20 dezembro, 2015

Sobre Manuela, um dos presentes que ganhei nessa vida

A menina sentia tudo com todo o corpo e se estremecia da planta dos pés até os seus cabelos. O mundo as vezes era muito para ela, e o grito nem sempre uma solução, mas o único caminho escolhido e possível. Seus cabelos emaranhados mostravam toda sua poesia do sentir e com a palma das mãos apalpava a lama, espremia a terra e catava flores, guardando-as para presentear alguém. Para a mãe pequenos galhos secos, pedrinhas, pedriscos brancos que chamava cristais. Com os olhos amendoados e brilhantes olhava fundo em nossa alma e nos revelava um "amor maior que o universo". Nem sempre os trajes eram a opção mais confortável, embora adorasse saias que rodassem e dessem movimento ao seu constante impulso de rodar, sapatos não eram necessários, apertavam, os pés queriam sentir o chão, se sujar de mundo. E docemente ela nos revelava feliz e intensa, todos os dias. Apenas cinco anos na Terra e já apreendia tanto dos pensares adultos, que lhe provocavam questões, quem é Deus, o que é religião, o que é adoecer. E guardava suas respostas para si. Rapidamente seu astuto pensar já fazia as ligações terrenas com aquilo que ela trouxe consigo de mistério. E no fim se punha novamente a dançar.

22 fevereiro, 2015

A minha carta para Henrique em seu Batismo.

Henrique chegou em um quarto azul. E azul revelaram-se seus olhos. E azul fez-se nossos dias. Henrique chegou e renovou a fé. Simplesmente porque era vida. Porque nos mostra a passagem do tempo e dos dias, com sua chegada e com suas descobertas. Henrique nos mostrou o amor de irmão, ao abrir a boca e encher de beijos sua irmã Manuela, que tão logo lhe retribui o afeto com longas risadas e profundos abraços. Henrique, como todo ser que chega, representa a finitude e o infinito. Me mostra, como mãe e como mulher, que irei envelhecer e morrer, mas que, também, outros seres irão seguir chegando. Com sua presença na Terra mais uma vez reafirmei que uma parte de mim será agora eterna. Henrique recebeu então o nome de seu bisavô, Henry. Nosso Henrique nasceu em casa. Em seu quarto. Na água. E para que nacesse neste lugar foi preciso que entendessemos e confiássemos no poder humano de ser, estar e realizar coisas por sua natureza. Controlamos até certo ponto e depois é só mistério. Então, ele nasceu rápido, num parto silencioso. De olhos fechados chegou na água e de lá foi para os meus braços, o de sua mãe, onde abriu os olhos e chorou o choro da chegada. Então hoje é dia de celebrar, mais uma vez, a renovação da vida; de celebrar o ciclo eterno da chegada, através da presença de nosso amado Henrique. Que você, meu filho, saiba no seu intímo que somos todos um só. E todos significa qualquer força vital deste planeta e do enorme universo. O seu Deus será sempre o que sussurra mais intimamente no interior do seu ser e ele falará mais alto sempre que você conseguir entender sua conexão com todas as coisas ao seu redor e com o que pulsa vibrante e incessante dentro da sua alma. Parece complexo mas se resume apenas em estar aberto para a vida, e em silêncio consigo. Siga seu caminho com saúde e distribua amor e compreensão pelo mundo. Que toda luz deste mundo te guie, e que uma chuva doce lhe faça florescer e crescer a cada nova primavera. Nunca deixe de acreditar. A vida é sim um belo milagre. Muito obrigada a cada um que aqui hoje está, partes deste pequeno ser. Que todos os bons pensamentos sejam poderosas vibrações para o meu, o nosso, o amado Henrique Dobbin Vieira da Cunha.