28 março, 2009

A chuva

O som da chuva no telhado. Sinfonia continua que se combina com o estalar suave dos vidros. Seu som não contínuo e seu cheiro fresco no vento, na grama e no asfalto, trazem o silêncio. Mas só a combinação de seus barulhos e odores é capaz disso. Do seu silêncio único. Já experimentou?

27 março, 2009

O sonho da cachoeira

Essa noite sonhei que corria em um campo de terra batida, cercado de verde por todos os lados. Ao meu lado uma amiga, a Alice, ela estava em um cavalo, conversávamos que a idade esta a passar e que estavámos com medo de não termos tempo de conhecermos alguém para termos um filho. Após a caminhada cheguei só a uma cachoeira, repleta de sapos estranhos e pequenos besouros que mergulhavam na água, eu estava só. Havia um tal homem de nome Rodrigo, sabe se lá porque se chamava Rodrigo, porque nem Rodrigo nenhum conheço e Rodrigo nenhum namorei. Sei que falava pra minha mãe que surgiu, como bom sonho, de repente: Olha só! Sempre a mesma coisa, não é com ele que quero ter um filho.
Até que vi um pequeno menino de cabelos castanhos. Uma criança linda. Não consigo agora me lembrar do seu rosto. Ele subia nas pedras e mergulhava nas águas.
Quando um sentimento tão forte, tão forte, me veio de súbito. Era o Leonardo que estava logo a frente do menino que se deliciava nas águas da cachoeira.
E eu disse para minha mãe: Achei! Achei o homem com quem eu quero ter um filho. Falei isso com coração e alma, em um sentimento que ainda agora sinto.
Não sei porque sonhei isso. Nem quero saber. Mas acordei com o seu despertador Leo. Você acordando ao meu lado para ir trabalhar. Que bom que te encontrei.

24 março, 2009

As vezes me sinto assim

"Saudoso ja deste verão que vejo, lágrimas para as flores dele emprego na lembrança invertida de quando hei de perdê-las"

Ricardo Reis ( Fernando Pessoa)

22 março, 2009

Nascer

Entendi a beleza do inverno quando conheci de perto a primavera.

18 março, 2009

Margaridas

Quem explica que assim, de repente, enormes margaridas amarelas apareceram no jardim em frente minha casa. O gramado tão somente verde desde que me mudei está salpicado de flores amarelas, que já nasceram grandes e abertas, ninguém plantou, ninguém regou, e assim, de um dia pro outro ao abrir a janela lá estavam elas!
Quem é que explica a Primavera? E quem ainda duvida da força da natureza? E quem ainda se pergunta qual a medida que fazemos parte dela? As margaridas amarelas que simples e naturalmente se "esticam" ao sol respondem e é uma resposta cheia de mistérios gostosos, porque ainda que a ciência me explique o fênomeno de seu brotar jamais tocará no que significa o ato de abrir a janela e lá estão elas. A ciência traz as lógicas mas nunca os porquês, ainda bem. Nada melhor que sentir e ser surpreendidos por flores amarelas num dia de sol.

16 março, 2009

Domingo de sol

O domingo amanheceu com céu azul, sol alegre. Nem almoço me ocupei de fazer, já logo pela manhã agarrei meu casaco, porque diferente do Brasil aqui muitos dias de sol são frios, e fui para a Columbia Road, para o mercado das flores.
Ao chegar o que me provou que eu estava no endereço certo foi a multidão de pessoas a se espalhar pela avenida central, pelas ruelas, por todos os cantos, todos sem excessão a carregar flores.
A rua foi tomada pelo som da sanfona tocada pelo homem de chapéu furado e pequeno cachorro ao lado. Para banhar se ao sol as pessoas se espalharam pelas calçadas e pelas ruas.
E pelos caminhos e pelos parques o que mais se via, além do sol e do céu e das flores, era gente. Crianças soltas a correr, engatinhando na grama, circo e alegria.
Essa é grande graça do inverno longo e deve ser por isso e pra isso que a natureza o inventou por essas bandas, para que possamos sentir a primavera chegar. A alegria dos contrastes vem sempre com grandes cores, e esse equilíbrio louco é que nos faz sempre repletos de esperança.
Comprei tulipas e um pequeno pé de tomate.

10 março, 2009

Colheita

Nesse desabafo de sentir o tempo confessei a uma amiga que estou iniciando uma leve despedida de Londres, uma vez que esta foi praticamente minha última férias aqui. Confessei a pontadinha no coração que dá, natural quando começa se a descer a ladeira de uma determinada estrada rumo a outro caminho. E ela me respondeu: Que isso Ju, o que te espera é tão bonito. Vai começar a viver!
E nunca tais palavras fizeram tamanho sentido. Não que não viva agora, porque deus meu como vivo. Mas está se encerrando o período de semear certas coisas, um marco no tempo da minha estrada, aquele que anuncia não tão longe a farta colheita.
Obrigada Alice.

O tempo

Estou sentindo o passar do tempo. Eu que sempre tentei entendê-lo e que, mesmo nostalgica, sempre fui fluindo com ele. Eu, que nem 30 anos tenho ainda. Mas sim, tenho sentido o passar do tempo. E isso é uma sensação curiosa, doída, que enche os olhos de lágrimas sem saber exato de que emoção, apenas emoção. O tempo que passa, senti-lo passar nos coloca em lugar diferente que somente vê-lo. Senti-lo é estar no rio que nos leva carregando o peso da água, bebendo-a, não apenas observando ela correr mas sendo ela como um todo, logo não poderia ser sem olhos rasos.

09 março, 2009

8 de Março

Outro dia a Rosâni, minha sogra, pediu me que escrevesse uma frase para o dia internacional das mulheres para ela presentear as colegas da associação que preside com uma flor e com uma palavra. Me senti muito satisfeita com o pedido mas não consegui escrever uma frase, fiz mesmo uma página de texto. Falando dessa nossa sutileza e força e dessa enorme e natural capacidade para o amor. Hoje me emocionei ao ler palavras do mestre Saramago em seu blog, texto esse que ele finaliza bem próximo ao meu.
Feliz 8 de Março a nós todas, ainda que hoje seja já o 9, porque na verdade o dia é só o simbolo de algo muito maior. Leiam o Saramago que fortemente recomendo.

07 março, 2009

Música

A Leca querida indicou e eu adorei! E o vocalista é a cara do Xande Ciolette

6 meses

No dia 6 de Dezembro de 2003 o mundo parou por um segundo para nós. Suspenso em um ar preso por dois lábios que se encostavam, quando, se fadas existem, todas elas de uma só vez rodavam no ar. Momento que o amor se dá. No dia 7 de Setembro de 2008, meus pés vestiram se de salto alto, meu corpo de branco, com direito a véu, a flores. Um dia de céu azul profundo, com um Cristo de braços abertos a nos abençoar. Você estava lindo, com roupa feita sob encomenda. Seu sorriso tímido parecia ainda mais brilhante, nossos olhos se cruzavam a todo instante. Não me lembro de quase nada a não ser cores. Foi numa manhã ensolarada de domingo e por isso as mulheres se vestiram de vestido de flores coloridas, e a igreja foi tomada por muitas cores. Lembro me da escada do lado de fora, das pétalas brancas e das folhas verdes a enfeitar o chão, da carta de São Paulo aos Coríntios, "Pois sem o amor eu nada seria", e das poesias como lembrança, escolhidas uma por uma por nós. Lembro-me do acordeon, do violino, dos simpáticos senhores que andavam pelo salão a tocar. Do choro e da graça da daminha, da simpatia sem igual dos nossos pajens, da Ave Maria lindíssima da sua avó, dos aplausos, do beijo, da chuva surpresa de flores no final, e mais que tudo nesse mundo dos seus olhos quando saímos da igreja. Lembro-me que estavas sem ar, assim como eu também estava. Seguraste o lenço por sobre a boca, por sobre o nariz buscando o oxigênio que naquela profunda emoção nos sumiu. E sem dúvida as fadas dançaram mais uma vez ao redor. Hoje são 6 meses da celebração do matrimônio, quase seis anos daquele beijo na escada do TU e as fadas cá estão sutilmente a bailar.

04 março, 2009

Confissão

Já escrevi aqui que quando criança olhava os grãos de poeira refletidos no sol e acreditava serem fadas. Ainda hoje me divirto com a idéia, e quando a censura de adulto me vem repito para mim: ok, vamos brincar que são fadas, vá! Faça um pedido. E nunca peço nada.
Ainda lembro de mim sentada em frente ao altar em uma igreja em Belo Horizonte, tantas imagens a me olharem e eu nada conseguia pedir. Isso foi no tempo em que ia semanalmente à igreja. Mas só quando ela estava completamente vazia. Escolhia os dias e horários sem missa, em que a igreja estava trancada, janelas cerradas. Pela sacristia eu pedia a chave e eles me davam. No silêncio daquele templo meditava e agradecia. Tinha meus 19. E a igreja era daquelas enormes, com muitos bancos e vitrais. Ainda me lembro que minhas orações eram voltadas muitas vezes para as imagens das janelas,por onde entrava o sol.
No dia em que decidi não fazer primeira comunhão desci para o jardim dessa igreja, o sino tocava e me lembro como se fosse hoje, apesar de ter apenas 10 anos de idade, lembro-me de que conversei com Deus, "Me perdoa, quero conversar com você do meu jeito".
E assim foi.E assim tem sido.
Hoje eu e Leo tivemos um dia lindo. Andamos por Londres, passeamos. Uma neve caiu do céu em uma tarde de sol. Sim tudo isso ao mesmo tempo. O sol e a neve. Descobri que já reconheço a textura da neve quando cai em meus ombros. Até outro dia só conhecia a textura da chuva e o calor do sol.
Agora também conheço a neve. E as vezes consigo vê-la como simples e sutis toques de fada a me acariciar, a molhar os olhos. Em sua brancura fria vejo também um pouco de Deus, e agradeço.

01 março, 2009

Paz Vermelha

Como é bom ter o calor novamente. Calor que esquenta a alma, no roçar delicado das pernas por sob a coberta. No não fazer nada de um sábado a tarde, somente estar em paz. Havia me esquecido da paz do calor. No começo da nossa relação era sempre assim, calor e paz, fícavamos horas na cama aos sábados somente a nos abraçar. E agora repetimos a dose.
A imensidão da vida esta ali, aqui, no calor dos corpos silenciosos que se enconstam. E a energia que os circunda é tão grande que a paz é pintada em cores quentes e vibrantes, não mais somente no branco da tranquilidade. Nesse calor a paz é ainda maior e por isso consegue ser uma paz vibrante, paz absoluta, aquela paz que só o amor é capaz de dar.
Tivesse todo o mundo esse calor. Ninguém teria a disposição de mudar de habitat que não a cama em que os corpos se encostam, e ao invés de violentá-los seria sempre o sutil tocar. Esse tocar que você me traz e que vem com a certeza de que nada vida é tão necessário quanto isso.