10 julho, 2009

O redondo

Há três anos atrás eu escrevia sobre uma cidade redonda e criava três personagens.
Há dois anos (quase) vim para Londres. Na mesma época em que criei essa cidade redonda recebi também o convite de vir estudar teatro aqui. A cidade nascia no momento em que a minha própria vida girava, girava ruma ao desconhecido e esse desconhecido foi um mar profundo em que mergulhei até o último fio de cabelo. Moro em Londres mas morei mesmo foi na Lispa, minha escola, pela qual tive que dedicar todos os dias da semana, muitas horas por dia, sendo parte enorme da minha vida.
Foi então que adentrei "florestas, subi montanhas, atravessei rios, vi o por do sol no desertos". Ainda me lembro de um exercício em que a única imagem em que tinha a minha frente era uma enorme árvore da qual fazia parte, e que eu a subia num folêgo só querendo devorá-la pela raiz.
Sim essa sou. Uma devoradora de tudo, sagaz pelas alturas, ansiosa, agitada, mas sobretudo querendo atravessar a terra para comer pela raiz. E esses dois anos de Londres, e, mais que tudo, de Lispa me mostraram isso.
Ontem foi o dia de eu concluir parte importante dessa jornada e foi aí que voltei à cidade. A cidade redonda, aquela que nascia junto com o início dessa viagem. E dei lhe vida, e dei vida aos personagens, apresentando a como meu projeto final na escola. Enchi o palco de simbolismos para cada casa de cada habitante, e narrei os momentos em que ainda a palavra se faz importante.
Foi lindo.
As pessoas adoraram, me abraçaram, se emocionaram. E recebi o último retorno dos professores que elogiaram muitíssimo o texto, as metáforas e muito a minha presença em cena, com ressalvas para o meio da cena, das quais eu tinha plena consciência, afinal, esse é um projeto para ser desenvolvido.
Os três personagens ganharam vida pelas mãos de atores que possuíam grande parte da metáfora que encenavam, como se eu houvesse escrito para eles. E quem sabe não foi...
Acho que não entendemos tanto o quanto giramos e aonde paramos, mas sei que sim, sempre voltamos para começar de novo.
Então, foi lá que comecei algo, na cidade redonda que escrevia e fecho a ponta do círculo a vendo viva e linda no palco, acolhida com amor pela platéia. E agora...
Por ora estou deixando que ela gire assim, em sua velocidade calma, sei que é hora de recomeçar de novo.

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