04 março, 2009

Confissão

Já escrevi aqui que quando criança olhava os grãos de poeira refletidos no sol e acreditava serem fadas. Ainda hoje me divirto com a idéia, e quando a censura de adulto me vem repito para mim: ok, vamos brincar que são fadas, vá! Faça um pedido. E nunca peço nada.
Ainda lembro de mim sentada em frente ao altar em uma igreja em Belo Horizonte, tantas imagens a me olharem e eu nada conseguia pedir. Isso foi no tempo em que ia semanalmente à igreja. Mas só quando ela estava completamente vazia. Escolhia os dias e horários sem missa, em que a igreja estava trancada, janelas cerradas. Pela sacristia eu pedia a chave e eles me davam. No silêncio daquele templo meditava e agradecia. Tinha meus 19. E a igreja era daquelas enormes, com muitos bancos e vitrais. Ainda me lembro que minhas orações eram voltadas muitas vezes para as imagens das janelas,por onde entrava o sol.
No dia em que decidi não fazer primeira comunhão desci para o jardim dessa igreja, o sino tocava e me lembro como se fosse hoje, apesar de ter apenas 10 anos de idade, lembro-me de que conversei com Deus, "Me perdoa, quero conversar com você do meu jeito".
E assim foi.E assim tem sido.
Hoje eu e Leo tivemos um dia lindo. Andamos por Londres, passeamos. Uma neve caiu do céu em uma tarde de sol. Sim tudo isso ao mesmo tempo. O sol e a neve. Descobri que já reconheço a textura da neve quando cai em meus ombros. Até outro dia só conhecia a textura da chuva e o calor do sol.
Agora também conheço a neve. E as vezes consigo vê-la como simples e sutis toques de fada a me acariciar, a molhar os olhos. Em sua brancura fria vejo também um pouco de Deus, e agradeço.

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