31 julho, 2008

30 julho, 2008

Eu

Ando tão nostalgica que tenho quase cheiro de poeira. Fragmentos da minha vida, sem sequência cronologica me invadem subtamente trazendo cheiros, cores e sensações fortes. Muita coisa de muito tempo. Da adolescência, da infância. As cores, os batões de moranguinho, as casas, meus irmãos pequenos, os porres com as amigas, os falsos amores fracassados. Sempre essa sede de viver dez vidas em uma. O Leo saindo do mar em Cumuruxatiba, com uma semana de namoro, e o sentimento de amor intenso encontrado no toque de seus dentes separados, na pele branca e no corpo magro.
Envelhecer.
É...
Os cheiros me invadem. Meu todo. Que mais parece um milhão de partes, mas que se junta no agora.
No agora que vai se casar. Que encontrou sua casa quente.
As lembranças me invadem e me fazem chorar. Mas é por puro amor.

26 julho, 2008

Gentileza

O mundo é uma escola. A vida é um circo. Mas mais importante ainda é o amor e a gentileza. Nesse momento de celebração do meu amor por aquele que é meu companheiro e tanto me ensina sobre tais palavras, nada mais apropriado que essa música, que é bem apropriada para todos nós. No minímo para tentarmos nossos amores gentis todos os dias.

25 julho, 2008

O Buraco

Quando cheguei à casa da minha mãe com malas na mão e respiração ofegante, não pude conter o olhar de impulso para o canto da sala de jantar, ao lado do armário de madeira. Olhei e virei a face num ímpeto de quase dor, ou dor acostumada e disse bem rápido: saudade da Ciça.
Minha cachorrinha morreu um mês antes de me mudar para a Inglaterra, após viver por 13 anos ao meu lado. Para mim era difícil imaginar a minha vida sem ela, pois ela fazia parte de exata metade da minha história.
A Ciça era uma shnauzer cheia de personalidade, doce, linda e cinzinha. Morreu velhinha...
Fechou um ciclo na minha vida e doeu muito. No dia seguinte à sua morte eu caminhei (por coincidência) pela rua em que moramos durante 10 anos de nossas vidas e os 10 primeiros anos da vida dela. O prédio em que morávamos sofria uma reforma nesse dia em que passei, exalando uma enorme fumaça de poeira marrom. Ainda lembro dos meus pés bambeando, de me sentar à porta do prédio vizinho, fechar os olhos e ser tomada pela poeira.
Poeira da vida e dos ciclos que se fecham. Alguns ficam mais no âmbito físico que emocional, pois não pude me acostumar a ausência da Ciça, porque depois de sua morte toda a rotina mudou e tudo era sem ela, sem todo mundo e sem o Brasil.
Agora, a todo momento, a vejo passar, como que em milésimos de segundos. A vejo tomar sol na area de serviço, me receber quando chego da rua e a espreguiçar-se na cama.
Tem certas coisas que a poeira não carrega, talvez só levante e renove, mas não carrega. Fica pra gente, para sempre.

24 julho, 2008

No Brasil...em BH.

Hoje aqui é céu azul de sol morno de inverno brasileiro. Ontem assinei vários papéis como noiva, entramos com o processo civil e religioso. Na igreja juramos aceitar a união indissolúvel e confessamos educar nossos filhos dentro das idéias cristãs. Quando a moça da igreja me perguntou isso minha resposta foi: Claro!
Nada mais lindo que as idéias cristãs.
Meu casamento terá borboletas, será lindo, e me emocionei por assinar papéis. A burocracia conseguiu me tocar. Acho que por conta da beleza do amor entre mim e Leo.
A noite, bar da Dalva, Bossa Nova, vinho tinto e nossa amiga Marina. Como é bom rever amigos...

23 julho, 2008

Rotina

Tarde de domingo. Empacotamos coisas, arrumando cada cantinho especial na mala para cada presente especial. Fomos para porta de casa. A rua já nos é familiar, o cheiro, os sons e as cores da casa soam a nós como rotina. Chegou o taxi. Aeroporto. Zonzeira. O cansaço das últimas semanas e os resquícios da balada de despedida na noite anterior se fazem evidentes nos meus passos pelos tumultuados saguões do aeroporto. Avião. Filme. Viagem. Rio. Meu avô Dobbin, lindo. Belo Horizonte 0ntem. Recepção calorosa, choro e flores. Muitos presentes.

Estamos no Brasil. Ele é a mesma coisa. Não estranhei nada. Tudo igual. Hoje de manhã já me deliciei com a mesa de café da manhã a la hotel da casa da mamãe.
Aqui também tudo tem cheiro de uma certa rotina, ou pelo menos da rotina que um dia foi. O bom é que tem gosto de férias da rotina de lá.

19 julho, 2008

O Tempo e o vento

O tempo. Nunca teremos sua medida. Mas o que fica são imagens, cheiros e sensações. E a nostalgia doída e gostosa do que passa. Meu primeiro ano em Londres, que mais parece 10 e que as vezes mais parece menos de um segundo. Um segundo intenso, como o instante em que se prende o ar para o mergulho. Hoje acordei com as imagens das árvores no caminho a pé para a minha escola, do pub na esquina, dos intervalos regados a chá e conversa, da primeira aula de acrobacia, da máscara neutra, dos primeiros contatos. Do Falafel na hora da fome, das horas intermináveis de ensaio, o inglês, Londres. Londres.

Acabou um ciclo. Amanhã vou ao Brasil. Fico feliz que volto pra cá. E sinto a despedida. Porque vai ser diferente. E já sinto a saudade, desde já.

17 julho, 2008

20 movimentos

Ainda martelam na minha cabeça as palavras dos professores quando terminei de apresentar a coreografia dos 20 movimentos, que cada um de nós apresentou sozinho no espaço.

Ainda me lembro do espaço tremer, do som da minha respiração, da intensidade de cada coisa, do "subir a parede", "lançar do disco". Ora via os olhares de alguns, ora a parede da sala tremendo. Não há como negar que é uma experiência e uma jornada passar por esses 20 movimentos, uma jornada que se mostrou reveladora e propiciou um lindo retorno dos professores a respeito do trabalho de cada um durante o ano.

Palavras essas que martelam na minha cabeça.

Quando terminei, ainda com o sangue quente, vi que o Thomas diretor da escola sorria generosamente, e ao sentar-me em sua frente seu sorriso se abriu ainda mais e disse: Meu Deus quanto senso para o drama! Estamos na América do Sul!

Adorei ouvir isso, confesso que meu peito se estufou de orgulho por ser uma brasileira latino americana, bem misturada.

Disse que eu colori os movimentos, que trouxe imagens para o espaço e que eles viajaram comigo por essas imagens, e que agora teríamos que achar a água para diluir esse "sangue", e que eu sempre fui muito comovente.

Que bonito.

Coisas como,

"você gosta dos grandes desafios, o que lhe parece fácil não lhe interessa",

"vamos encontrar outras cores para contrastar com esse vermelho forte, cores suaves antes de chegar ao vermelho" e

"você muitas vezes não espera terminar um movimento para começar o outro", falam abusrdamente sobre mim. Ando tentando aprender a esperar, para mim tudo tem uma velocidade  e urgência muito grande.

Mas fica a frase do Ilan, "você tira uma energia do chão e a joga para cima, abrindo um espaço de uma maneira tão bonita que me faz pensar: ok, há uma esperança para o mundo".

Fechei meu primeiro ano de Lispa.

15 julho, 2008

Oceano

Ontem eu "entrei no mar", inspirada pelas palavras de Clarice, pela maravilhosa música do La Double Vie de Veronique, e baseada na minha própria história, adentrei em águas profundas que criei no espaço de concreto da sala da minha escola.

E foi lindo.

Por instantes senti realmente o bater das ondas. Não por um transe, pois sabia perfeitamente o que acontecia.

Mas  em uma profunda sensação. Foi lindo mergulhar ali, naquele mar que construí durante todo o ano, naquela sala. Foi lindo, intenso e imensurável como o oceano que vi e senti na apresentação final.


13 julho, 2008

Passion wrapped in plastic

 

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O ponto de partida foi Smithfield Meat Market, um grande mercado de carnes situado no centro de Londres. A princípio o ponto de estímulo para a pesquisa era a carne, e um lugar enorme onde se vende carne. No primeiro dia já descobrimos que a coisa ia além, que o mercado existia há 800 anos e tinha sido palco de grandes execuções públicas, como queima de bruxas na época de inquisição, queima de protestantes, e a tortura e execução do famoso revolucionário William Wallace(que foi personagem do filme Brave Heart)

Depois veio o lugar. Que começa a funcionar às quatro da manhã. É frio, branco, claro e limpíssimo. Um de seus funcionários até disse "mais limpo que um hospital", numa das deliciosas pérolas que aqueles homens naquele ambiente absurdamente masculino disseram, e que, graças a deus, conseguimos levar várias delas para a peça final.

De posters de mulheres nuas, expostos nos shops do mercado e declarações de que alguns frequentavam o clube de striptease vizinho, fomos ao Venus Night Clube. Não para dizer que lá eles vendiam carne, talvez para ver o display dela, mas mais do que isso para entender um universo feminino que tinha direta relação com aquele tão masculino espaço.

Então, finalmente, as 5 da madrugada, no meat market, assisti ao corte de um cordeiro, rodeada de carcaças de carne. Tive diarréia o resto do dia, o cheiro da carne e do sangue grudou no meu nariz. Foi muito forte.

Após tanto frio e calor, tantos músculos, odores e sons escolhemos o tema "paixão embalada em plástico", devido ao meat market ser tão esterelizado, devido a tanta coisa tentando parecer ser, devido...ah...essas coisas não se explica tanto. O tema apareceu e fazia sentido!

No fim de um processo delicioso, levamos ao palco os espaços pesquisados, cumprimos a proposta da escola, respeitamos nós mesmos em nossos diversos interesses e finalizamos com algo que eu ADOREI fazer. Não existe coisa melhor do que estar se divertindo em cena; acho bem bonito a sutileza que encontramos para falar do homem e seus sentimentos. E adorei dizer que no final tudo o que queremos é só um abraço e um pouco de amor.

11 julho, 2008

Away from her

Eu e o Leo vimos um filme lindo há dois dias atrás. Chama-se Away from her. Achei bem sutil e bonito. Mas o que mais encanta e emociona não é a mulher com a tristíssima doença que faz com que nãos nos lembremos nem de nossa face ao espelho, e sim o amor do seu marido por ela. Quanta lição de amor. Um amor generoso, imenso. Muito lindo.

10 julho, 2008

Não entender 2

Dando sequência à série do que não entendo nas barbáries brasileiras, série essa que parece que não terá fim.

Não consigo entender o que leva POLICIAIS a metralharem o carro de uma família e assassinarem um menino de 3 anos de idade, alegando tê-los confundido com bandidos. E ainda fica uma outra pergunta, se fossem os bandidos é ok metralhá-los?

A polícia do Rio já matou esse ano 1.330 pessoas, a da França matou duas, a do Reino Unido também 2 e a de Portugal, por exemplo, matou 1.  (fonte: O Estado de São Paulo) . Vale a pena lembrar ainda que essa comparação é feita entre países e o Rio de Janeiro, somente o Estado. Tem coragem de descobrir os números do país?

09 julho, 2008

Lóri

Clarice mais uma vez têm me tirado o folêgo. Estou mergulhada em um fragmento do "Uma Aprendizagem...", parte essa que pretendo trabalhar na apresentação do meu solo.

O momento em que Lóri entra no mar, em que ela decide ir só para essa aventura como uma missão de coragem, e ao fim encontra-se com os cabelos de náufrago.

Escolhi a música do La Double vie de Veronique ( favorito filme) que é bem forte. Tem hora que a música me engole como as ondas que Clarice descreve para Lóri, e hoje dentro de um ônibus vermelho na chuvosa cidade de Londres chorei ao voltar para casa.

O caminho de Lóri têm sido um caminho similar ao meu nessa terra de ingleses, nesse mundo do meu teatro, do meu corpo, de mim, eu e meu oceano. Eu e a minha coragem de pôr os pés, a alma e o corpo todo no desconhecido, cumprido a missão de coragem de quem o faz sem ao menos se conhecer por completo.

08 julho, 2008

Exausta

Hoje eu cheguei em um estado de cansaço que deu depressão. Olhos pesados, intolerância, uma enorme vontade de chorar. Como se estivesse a segundos de explodir.

Terminei o ensaio do meat market, olhei ao redor, pensei na minha cena solo que tenho que trabalhar, na coreografia dos vinte movimentos, na ajuda que prometi a Alice para o solo dela, na apresentação de Hackney...Ah! Nada disso. Vim para casa. Fazer nada.

Ainda não explodi, acho que preciso das lágrimas para o furacão acalmar, e definitivamente da cama e do colo do Leo. Só. Por um resto de tarde fingir que sou somente eu em um resto de tarde.

Seres políticos

Ontem após a apresentação do que foi um primeiro draft do que vai ser uma final proposta para nossa pesquisa em grupo, uma questão ficou no ar.

Em que medida somos políticos? E em que medida devemos ser?

Particularmente não tenho muito interesse em teatros de protesto e absolutamente ideológicos, mas não consigo me desvencilhar da idéia de que toda poesia é política e que tudo que é produzido como comunicação entre seres é político, e pessoal, a gente não se anula ao criar, pelo contrário, nos ecoamos.

Enfim. Acho que começamos com um tema político, "Paixão embalada em plástico", a pesquisa é no Meat Market ( o maior e mais antigo de Londres) onde só trabalham homens e no clube de strip-tease vizinho, pois descobrimos que os trabalhadores do Meat Market frequentavam.

Concordo com deixarmos questões no ar para a platéia tirar suas conclusões. Mas não dá para não ser político ao transpor para um palco a realidade observada ( por olhos políticos, sempre). Poesia é política. Somos seres políticos

06 julho, 2008

surpresa

Terminei o ensaio hoje e liguei pro Leo, para saber o que fazermos no resto de domingo e ele disse, "você é quem sabe...eu comprei uma garrafa de vinho".

Com a mente cheia e o corpo cansado fui para casa. Cheguei lá havia sim o vinho, tira gostos e uma mensagem na tela do computador, "Feliz dia Nosso!". Eu havia esquecido completamente do aniversário de namoro!

Tomamos toda a garrafa, comemos morango com chocolate, nos beijamos, nos beijamos, nos abraçamos, e ao fim sussurrei ao seu ouvido "sigo com você até o resto da vida".

 Geraldo Azevedo - Dia Branco

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É eu acredito no poder de transposição da arte. Ainda bem.



05 julho, 2008

Não entender

Não consigo entender porque um padre decidiu subir aos céus preso por mil balões de gás hélio. É trágico ( e previsivel) seu desaparecimento, mas não deixa de ter certa cor nessa terrível tragédia, em que um homem tenta voar preso a balões.Esse fato poderia até mesmo virar um poema, e até transcende a poesia de Italo Calvino ao escrever sobre o garoto que nunca mais quis por os pés no chão.

Eu não consigo entender porque membros do exército entregam três inocentes a traficantes. Assim como não entendo tantas barbáries que acontecem no Brasil. Não consigo mas entendo. Quando penso em um contexto  social, que tem uma raiz complexa e um final aparentemente sem solução. Não consigo entender, mas consigo analisar.

Eu não consigo entender o que leva um pai a pegar sua filha, uma criança, e  a atirar pela janela. Que com frieza pega uma tesoura e abre a cerca protetora da janela, a segura pelos braços e a atira no ar. A vê espatifar-se.

Aí quando chego a esse nível de não entendimento é melhor parar. É um entendimento que não é tangível, que não encontra desculpas, mea culpas, senso comum. Não dá para entender, enquanto ser humano, o que leva um pai atirar sua própria filha pela janela.

A realidade do padre transcende a poesia do Calvino, a do tráfico e exército é a realidade dura por si só, e a de Isabella Nardoni transcende a condição humana e consegue anular a existência do amor. Seu pai se revela não humano e vira ficção. Ele não dá para entender.

Bandeira

Ontem foi 4 de Julho. Minha colega norte americana apresentou nossa cena inteira, para a diretora da escola, com a bandeira norte americana enfiada na cabeça.

Marcas

Meu dedão tá torto. Levemente em dor. Levemente em dor. Fraturei na época em que tentava vencer a gravidade e fazer o que era preciso fazer em acrobacia. Agora piso com dor.

Aos poucos as marcas vão aparecendo fisicamente. Tenho uma mancha no meu pulso que queimei ao me jogar no colchão representando uma pintura do Pollock. Na hora não senti e me joguei, me joguei e me joguei. Depois estava em carne viva.

O corpo refletindo os enormes soluços da alma, que gira, gira, sacode e grita. E nunca sou a mesma. Nem mesmo a minha pele.

04 julho, 2008

Presente


 

 

 

 

 

 

 

 

Recebi na tarde da última terça feira uma borboleta de asas flutuantes, como um prendedor de cabelo. Ela é diferente e linda, conforme ando ela se prepara, na minha cabeça, para voar.

Foi presente da Jojoca, minha querida amiga, que também comprou uma para ela, agora temos borboletas irmãs na cabeça, prontas para alcançar as alturas, a balançar suas asas nos nossos cabelos.

03 julho, 2008

A Branca

Muitas vezes sinto falta da minha irmã. E agora, especialmente. É  essa falta que me traz à essas linhas. Sinto falta de ouvir seu ranger de dentes nervosos durante a noite e gritar: Branca! Pára! e ela me responder com um obrigado sonolento.

Sinto a lembrança das noites em que tinha meus pesadelos malucos e que eu a acordava, e então esticavámos as mãos entre as duas camas e nos segurávamos para que eu voltasse a dormir.

Das nossas brincadeiras de escolinha, e do inesquecível momento de alfabetizar a Júlia, senhora que trabalhava na nossa casa e não sabia ler. As brincadeiras de boneca, seu nariz e seus olhos pequenos, seus cabelos lisos, seu jeitinho de falar muitas vezes tão parecido com o meu.

Os dias de favores que ela jamais conseguiu recusar e jamais ocultar o mau humor de não conseguir negá-los.

Sinto falta dos arranca rabos, das roupas alargadas e até do meu boneco preferido que ela cismou ser dela e quebrou.

As vezes penso em ter um filho só, mas quando lembro dos meus irmãos...

A poesia do amor que é da dor

Descobri que era mais poeta do amor entre dois seres antes de encontrá-lo. Depois que o tenho não brinco tanto mais com as palavras nem cuspo dizeres poéticos de uma alma sedenta por um colo quente.

Sempre seremos poetas da busca e da dor. Acho que sempre.

E aí volto a Artaud.

Solidariedade

Uma milionária norte americana com o sugestivo apelido de "rainha do mal" morreu. Em seu testamento deixou 12 milhões de dólares para sua cachorrinha, que carrega o também sugestivo nome de Trouble. O restante de sua fortuna, algo avaliado entre 5 a 8 bilhões de dólares (!!!!) ela destinou para os cães em geral (!!).

Trouble, a cachorrinha milionária, que provavelmente saberá aplicar muito bem seus milhões de dólares, e talvez por sua clara razão e sentimento perceberá quantos seres humanos vivem abaixo da linha de pobreza no mundo, poderá, de repente, dividir os milhões, uma vez que seus gastos são baseados em consultas ao veterinário e ração.

Agora além de cachorrinha com nome de problema, deverá ser cachorrinha administradora de fortuna, um passo bem grande e importante na vida de um cão.

O Voo

Assim como descreve o texto de Clarice, hoje eu cumpri uma missão de coragem. Encarnada em meu jeito Lóri, humana, mulher e medrosa eu decidi entrar no mar.

Após semanas de treinos e lágrimas, de manhãs sofridas no parque vizinho à minha casa, conquistei o Handstand Forward roll, que se traduz por lançar as pernas ao ar, e de ponta cabeça seguir para uma cambalhota.

Para uma pessoa que quando criança não descia em tobogã e tinha medo de cama elástica, esse foi um passo gigante, digno da qualidade de voo.

Os aspectos técnicos ( falhos) provocam frustração, mas agora eu sei que sei ver a grama do parque ao avesso, que tive coragem de ir até o desconhecido e que o fiz ao meu modo em meu tempo. Um voo com a velocidade da conquista de uma coragem, uma coragem única, pessoal e intrasferível, assim como meu medo, só meu.

02 julho, 2008

O que nos pertence

A nossa mente. Somos tão maiores que nós que muitas vezes não controlamos nossa própria mente. Eu, particularmente, tenho mania de tentar simplificar e digo pra mim mesma, ok, você tem o controle. Mas não passa de conversa fiada. Essa coisa da vergonha é um problema sério e ela reside em tantos emaranhados da nossa mente e história de vida que as vezes não encontramos a pontinha que origina essa corda maluca cheia de nós.

Ontem foi a apresentação das máscaras de animais que nós fizemos e eu entrei com as mãos tremendo, e foi notado, claro, até porque eu segurava a máscara ao lado da minha cara, a colocava e tirava. Pronto. Estou sofrendo por isso. Para mim é inadimissivel que me notem nervosa em cena, e ontem foi notado.

Exposição dupla, porque era eu e a máscara que tais mãos trêmulas haviam produzido, para serem postas nessa minha cara quente e vermelha de vergonha.

Tem hora que não tenho dúvidas sobre mim e é ótimo como vou segura para o palco, mas quando as tenho, as mãos trêmulas são vistas. A gente não compra nós mesmos o tempo todo, e nem diz ok pra essa mente que as vezes parece não caber no nome de MINHA.