20 dezembro, 2015

Sobre Manuela, um dos presentes que ganhei nessa vida

A menina sentia tudo com todo o corpo e se estremecia da planta dos pés até os seus cabelos. O mundo as vezes era muito para ela, e o grito nem sempre uma solução, mas o único caminho escolhido e possível. Seus cabelos emaranhados mostravam toda sua poesia do sentir e com a palma das mãos apalpava a lama, espremia a terra e catava flores, guardando-as para presentear alguém. Para a mãe pequenos galhos secos, pedrinhas, pedriscos brancos que chamava cristais. Com os olhos amendoados e brilhantes olhava fundo em nossa alma e nos revelava um "amor maior que o universo". Nem sempre os trajes eram a opção mais confortável, embora adorasse saias que rodassem e dessem movimento ao seu constante impulso de rodar, sapatos não eram necessários, apertavam, os pés queriam sentir o chão, se sujar de mundo. E docemente ela nos revelava feliz e intensa, todos os dias. Apenas cinco anos na Terra e já apreendia tanto dos pensares adultos, que lhe provocavam questões, quem é Deus, o que é religião, o que é adoecer. E guardava suas respostas para si. Rapidamente seu astuto pensar já fazia as ligações terrenas com aquilo que ela trouxe consigo de mistério. E no fim se punha novamente a dançar.

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