10 março, 2011

Dança da solidão

Acho que todos os que leem o que escrevo podem estar um pouco saturados do quanto tenho dito sobre maternidade. Mas é que desde que me tornei mãe fiz um mergulho profundo na vida. Como se mergulhasse a cada dia um pouco mais fundo em mim mesma e lá do fundo visse o mundo refletido na superfície turva da água. Me vejo como velha em um futuro próximo e eu, que sempre disse não temer a velhice, sinto certo temor. Vejo a minha filha dar saltos de desenvolvimento e vida e isso me mostra e revela, de uma maneira intensa, a brevidade dos instantes e a rapidez que é ser o que somos. Os minutos e segundos giram apressadamente como cronômetro disparado e ao mesmo tempo o tempo se dilata em silêncio a cada passo, a cada descoberta. Depois que virei mulher casada e com filho os amigos se afastaram. Poderia se dizer que afastei me também. Sim, o fiz, de alguma forma o fiz. Seis meses devota à criação, amamentação e ao cuidado delicado e profundo com esse ser que coloquei no mundo. Não me tiro a responsabilidade não me privo esse prazer e, tomara, deixarei uma sementinha transformadora, criativa e corajosa nesse mundo, fruto dessa germinação tranquila que está sendo esse tempo tomado só pra nós. Me afastei mas os amigos também se afastaram. Quase não ligam, não vêm aqui, não têm muita curiosidade em ver o quanto Manuela está linda e esperta,estão bem ocupados com suas vidas atarefadas com trabalho, academia, namorado, etc. No Batismo de Manuela, dia importante, estiveram presentes todos os amigos de infância do Leo, lindo. Alguns amigos especiais meus, mais recentes na minha vida, me presentearam com sua presença, e um certo tanto de especiais bem antigos na minha história não apareceram. Guardei a lembrancinha e o bolinho para a visita logo depois, o bolinho teve que ir pro lixo, velho ficou. Isso me levou a sonhos em que estou só em um restaurante, peço o prato, espero alguém, e ninguém aparece. Foram seis meses da vida da Manuela, uma eternidade para ela que passou de nenenzinha a um bebê que come frutinhas, senta, balbucia novos sons e se move rumo ao que quer em rastejadas rápidas e bonitas. E seis meses de solidão para mim, que pude então viajar ao fundo da minha alma, mergulhar nessa água, ver o mundo lá de dentro e, quando finalmente coloquei a cabeça para respirar lá estavam na beira: Leo com Manu no colo, minha mãe e meu pai de um lado, meus sogros de outro, e atrás toda uma legião de irmãos de sangue e cunhados. Eles estendem o braço com um sorriso largo e sei que é a eles que tenho pro resto da vida.
Por isso darei um irmão a Manuela (daqui a pouco) e espero do fundo do meu coração que ela encontre um amor bonito como o meu e do pai dela. Isso é o que levamos. E aqui fechamos seis meses, de germinação cuidadosa e amorosa, minha pequena me teve por inteiro e sempre me terá.Meus braços se esquentam pras próximas braçadas, voltar a trabalhar, quem sabe ensaiar. Mas o mergulho da solidão, em que me acompanharam os amores mais lindos da minha vida,esse fica pra sempre, como ficará pra Manu sua primeira degustação doce de um mamão, nossas noites coladas e acalentadas, nossas tardes caladas e musicadas e todo esse amor gigantesco que paira sobre o ar da minha casa.