28 dezembro, 2011

Passou.

Nostálgica. Bom ou ruim sou assim. Cultivo os cheiros, as sensações, as imagens conectadas com algum sentimento que volta por segundos ou milésimos deles. Não saudosista. As vezes. Mas normalmente só nostálgica. Gosto de brincar com a idéia do tempo que pertence à memória e viajar nele. Quantas vezes não o faço ao ninar Manuela. Me deixo navegar por sensações que habitaram minha alma e viajo de volta, e volto para o agora e me divirto. E só vale se for uma viagem natural, em que a mente traz espontaneamente as imagens, as sensações, e por alguns segundos flutuo, mas sempre retorno.
Com Manuela tenho aprendido a exercitar o agora. O agora. Que tantas vezes em meditação procurei, veio de maneira intensa com a minha filha. Esse agora consiste no que foi antes, nessa viagem que flutua pelo tempo mas consiste em essência ao regresso ao agora. Um agora que nos escapa. Um agora que a faz dar saltos de desenvolvimento da noite para o dia. Um agora que me revela de maneira profunda que ela será uma mulher, e eu serei um dia avó, e um dia partirei, como ela partirá. Manuela me trouxe uma dimensão do tempo que já era sabida mas não era reconhecida. O que antes para mim era uma idéia passou a ser sentimento. E pela primeira vez ao navegar no tempo que me habita procuro reflexões de um ano que se acabou e só encontro a ela. A Manuela. Foi um ano que se mistura com o final do outro ano, quando nasceu minha filha, quando nasci mãe. Quando descobri que irei envelhecer, morrer. Quando parei tudo o que dizia respeito a mim para que eu fosse para ela. Então não me encontro nas memórias do ano que passou. Poderia doer. Mas quando faço um esforço, um esforço delicado, a imagem que me invade é a de estarmos subindo a rua, ela no sling, indo ao parque atrás da minha casa, nos deparando com micos, ela brincando em silêncio na areia, olhando profundamente para outras crianças e na volta nos deparamos com uma revoada de papagaios, os saudamos, agradecemos e partimos para casa. Minha garganta seca e meus olhos ardem. Como foram bons esses dias.
Esse foi meu ano de 2011 e é para isso que irei voltar quando quiser, sentada ao sofá, navegar pelo tempo, voltar ao passado, brincar de deus de mim mesma, sentir saudade. A saudade me invade quando penso em Manuela. E só posso ser profundamente grata a isso, e ao tempo que abri em meu corpo, alma e coração TODO para ela. Não poderia ser de outro jeito. Ela está crescendo, e 2011 e AQUELE passeio ao parque só cabem agora na viagem do meu coração.
Obrigada.
E que venha 2012, o agora de mim mesma, com ela, com Leo, com o mundo e com as escolhas corajosas que meu coração faz.