Vô querido. "Napo com Leão". De você ficam muitas coisas. Suas sandálias de couro, as visitas ao mercado Central de BH, as ruas de Petrópolis e o momento de nos reunirmos ao fim de um encontro para um retrato. Sempre vou me lembrar de você com sua barba enorme, sua distração maluca e do som de uma gaita que ecoava por um extenso salão de um antigo casino em Petrópolis.
Lembrarei-me de sua fissura por doces, de seus gorros e adereços trazidos das viagens pelo mundo, da sua cabeça aberta e o papo tranquilo para falar das bagunças da vida, de drogas e de ideais comunistas. Da sua bolsa de lado, dos seus relógios antigos, a coleção de filmes raros, os retratos de Che e Fidel e do cuco que saía para fora da casinha e tanto me encantava quando criança.
O senhor não foi um avô comum, foi um avô a frente de tudo. Não ia à missa aos domingos, mas escrevia livros sobre política, carregava ideais de uma revolução. Foi à Cuba e ao mundo todo, desaparecia e depois ressurgia cheio de saudades. Se parecia com meu pai, com meu irmão, gostava de piadas e assobiava baixinho ao fazer palavras cruzadas.
Você não foi um avô comum. E foi meu último avô a deixar esse plano. Como lhe disse no hospital, repito aqui:
Obrigada.
Por fazer parte de algo que sou, do que meus filhos serão. Por me fazer pensar além do ordinário, gostar também de filmes raros e de um bom retrato. Fará falta, claro. Mas que seja azul e lindo onde estás, repleto de amor, memórias, fotografias e uma bela gaita dourada.
Descanse Vô, nós continuamos pelo senhor.
21 janeiro, 2014
Assinar:
Postagens (Atom)