Hoje pela primeira vez ela viu a chuva. A levei pra varanda e lá ela arregalou os olhos que brilhavam de encantamento. Assim, encantada, ficou por vários e vários minutos. Nos sentamos lá e em silêncio contemplamos essa descoberta.
Seus silêncios são profundos e preenchidos por um entusiasmo de uma alma que vibra, pulsa, salta aos olhos amendoados e brilhantes. Dizem que ela não enxerga direito, e talvez tenha que acreditar, mas me recuso a dizer que na sua percepção única ela não percebe intensamente todo o mundo ao seu redor. No meu colo passeia pela casa e observa cada detalhe atentamente,muitas vezes isso a faz parar de chorar, querer peito ou soluçar, e em seu quarto, ah em seu quarto ela se entrega, sente cada coisa com o corpo todo, guiado por um olhar que não pára e não perde nada, cada presente, cada detalhe e lá é o melhor lugar que quer estar.
Manuela começa a viver e já vive com todos seus sentidos.
E eu, eu vivo junto, revivo com ela, renasço.

11 setembro, 2010

Breve relato

Lá se iam meses sem chuva nessa cidade. Quando na madrugada do dia 8 de setembro abrimos a janela e o cheiro de mato molhado invadiu a sala. Entre uma contração e outra sorri, eu e Leo nos abraçamos.
Foram 6 horas em casa, com dores, no chuveiro, escorada na parede recebendo massagens do meu marido lindo. Sentada na bola de pilates meditava, sorria e respirava a cada cólica intensa. Depois foram mais 6 horas no hospital. Na suíte parto, com a presença fundamental de duas mulheres doces doulas, Mariana e Daphne, que massageavam, agarravam minha mão, sussurravam ao meu ouvido, e a constante presença olhar sereno e lindo de Leonardo.
Ás 15h do dia 8 de Setembro de 2010 a linda Manuela veio ao mundo, a cada grito de força que eu soltava seu pai me dizia com a voz doce e baixa: amor, ela ta começando a aparecer, amor, nossa filha, amor, apareceu, nossa filha, amor, ela tá chegando.
E isso me fazia gritar ainda mais, sentindo cada contração uterina, seu corpo descer, o meu se abrir, quando de repente ela saiu e lá estava eu deitada na cama, me joguei da posição de cócoras para o colchão sem saber como, mas lá estava ela, ensanguentada e com seu cordão ainda vibrante a pulsar. Se agarrou ao meu peito após o Leo cortar seu cordão, e por aqui está até agora, mamando sem parar.
Hoje sou a mulher mais feliz do mundo e escreverei ainda um relato mais detalhado, dessa jornada que foi o parto de Manuela, após o qual me tornei plena e babona, me tornei Mãe e eterna.

31 agosto, 2010

31 de Agosto

Antes de engravidar sonhei que entrava em profundezas subterraneas, sonho muito estranho, e depois em outra parte do mesmo sonho escrevia em cartolinas enormes a data 31 de Agosto.
Fiquei super encucada com o que poderia ser, pesquisei essa data em diferentes calendários, sem encontrar nada de relevante. Então, após comentar com algumas pessoas meu estranhamento com tal sonho, deixei estar.
Alguns meses depois engravidei; e quando fechou a conta pelo último ciclo a minha data provável deu exatamente o dia 31 de Agosto. O dia em que fecharia a 40 semana da gestação, o nono mês. O ultra veio confirmar tal data, uma vez que deu uma diferença de apenas dois dias, e isso, para os médicos, não é considerada diferença relevante.
De lá pra cá experenciei a intensidade de se estar grávida. Pesquisei e li muito, vi vários vídeos.Optei decididamente pelo parto natural, ou seja, o parto em que meu corpo faz todo o trabalho, com o mínimo de recursos médicos. Conheci uma doula, uma mulher que me acompanhará durante todo o trabalho, conhecedora de posições e respirações para acalmar as dores. E ela se tornou muito mais que uma acompanhante de parto, muitas vezes uma confidente. Tive chá de bençãos para o parto com direito a escalda pés, massagem e orações. Rodeada de amigas queridas, da minha mãe e da minha sogra.
Ontem, 30 de Agosto, eu e meu marido nos enlaçamos em abraços, nos sentimos, dançamos pele a pele, nos beijamos por minutos seguidos, um beijo quente, como há algum tempo não parávamos pra fazer. Foi lindo e profundo. Foi uma noite linda.
Hoje acordei e nada.Estamos na metade do dia, e a ansiedade começa a bater em meu peito. Saí andando, subindo a contorno,vim pra casa da minha mãe. No caminho segurava minha barriga, abraçando-a, agarrando minha filha, dizendo-lhe que o tempo é um mistério, amando-a.
Sim, agora sou efetivamente a mulher que espera no meu conto. Esperando.Sentando-me frente à chuva e o vento, ao sol que nasce e se põe, tentando curvar-me frente a isso e aceitando a navegação do universo, que não controlo, apenas estimulo pelo desejo.
Será que será hoje?

23 julho, 2010

Gestação

Ser mãe é algo que sempre fez parte de mim, digo, o desejo de ser mãe, o instinto de ser mãe, o imaginar ser mãe. Fui dessas crianças que adorava bonecas, que as adotava como filha para levar pra passear, dar comida, trocar de roupa, arrumar o cabelo. Brinquei de boneca até onde deu, quando a adolescência chegou me devorando com dúvidas e novas curiosidades.
Chegando agora a 35° semana de gravidez, aos 29 anos, me pego nostalgica já retomando esse processo intenso que se findará em algumas semanas com a chegada da minha tão amada e esperada filha Manuela. E é curioso ver como a vida é realmente sempre diferente do que nossa mente cria. A gravidez não é (ou pelo menos pra mim não é) um processo mágico de contos de fadas. Ela traz muita, muita coisa para nós e nesses meses todos de gestação ficamos de certa forma à deriva, sujeitos a novas surpresas a qualquer momento.
Engravidei do amor da minha vida, que também sempre quis ser pai, não foi uma gravidez planejada, mas sempre muito desejada, temos todo o apoio da família e dos amigos,etc. Então pude me deleitar com pequenos prazeres de se estar grávida, e confesso que agora, pra mim, é a melhor fase, tanto que me surpreendo pensando, nossa ela vai nascer e vai ser maravilhoso, mas como vou viver sem esses chutes gostosos dentro de mim???
Foi um longo caminho até aqui. De enjoos que me deixavam sem fala e ação, de uma mudança abrupta e gradual no meu corpo, de expectativas, sonhos e noites não dormidas (desde já), de mudança de cidade, de montar casa nova, repensar todos os planos, vê-la pela primeira vez em um ultrasom e desfazer-me em lágrimas, tardes inteiras de solidão, leituras, muitas leituras, budismo, massagem, meditação e agora plano de parto natural, humanizado.
Desde a descoberta da gravidez até aqui foi uma vida, a vida dela que se formou aqui dentro e a minha que se refez, e, falo pelo Leo, a dele também. Perdemos muitos queridos, minha vó morreu quando eu engravidei, a do Leo logo depois, a minha tia se foi, muitos amigos se casaram, Leo tomou decisões profissionais importantes, eu adiei as minhas para ser exclusivamente mãe, e assim em meio a um tornado de hormônios, mudanças e esperanças nos aproximamos cada vez mais do grande dia. O dia em que renasceremos.
Todo esse caminho foi composto de pequenas e grandes mortes, para que, em breve, renasçamos. Eu, Leo e Manuela.
E mais do que isso, Rosâni, Edmar, Izabel, Haroldo e tantos outros. Iremos todos renascer. Nos veremos mais uma vez por Manuela, e nos revisitaremos em nossa história. Por 35 semans esse coraçãozinho tem pulsado intensamente dentro de mim, ritmando minha rotina, meu amor e minha vida e em breve serão seus olhos que nos reapresentarão o mundo.
Não se trata mais de fazer trancinhas em uma boneca e levá-la à praça, nem de fantasiar enjoos e expectativas como sonhos (tão cheios de frufrus e delícias). Trata-se de sentir intensamente o doce e amargo de tudo isso e saber que essa mistura gestacional é fundamental para que se recrie tudo dentro de mim. Agora eu sei, estou pronta. Estou pronta pra entrar naquela maternidade e sentir cada contração e ajudar esse ser humano a sair de mim para ver seus olhos, sentir seu cheiro e caminhar com ela.
Manuela meu amor, sua mãe já te ama loucamente e está pronta para renascer com seu nascimento. Que venha com muita saúde.E do jeito que você quer. Vamos descer então para este lugar onde tudo recomeça.

15 julho, 2010

flutuando

Tenho me ausentado daqui demais. Eu sei. Mas é que nunca estive dessa forma. Não estou fazendo nada e ao mesmo tempo sempre ocupada, ocupada sem ações. São esse chutes o dia todo na minha barriga, essa cosquinha deliciosa, a marca do pézinho por dentro da minha pele, esse pulsar de vida intenso e gostoso da pequena Manuela dentro de mim.
Estou ausente de tudo e todos, dos amigos, do blog e até os livros estão recebendo doses lentas de leituras. Estou ausente das palavras. Mas é que estou em um estado tão específico que é como se flutuasse entre as coisas e sinto algo que palavras não definem. E acho que não deveriam definir. Então, em breve retornarei.

21 junho, 2010

Manuela a caminho

Manuela meu amor você tem feito sua mãe olhar para dentro de si. A cada chute seu que ritma ansiedade, expectativa e muito amor eu entendo um pouco mais essa missão de gerar um ser humano, de trazer ao mundo mais uma semente de transformação. Conversamos muito e tenho certeza que me escuta, e assim divido com você tantos pensamentos belos, temerosos,atravessados e abençoados.
Tenho entendido que ser mãe é um processo, que se inicia no desejo e vai se concretizando aos poucos dentro de mim, hoje já consigo fechar os olhos e imaginar seu corpinho envergado na minha barriga, talvez de ponta cabeça, a reagir às minhas reações, ao toque de algumas pessoas, tentando se acomodar nesse espaço quentinho que a cada dia se torna menor. Em breve você sofrerá sua primeira grande revolução que é nascer, sair desse ninho acolhedor para um mundo de luzes e sons, com vacinas, roupas, e mamadas que precisam ser berradas e pedidas (prometo não lhe faltar meu amor), e ao pensar em tudo isso me estremeço e fortaleço. Me fortaleço para te embalar nos meus braços cheios de amor, para olhar fundo nos seus olhos, segurar na ponta dos seus pequenos dedinhos e te confortar de todo e qualquer desconforto que tanta novidade possa lhe provocar.
Tenho lido sobre o Budismo e me identificado muito, quero saber mais e mais para podermos conversar, para dizer-lhe sobre o que acredito, e mostrar o que grandes pensadores como Buda dizem sobre nós humanos e sobre a natureza que nos cerca e nos pertence, assim como a ela pertencemos.Tenho buscado a meditação e as práticas budistas para, quem sabe, fazermos juntas, mas principalmente para você entender dos bons pensamentos e escolher seus caminhos, descobrir sua fé e, muito mais que isso, sua prática diária de amor.
Já estamos na contagem regressiva para sentir seu cheiro, aos poucos seu quarto ganha corpo e tons de lilás, a cor da calma e espiritualidade. E entre tantas, inúmeras e infindáveis expectativas só posso dizer que a maior delas e a de que você venha perfeita e saudável.
Então cá estou eu tentando tornar-me um ser melhor, motivação que sempre carreguei, mas que ao carregar-te dentro de mim transformou-se em minha principal meta de vida. Ser melhor a cada dia, para o mundo, e muito, muito, para você minha pequena.

07 maio, 2010

Minha filha

Sonhei pela primeira vez com a Manuela. Sonhei com ela mesmo, vendo seu rosto, a vendo inteira. Seus cabelos eram da cor dos meus quando pequena, cor de caramelo. Lisinhos,fininhos e curtos.Ela era muito risonha, uma menina alegre. Vestia rosa claro e mamava no meu seio. Cantarolava pra ela: Se essa rua, se essa rua, fosse minha...
E depois a música do Chico: Agora eu era herói e meu cavalo só falava inglês...E num surrealismo mágico, que só pertence aos sonhos, era como se ela cantasse comigo essa música. Cantávamos juntas e depois ela, bebê e de rosa, dormia.
Foi lindo.

05 maio, 2010

Ofício

Lembro me sempre da última noite junto aos colegas de escola em Londres. Que a cada abraço carinhoso, além de um adeus recebi vários estimulos elogiosos ao meu trabalho de atriz, todos eles muito empolgantes. Vários mesmo, praticamente todos que me abraçaram tinha algo elogioso a dizer sobre meu trabalho de atriz. Isso dá confiança, né? Mas uma pessoa me marcou, foi o Steve. Ele me pegou pelo braço e disse: você tem que ser vista!

Hoje, após Londres, estou aqui escrevendo um projeto, para quem sabe ser aprovado e quem sabe ter a verba para o espetáculo. Essa ausência de rotina e salário, o produtor que ligou pediu foto e desapareceu, a produtora que mandou email pediu material em vídeo e sumiu, os agentes que sequer leram meu email. Ligo a televisão e vejo uma maioria de trabalhos mediocres, a desligo. E volto aos meus projetos, lentos, mas amados.
A frase do Steve é o motor. O motor dessa profissão tão incerta que tanta gente vê tanto como uma não profissão. "Eu tenho que ser vista". E mais do que isso tenho que fazer e dizer. Essa é minha vocação. Então, a frase besta do colega é a luz lá no fim, desse ócio estranho e por ora estagnado e mais uma vez traz as angústias de um dia ter feito a escolha: sou atriz; e agora?

27 abril, 2010

Coincidência???

Em Outubro de 2009 sonhei que escrevia em várias folhas de papel a data: 31 de Agosto. Acordei encucada, afinal como que se sonha com algo tão preciso como uma data, com direito a dia e mês? Pesquisei coisas na internet e nada achei.
Dois meses e pouco depois engravidei e ao me deparar com o calendário lá estava: fecho meu 9 mês precisamente no dia: 31 de Agosto. De 2010. Nem um dia antes. Nem um dia depois. Dia 31 de Agosto é 40 semana da minha gestação. Pode ser que venha antes ou depois mas de todo modo é ali, naquele dia que se fecha o ciclo completo de formação do bebê dentro de mim.
Depois disso, antes de saber o sexo do bebê sonhei que falava com uma amiga: Minha filha é Manuela. O bonito nome até então não era cogitado por mim e Leo. Mas depois do sonho percebemos o quão bonito era e o colocamos na lista, junto a outras possibilidades de nome de mulher. Fizemos um sorteio. Saiu Manuela. Não contestamos. Não poderíamos. E afinal de contas Manuela é lindo. É música, é doce.
A gravidez seguiu e comecei a ganhar casaco cor de rosa de uma amiga, macacão de borboleta de outra e ninguém havia dito que era menina ainda. Ou melhor, nenhum médico ou exame. Fora isso todo mundo só dizia isso. É menina, é menina. No final já até me divertia, perguntando até pra desconhecidos: o que você acha que é?Só pra ouvir a mesma resposta: menina! A prima do Leo sonhou que era menina, o Diego meu amigo sonhou que era menina, e minha sogra, sua avó, um dia antes do ultrassom que desvendaria esse "mistério" também teve esse sonho.
Não preciso dizer né. É menina, é Manuela e nascerá não sei quando, estou com 5 meses, mas fecha o nono mês no dia 31 de Agosto.
Deus segura essa menina porque ela avisou que vinha, que era mulher e ainda escolheu seu nome!!! Deve ser da pavirada essa minha filhota!

09 abril, 2010

Manuela, fico feliz

Há dois dias descobri que você é uma menina. E já me deleito com os aromas de sua feminilidade que virá.

Fico feliz filha de saber que talvez você se identifique com a poesia de Clarice Lispector, que se deleite com paixões platônicas que irão lhe prostar frente ao nada navegando em um mundo de sonhos de amores perfeitos. Que irá pensar em colorir as unhas, pintar os lábios, em ser sedutora, em ser protetora.

Fico feliz de você ter o pai que tem e saber que crescerá não só cercada de amor mas também de muita sensibilidade, pois você vem de uma mãe tão sensível e transbordante de emoções que chega a ser até demais, mas mais que isso você vem de um pai delicado, doce, gentil, sutil, e que nos entende muito meu amor. Ele sabe do nosso universo e saberá sempre respeitar esse mundo seu, tão feminino e complexo, como só nós mulheres sabemos ser.

Fico também feliz de você chegar em um momento em que a mulher é dona de suas decisões no mundo, é independente, e se utiliza daquela dita "fragilidade" apenas com um charme para adocicar sua enorme força. Me tranquiliza saber que você terá espaço nesse mundo para se posicionar e ser mulher o quanto quiser. Agradeçamos à nossas avós, aos que antes de nós começaram a abrir esse caminho.
Seu nome veio de uma intuição, veio de sonho e sorteio e não sei se foi escolhido por você, mas de verdade só foi simplesmente aceito por nós. E gostamos porque é doce e é melódico. Ontem seu pai me pegou pelo braço e me mostrou uma linda menina de uns seis anos e me disse: acho que a Manuela vai ter aquele cabelo.
Já começamos a te imaginar. Sem contudo querer definir quem você será, para isso queremos a doce surpresa dos dias, que você se descubra e se revele a nós a cada dia da sua existência e nós estaremos aqui, para te aceitar da forma única que você virá, te respeitar e muito, muito te amar.
Ah minha Manuela, nossa Manuela, fico muito feliz com a notícia de que és. E fico feliz com a espera de sua chegada.Se desenvolva com saúde e perfeição e daqui uns meses te envolveremos ainda mais com nosso amor e alegria.

02 abril, 2010

Bach é tão melancólico. E ainda assim me torturo. Repetindo seus sons no meu computador nessa manhã de uma sexta feira da paixão cinza e fresca. Bach me fala de saudade, de dor, de amor e esperança e a ele recorro sempre que quero sentir algo que não tem nome. Forjo a melancolia, deixo os olhos arderem e então vem a minha infância, minha tia, minha casa na Serra de onde ela era vizinha. Procuro Bach para ser melancólica em uma tortura saborosa de sentidos, quando já se entende que a vida necessita da melancolia como tempero suave, ardido e levemente doce. Nos leva a nós mesmos.

27 março, 2010

Tita.

O vento. Minha tia. A morte.

A fragilidade da vida é algo espantoso. Somos seres leves fingindo certo peso, leves pesos a serem carregados pelo vento. Há quem chame Deus, há quem chame destino, eu chamaria vida. Vida que só é vida pela morte, vida que só é vida porque é um instante, um instante que insistimos em fingir ser eterno. Mas a vida é frágil e é instante e é sim, como uma leve pena a ser carregada pelo vento. Presos na nossa impotência de controlar o rumo desse vento deveríamos apenas então abrir os braços e nos jogarmos. Mas inventamos pensar, e inventamos não aceitar que é um instante e muito menos que temos apenas o peso de uma pena frente à potência do universo. Por isso dói tanto a morte. E dói também a morte porque ela vem trazer a tona a idéia de fragilidade da vida, e quando a morte de alguém querido acontece, subitamente um pavor nos toma conta. Pavor de começar a perder todos.
Minha tia morreu hoje. Minha tia Tita, irmã do meu pai. Mãe dos meu primos amados, e como meu avô me disse ao telefone: sua filhinha amada. Medo de perder meu avô na sua dor. Medo de quais rumos o vento vai tomar a carregar nossos leves corpos para esse lugar estranho que é o amanhã. Medo de perder tudo. Consciência da brevidade.

Da minha tia guardo a alegria de viver, sua força, sua luta, seus palavrões, seu amor enorme, por seus filhos, seu pai, seu irmão, seu futuro neto já a caminho, o meu filho dentro da minha barriga, os programas de férias que sempre tinham algo que dava errado, seus comentários deliciosos, seu senso de humor frente às situações mais difíceis e a certeza de que ela sabia desse nosso peso leve. Lembrarei me dela com os braços esticados e o corpo solto à esse vento que nos leva ao desconhecido.
Te amo Tita. E morrerei de saudade.

21 março, 2010

Circunferência

Um lugar no espaço. Um espaço todo meu. Sem precisão de largas extensões. Um lugar sem cor, que nem branco seja. Para que possa pintar de azul bem claro e do vermelho mais intenso. Colorindo com cores contraditórias, fervurantes, vibrantes e mortas. Silencioso. Profundamente silencioso. O silêncio que vem depois da cacofonia. Um eco eterno de pausa silenciosa. Um espaço fechado na circunferência mas com dimensão infinita para o céu. Meu espaço.Ai preciso dessa circunferência. Preciso da nulidade da cor para derramar tanta tinta que ferve no meu sangue pra que evapore por cima do não teto e alcance o infinito. Meu espaço eterno. Quero meu espaço. E quero também o eco do som que me traz o silêncio.

26 fevereiro, 2010

viagem no tempo

Porque tão nostálgica? Pra quê que meu corpo precisa reviver tudo ao ver uma simples imagem?
Aprendi com o tempo a cultivar a nostalgia, a aceita-la em seu sabor amargo e doce que nos traz a noção do tempo. De sua marca. De nossa jornada. Estou mais nostálgica que nunca e forjando a nostalgia muitas vezes, ou deixando que ela me invada, me inunde, me angustie e me deixe um leve sorriso no rosto ao me deixar. São pequenos regressos no tempo, com cheiros e velhas sensações. Londres, Rio, adolescência, infância.
Tudo refletido em pequenas paisagens ou as vezes até mesmo no olhar de um desconhecido no sinal de trânsito. Em pequenas coisas viajo por segundos no tempo, vou até onde posso descobrir que não sou mais a mesma, mas continuo a mesma, e com os braços esticados em um suspiro tento agarrar algo daquela lembrança que me faz o que sou agora, pedir que me deleite por alguns segundos mais, mas não dá. O corpo pede que siga em frente e para a frente se olhe. Aprendi a amar cada instante da vida que já vivi, a esticar os dedos agarrando a nostalgia e assim deixar que ela escorra por entre eles, deixando gostinho de continuar; o agora, antes que seja apenas um segundo de viagem no tempo que não posso mais agarrar, repleto de saudade. A saudade me faz. E é bom.

31 janeiro, 2010

o eterno

Hoje quero inventar uma verdade.

Um lugar azul profundo, silêncio. Onde um casal apaixonado dança abraçado, lentamente e para sempre, matando uma saudade enorme e se amando sem palavras.

Que você Dalva querida esteja repleta de azul e de Iraci e de amor.

28 janeiro, 2010

E fomos morar em BH

"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz
de ficar alegre a mais,
no meio da alegria,
e inda mais alegre
ainda no meio da tristeza!
A vida inventa!
A gente principia as coisas,
no não saber por que,
e desde aí perde o poder de continuação
porque a vida é mutirão de todos,
por todos remexida e temperada.
O mais importante e bonito, do mundo, é isto:
que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando.
Afinam ou desafinam. Verdade maior.
Viver é muito perigoso; e não é não.
Nem sei explicar estas coisas.
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor."

A gente quer passar um rio a nado, e passa:
mas vai dar na outra banda é um ponto muito mais em baixo,
bem diverso do em que primeiro se pensou.
Viver nem não é muito perigoso?
Dói sempre na gente, alguma vez,
todo amor achável,
que algum dia se desprezou...
Qualquer amor já é um pouquinho de saúde,
um descanso na loucura."
Guimarães Rosa- Grande Sertão Veredas

21 janeiro, 2010

A mulher que espera; talvez a chorar flores, com alguns soluços de apreensão. E com o peito cheio de amor apontado para o céu e para o sol.
Faltam 30 semanas para a primeira chegada. Nem sempre espera é angústia.

08 janeiro, 2010

Minha infância

Como me fascinava essa história. Ouvia por horas, sem parar, imaginando São Francisco.