03 julho, 2012

Efêmero

Você tirou suas fraldas. Assim, com um ano e 9 meses as arrancou e decretou seu fim. Para isso não fiz nenhum processo nem treinamento, nem tão pouco esperava. Me disseram que seria a partir dos dois. E como todas as belezas da vida acontecem sem data previamente marcada você decidiu que não as queria agora. Usa calcinhas, pouco as molha, já sabe fazer a forcinha pro xixi sair,  ainda não pede, mas tudo indica que em breve, muito em breve, o verbo e o desejo saltarão a boca. E foi doce e sútil. O peito ainda não solta. Agarra, coloca a boca e se distrai por ali. Eu fico exausta. Reclamo. Essa noite por duas horas seguidas sugou deitada por cima da minha barriga. Já elabora frases enormes, raciocínios incríveis, entendimentos completos e as vezes, porque não dizer, precoces. Precoces para regras gerais, mas não pra você. Você que esperou 41 semanas, dois dias e 12 horas de trabalho de parto pra nascer. Não para você que é respeitada no seu tempo. E tanto me ensina. A morte sempre ronda a vida. E nos passa de raspão. Uma mulher um dia se jogou bem perto de mim. Semana seguinte passamos 20 minutos antes em um local que foi palco de uma tragédia de trânsito. Hoje soubemos que o filho da sua médica tirou a própria vida. E você a viver a sua no seu tempo. E eu, entre olheiras e cansaço, vejo uma menina que quer muito meu seio, que dormiu a noite toda agarrada a mim. Então respiro. Te vejo enorme, perfeita e saudável. Deitada na minha cama com calcinha de algodão branco a choramingar meu peito. E lhe dou. E nos agarramos. E eu lhe toco. Sua pele branca, macia. Seus cabelos claros, seus cílios longos, sua boca perfeita e rosada. E agradeço a sua existência. E celebro o encontro das nossas almas que um dia decidiram se fazer carne para viverem juntas por essa passagem pela Terra. E eternizo esse momento. Porque a vida tem me revelado, ao acaso, a morte. E você me revela a vida. Me revela a mim. E me mostra o tempo. E sei que do mesmo modo que arrancou as fraldas um dia vai dizer adeus ao meu seio. Vai abrir a porta de casa e ganhar o mundo. Eu vou envelhecer. Você também. E essa tarde de hoje, você agarrada ao seio aos quase dois anos de idade, esse momento estará somente gravado na alma. Você meu amor não faz nada que não seja ao seu tempo. E eu não quero correr. Mame. Mame muito, o quanto for do seu desejo. Não tenho dúvidas de que seguir o tempo e respeitá-lo é o melhor caminho para se viver. Seu corpo é parte do meu corpo. E você é mais linda revelação da vida, da unicidade e do passageiro. Eterno é somente meu amor desmedido por você.

Um comentário:

Natymeireles disse...

Que lindo, Ju! E é isso mesmo...a morte nos ronda, se faz presente o tempo todo de alguma forma!! Mas a vida...ah, a vida!! Essa, nada discreta atende pelo nome de Manuela, Aninha, Gabriel, Helena, Olívia, Miguel, ou tantos outros!
Deixe-a mamar! Respeite seu tempo, como sempre fez! Amo vocês!