25 outubro, 2008

Ausência

Saramago em seu livro "O ano da morte de Ricardo Reis" diz que a cura da morte equivale à gestação da vida, que são necessários 9 meses para ambos, para nos formarmos dentro do útero e para a dor da perda se transformar em uma ausência não tão dolorida. Faz essa brincadeira com os números do tempo e com o que poderia ser a ausência e a presença.

Como se a morte fosse dada como um suposto fim somente após 9 meses quando as atividades diárias tomam sua velocidade normal e aquele que se foi fica como lembrança carinhosa de história já contada. 

A dimensão do tempo da dor é algo que me escapa. Assim como a dimensão da ausência.

Como defesa e  egoísmo, pois o somos e de modo nem sempre perjorativo, pisamos no acelerador da rotina e maquiamos a falta que não é ausência até que a dor desapareça e ela se faça de fato.

Eu ainda não tive uma perda muito grande na minha vida. Minhas avós se foram quando eu ainda não conseguia relacionar perda com morte e morte com vida ou o que seja, e me lembro muito pouco de uma delas porque a outra se foi quando eu ainda não existia. 

Mas leio muito o Para Francisco, quero comprar o livro. 

O mundo não pára um só segundo, e não temos a menor condição de pararmos e sentirmos cada perda alheia assim como cada nascimento. Paramos para as tragédias, e todos padecemos das perdas e renascimentos, todos muito próprios e nossos. Mas qual a medida da ausência, o que é senti-la? Quanto tempo será que leva para matarmos uma saudade, ou saudade foi criada para ser eterna?
Seria o silêncio uma saída para a dor ou seria ele uma maneira de senti-la?
Ando percebendo que importamos mais mesmo é para nós mesmos.

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