31 outubro, 2009

leves divagações vãs...pra passar o tempo

Sempre falo só. Principalmente em inglês para não enferrujar; e me surpreendo falando sem pensar, como de improviso, agonias da minha alma. Nem tudo que estamos pensando no exato momento é o que de verdade estamos a pensar. Por isso as vezes solto palavras sem o intuito de provocá-las e espanto me! ok! Não estava a pensar isso, mas estou a sentir. Hoje soltei um: "And I am here waiting..."a vida é a arte do encontro mas também é a arte da espera.
Hoje coloquei biquíni e vestido pro sol e desci para ir ver o mar, mas quando fui fechar a janela para sair, o céu azul havia se encoberto, e já na minha rua choveu.

Depois o céu abriu de novo; mas já tinha tirado o biquíni. Pelo menos agora tenho o cheiro da chuva e por 2 metros ela me molhou.

28 outubro, 2009

quando o poeta fala de ti

Como me conter com Manoel de Barros?

"Nuvens me cruzam de arribação.
Tenho uma dor de concha extraviada.
Uma dor de pedaços que não voltam.
Eu sou muitas pessoas destroçadas...
.....
Diviso ao longe um ombro de barranco.
E encolhidos nas areias uns jaburus.
Chego mais perto e estremeço de espírito.
Enxergo a aldeia dos guanás.
Imbico numa lata enferrujada.
Um sabiá me aleluia"
Manoel de Barros. O livro das Ignorãças

O Lírio

Desde que nos mudamos havia na varanda um vaso com uma planta grande de folhas verdes. E assim ela estava desde sempre, até então. Quando numa noite Leo se deitou a rede para ler, e fui até ele. Quando lá cheguei um perfume havia invadido a varanda, nos viramos para o lado e um lindo, aliás muito mais que um, lindo lírio havia nascido. O descobrimos antes por seu cheiro que por sua forma e sentimos como um abraço de aconchego, amor e esperança. Essa casa agora exala flores.

25 outubro, 2009

Meu teatro

E eis que dei o primeiro passo nessa minha estrada de sol. Paula e eu eu e Paula fundamos agora a companhia. Organizamos nossas bases de pesquisas, que mistura nossas formações (dança e teatro) e decidimos pelo ponto de partida para o primeiro projeto e onde ele estreará. Pronto. Muita coisa e muita determinação e vontade. Temos agora o que é a proposta dessa cia, com o quê queremos trabalhar e pesquisar, pra que público e até de onde partirá o primeiro projeto. Foi linda nossa reunião. E no final celebramos com um poema que a Paula levou e que será nosso lema, e acredito que pode ser de muita gente. Eis a cia Teatro do Silêncio. Eis o lema poema:

Para pintar o retrato de um passáro
Primeiro pintar uma gaiola
Com a porta aberta
Pintar depois
Algo de lindo
Algo de Simples
Algo de Belo
Algo de útil
para o pássaro
Depois pendurar a tela numa árvore
Num jardim
Num bosque
ou numa floresta
esconder-se atrás da árvore
sem nada dizer
sem se mexer
Às vezes o pássaro chega logo
mas pode ser também que leve muitos anos
para se decidir
Não perder a esperança
esperar
esperar se preciso durante anos
a pressa ou a lentidão da chegada do pássaro
com o sucesso do quadro
quando o pássaro chegar
se chegar
guardar o mais profundo silêncio
esperar que o pássaro entre na gaiola
e quando já estiver lá dentro
fechar lentamente a porta com o pincel
depois
apagar uma a uma todas as grades
tendo o cuidado de não tocar numa única pena do pássaro
pintar também a folhagem verde e a frescura do vento
a poeira do sol
e o barulho dos insetos pelo capim no calor do verão
e depois esperar que o pássaro queira cantar
se o pássaro não cantar
mau sinal
sinal de que o quadro é ruim
mas se cantar é bom sinal
sinal de que pode assiná-lo
Então você arranca delicadamente uma das penas do pássaro
e escreve seu nome num canto do quadro.
Jacques Prévert

23 outubro, 2009

Manifesto desesperado de uma atriz em pânico

Por favor não me venham mais vender pacote de vídeo book e foto, não me venham dizer que só fazendo fotos na sua agência é que farei comerciais, não me mostrem mais esses panfletos rídiculos de : seja um ator de verdade venha estudar com a gente! Espalhados aos montes e em pilhas pela cidade. Pelo Amor de Deus não venha me dizer que é uma produtora que torce pelos atores, que quando olha pro currículo e vê que o ator precisa de dinheiro fica torcendo para que grave um bom teste. Se ele for bom vai ser bom o teste. Pelo amor de Deus não quero mais essas caras posadas esses dentes brancos, esse rastejar de joelhos atrás dos produtores de elenco, essa relação de submissão e superioridade entre essas emissoras e os atores e esse desespero de uma nação desesperada por qualquer coisa.
Agora grito aqui, e mesmo estando em silêncio ao redigir tais linhas sinto minha garganta arder porque grito e urro com toda a minha alma:
SOU ATRIZ POR AMOR E POR VOCAÇÃO E POR DESEJO E NÃO O FAÇO POR DINHEIRO MAS PORQUE SE EU NÃO O FIZER NÃO TENHO SALVAÇÃO. NÃO QUERO MAIS VER ESSES PSEUDO ATORES, E NUNCA PENSEI QUE CHEGARIA A TANTO PRECONCEITO. O Rio de Janeiro é uma máquina de fazer da arte um maçaroca capitalista superficial, nojenta e saturada. E tenho dito.
Se você mora no Rio e quer se transformar pelo Teatro, por favor me procure, estou sedenta por isso. E sem dentes brancos e photoshop.

21 outubro, 2009

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Conversa com as estrelas

Pensando seriamente em começar o processo de me eternizar. Quem sabe ano que vem? Será que já tem que começar agora ou dá pra esperar mais um seis meses? O que sei é que ontem sentei-me de frente pro mar e conversando com o céu e sua infinitude que se confunde com a imensidão das águas decidi que está chegando o momento das estrelas se multiplicarem, mas não no céu. Aqui na terra mesmo. Vontade de começar a ser eterna. De alguma forma. E de amar de uma forma diferente. Sim agora a vontade passa a ser madura e não só instinto. É vontade sentida, mas também é vontade pensada.

17 outubro, 2009

Lar

Um cheiro de chuva e frescor invade a minha sala neste momento. Olho pela janela do meu apartamento e avisto essa vista prazeirosa, esses telhados antigos "parisienses" da década de quarenta sob o frame da minha janela de madeira verde. Se perguntassem à minha alma que casa teria minha cara, essa, sem dúvida, seria uma das respostas.

Com a vinda da minha sogra surgiu um novo jeito de prender as cortinas. Não sei se foi ela ou meu sogro, sei que agora elas só ficam assim, amarradas uma em cada lado, como numa casa de bonecas, e eu simplesmente me pego a olha-las por algum tempo, em diferentes momentos do dia, adimirando-as. Um simples par de cortinas, mas que aguça meu amor por minha casa. E tão simples coisa me tirou da depressão.Como adoro, amo, tais cortinas brancas, a vista dos telhados e o barulho da chuva. Enfim, me sinto em casa. Novamente.Graças.

07 outubro, 2009

Missing

Ai me desculpe Rio e suas belezas. Me desculpe Laranjeiras e seu conforto. Me desculpe o Brasil e o calor e o português. Me desculpe meus pais e toda minha familia e meus amigos queridos. Me desculpe principalmente o tempo, esse que, somado a tudo mais que cito acima, me trouxe de volta pra cá e que como numa matemática faz com que essas sejam as razões por estar feliz aqui. Desculpem-me mas sinto uma saudade doida de Londres. Sinto mesmo. E de Istanbul e de Veneza, e de Amsterdã e de Paris e de tudo, tudo, tudo que é e foi Londres pra mim. Tem sido uma digestão difícil essa do tempo. Mesmo com tantas chuvas e sóis. Meu avô tem 94 anos de uma vida saudável e sã e ele me confessou outro dia não ser saudosista. Será esse seu segredo de jovialidade e saúde? Não sei. Só sei que desse mal padeço terrivelmente desde já. Ai, saudade.